terça-feira, dezembro 30

A trégua e o título

Quem lê o título desta notícia no site do PÚBLICO deve pensar: os malandros são surdos aos desejos de paz do Hamas!

Mas, tendo a paciência de ler até ao 8º parágrafo, descobre-se que quem pediu a trégua a Israel foi a ONU. No mesmo momento em que se sabe que o Irão prepara voluntários para combater em Gaza, ficamos sem saber se a ONU pediu também ao Hamas o fim dos ataques e, se é esse o caso, qual foi a resposta.

Entretanto, sabemos também que o Egipto acusa o Hamas de não ter permitido a utilização da passagem de Rafah entre Gaza e aquele país, aberta no sábado, devido à continuação dos ataques por elementos palestinianos.

As vítimas civis barbaramente chacinadas

sexta-feira, dezembro 26

O Papa, os homens, as mulheres e todos os outros

O Vaticano, e o Papa em pessoa, têm estado nos últimos dias preocupadíssimos com a existência de pessoas homossexuais. Ao ouvi-los, parece que vem aí o fim do mundo, que temos outra ameaça comparável ao alegado aquecimento global, e que se trata de algo tão grave que supera em importância outros males, reais ou imaginários.

Primeiro, a recusa de alinhar na ONU com o projecto de resolução para despenalizar a homossexualidade. Agora, na mensagem de natal à Cúria, Bento XVI vem dizer, com uma subtileza desajeitada, que os comportamentos sexuais que não se encaixam no figurino homem-mulher põem em risco a sobrevivência da espécie.

A posição do Vaticano em relação à proposta de despenalização é chocante. No entanto, nestas andanças de ONU há muita poeira deitada para os olhos de todos. A própria proposta não parece isenta de culpas. Num momento em que actos homossexuais são castigados com a pena de morte em vários países, um texto que nas entrelinhas vai tão longe quanto abrir a porta ao reconhecimento do "casamento gay" padece certamente de falta de bom senso. Por outro lado, se o pressuposto é que os estados não devem meter-se na vida sexual dos indivíduos, é incompreensível que a proposta tivesse um carácter tão polarizado e fosse clamorosamente omissa sobre a punição (por vezes também com a morte) do adultério (exceptuando, claro, o adultério gay). Talvez porque já se sabe que a ONU, quando tem de escolher entre "direitos humanos" e "sharia", tem preferências nítidas.

O discurso recente do Papa é mais problemático. Provavelmente, a sua tirada etológica é das mais infelizes que já proferiu. Um homem que nos habituou a um certo rigor intelectual aparece agora a fazer afirmações que roçam o disparate primário.

Bento XVI tem-se assumido como um lutador contra certo discurso politicamente correcto que se apoia nos neo-"saberes" pós modernos, e em particular nas teorias de "género". No assunto em questão, a razão que o acompanha quando desdenha as invenções de género fabricadas pelos académicos, logo lhe foge ao recusar-se a olhar para a realidade. Os académicos naõ inventaram nada, de facto, que não estivesse já incluído na imensa fábrica de Deus. Eles querem classificar tudo, para além do masculino e feminino tradicionais, em quatro letrinhas apenas (LGBT). O Papa prefere apenas as duas categorias mais evidentes. Neste particular, o Papa subestima o gosto de Deus pela complexidade e pelo não óbvio. Ora há de certeza mais do que seis sexos, até porque é necessário incluir também a auto-mutilação sexual a que se costuma chamar abstinência. As ciências biológicas e sociais não dão, por enquanto, respostas satisfatórias para o papel da diversidade das inclinações e práticas sexuais, mas o facto é que elas sempre existiram, parecem em grande medida independentes de vontades individuais, e não vão desaparecer por invocação de uma escritura sagrada qualquer. Por muito que custe a Bento XVI, os gays parecem mais reais do que Deus. O Papa certamente nem ignora certas histórias sobre pinguins .

Recusando a evidência biológica ao mesmo tempo que tenta invocar uma biologia supostamente simples, o Papa, como outros líderes de grupos religiosos, assume um papel corrector (biológico?) de natureza voluntarista, atacando o indivíduo em nome da espécie, e tentando, desesperada e inutilmente, minimizar a grande ironia praticada por Deus ao expôr o sexo como puro prazer com fins diferentes dos da reprodução.


APÊNDICE:

O discurso do Papa em 22 de Dezembro está aqui.

Já agora, do pouco que se vai sabendo, eis alguns destaques soltos:

1. Wilson and Rahman, "Born Gay: The Psychobiology of Sexual Orientation", 2005. Os autores sublinham que a investigação no sentido de identificar factores psico-sociais no desenvolvimento da orientação sexual tem resultados praticamente nulos. Põem a ênfase nos resultados mais fiáveis onde se considera o papel da genética, da evolução, das hormonas, da ordem de nascimento, da neurobiologia e do desenvolvimento infantil.

2. Savin-Williams and Ream, Prevalence and Stability of Sexual Orientation Components During Adolescence and Young Adulthood, Arch. Sex. Behav. (2007), 385-394: estudo do predomínio e estabilidade de uma dada orientação sexual, distinguindo "atracção romântica" pelo mesmo sexo e "comportamento não heterossexual". A predominância da não-heterossexualidade depende do sexo biológico e é mais alta nas mulheres e também quando se considera exclusivamente a "atracção romântica". Existe migração ao longo do tempo de entre comportamento e atracção pelo mesmo sexo e comportamento e atracção pelo sexo oposto (em ambos os sentidos). A estabilidade é maior no caso de comportamento e atracção heterossexual. A instabilidade do comportamento e atracção homossexual põe em causa dados da investigação nesta área. A análise dos dados levanta questões críticas como: o comportamento ou a simples atracção de tipo homossexual com qualquer grau de relevo deve ser classificado como não-heterossexualidade? Em que grau se deve manifestar determinado tipo de inclinação para classificar os tipos de orientação sexual? A resposta à pergunta "quantos gays existem?" depende da componente em foco (comportamento, atracção, identidade) e do sexo biológico.

3. Gobrodgge et al, Homosexual Mating Preferences from an Evolutionary Perspective: Sexual Selection Theory Revisited, Arch. Sex. Behav. (2007), 717-723: comparando as preferências etárias de homens heterossexuais e homens homossexuais na procura de parceiros quer para sexo esporádico, quer para relações longas, não se encontraram diferenças significativas, invalidando determinadas conjecturas baseadas na teoria da selecção natural.

SMS natal

De vez em quando perde-se um telemóvel, e com ele os números da agenda. Nada que cause muita preocupação: os contactos frequentes recuperam-se rapidamente porque nos ligam, e os menos frequentes recuperam-se pelos sms de natal. É até divertido o jogo: como normalmente não são assinados, é através do texto e dos seus detalhes semânticos que somos levados a reconstruir o contacto. Mesmo assim nem tudo é fácil. Mensagens como "Um natal o mais possível encantador e cheio de felicidades" pode ser enviado, até por engano, por um espectro de pessoas que vai de ex-amantes, fiéis e infiéis, até antigos colegas de escola, passando pelo médico que nos diagnosticou uma alergia rara e, a bem das estatísticas, tenta saber se ainda estamos vivos. Quando a mensagem termina enviando beijos, a classificação fica facilitada. Se afirma "tenho-me lembrado muito em ti e vou tentar ver-te em breve" o mais certo é não ser para nós. Mas pelo sim pelo não, fica sempre bem responder "também me tenho lembrado às vezes, mas não queria incomodar porque sei que tens a vida muito ocupada." Na ausência de réplica ao fim de 24 horas, espera-se até ao natal seguinte.

domingo, dezembro 14

Em Kazerun, no domingo passado

A execução de um condenado por homicídio termina com epílogo doce, no dizer da informação da IRNA, agência oficial iraniana. O homem foi enforcado só durante uns minutos, e baixado ainda vivo, embora com danos irreversíveis no cérebro e na coluna. Os familiares da vítima do condenado podem decidir o perdão já com este a ser executado, ficando habilitados à indemnização com o chamado "dinheiro de sangue", e foi o que sucedeu neste caso.

Tanto quanto sei, na Europa o caso apenas foi noticiado no Corriere della Sera.

Música para os ouvidos do rei

O rei Abdullah, esse grande lutador pela liberdade religiosa e a tolerância para com o Islão, acaba de propor a construção de uma grande mesquita em Moscovo.


Na "Europa" (com aspas no sentido que lhes dá V.P. Valente) o número de mesquitas ameaça crecer como cogumelos, levando já a protestos locais, mas conta com a bênção da própria Igreja Católica. A resposta russa tem um tom diferente e tem coragem de tocar o óbvio: o duplo critério e a hipocrisia do lado saudita. Escreve a União dos Cidadãos Ortodoxos:


You often say that Islam is a religion of justice. However, if Saudi Arabia builds mosques in dozens of Christian countries, isn't it just to build a church for Christians living in Your Kingdom! Perhaps, Chairman of the Pontifical Council for Interreligious Dialogue Jean-Louis Cardinal Tauran was right when he said that "if Muslims believe it right to have a great striking mosque in Rome, than it is right for Christians to build a church in Riyadh!"

Deve ser uma questão de dias até sabermos que a grande basílica de Riade vem aí.

segunda-feira, dezembro 8

SMS

Todos os SMS de amor são ridículos.
Então deve ter sido assim: um dia, acordar e preparar-se para sair, John Haynes apercebe-se de um telemóvel esquecido na cómoda pequena do quarto de dormir. Não é Nokya, não, surpresa. Só pode ser de Alyona. Ela ainda dorme, John pressiona as teclas, incrédulo, um pânico ligeiro nasce-lhe na garganta e encorpa à medida que vê no pequeno ecran

Messaging
Inbox(0)
Ronaldo
Do you miss me baby? I miss you.

Depois percorre o resto da Inbox. São centenas de mensagens com o mesmo remetente. Como é que ela pode andar enrolada com um gajo destes, que escreve como um miúdo de sete anos, pensa. Mentirosa! Devia vir com um daqueles avisos como os maços de cigarros, "esta cabra pode por-lhe os cornos".

John, que se surpreende com estas coisas, poderá pensar por um breve instante que valia a pena ser traído se o outro forse alguém que escrevesse pérolas como:

Passeio pelo quarto evitando que o olhar abranja a cadeira onde te sentaste, a pequena peça Vista Alegre onde colocaste as pulseiras antes de fazermos amor. Todos os objectos me falam da tua partida e do absurdo da nossa separação. Mas mesmo sem os olhar os vejo: faltam-me as forças, caio no sofá de pele grená onde ainda há menos de duas horas me estendias os braços e me puxavas para ti. Não consigo lá ficar, levanto-me ; assim, em cada instante há um dos inúmeros "eus" que me compõem que ignora ainda a tua partida e a quem é necessário ensiná-la...*

Bom, um momento de reflexão basta para ver que um texto assim não cabe num sms. E afinal, na sua desarmante simplicidade, os sms de Ronaldo superam a qualidade de muitas falas de novelas da TVI, por exemplo:

Salomé, eu ainda não descobri o que é que tu me andas a esconder

ou

Dá um recado à tua amiga quando a vires: diz-lhe que eu vou encontrá-la nem que seja no fim do mundo

ou este espantoso trecho de diálogo

-Aposto que ela inventou esta história para ficar a sós com o amante. Se calhar nem foi para Lisboa...

-Ela tem de ser confrontada com isso.

Até a nível de enredo a mini estorinha de Haynes, Ronaldo e Alyona é mais subtil que as novelas da ficção corrente: parece que Alyona mentiu simultaneamente ao marido e ao amante.

*adaptado livremente de M. Proust.

domingo, novembro 23

Quem governa?

Que proposta de avaliação irão os sindicatos de professores dar à luz? Já que afirmam pretender que a avaliação seja focada na vertente científico-pedagógica estou cheio de curiosidade por ouvi-los confirmar que estão de acordo com um exame de acesso à profissão. Pretendem ainda que a avaliação seja aplicada apenas aos professores em vias de progredir na carreira: coisa arriscada esta de evitar a avaliação dos que regridem na carreira.

Seja como for, eu no lugar do Mário teria cuidado com a linguagem: se a descrição da novíssima proposta precisar de recorrer aos estranhos vocábulos de estimação da 5 de Outubro - ficha, grelha, portefólio - as tensões continuarão de pé. Mas o que acho estranho nesta história é o à-vontade com que se acha que os sindicatos estão no seu lugar certo ao virem elaborar propostas de avaliação. Os críticos dizem mesmo "ah e tal mas não apresentaram ainda nenhuma proposta..." Ora, fazer propostas de avaliação compete exclusivamente ao governo e ao ministério da educação: é para isso que os elegemos e são pagos. Se a proposta actual é má, é a ministra que tem que apresentar outra. É a ministra que tem que perceber que há pessoal lunático dentro do seu ministério e fazer-se aconselhar por pessoas competentes. Se não, por este andar mais vale fechar o ministério e deixar aos sindicatos ou a comissões ad-hoc o trabalho de governar. Qualquer dia temos aí os sindicatos a delinear os programas escolares. Aliás, não sei se isso não começou já, pelo menos nos pontos de vista sobre educação para a cidadania, causas da pobreza ou da guerra que são transmitidos em certas disciplinas.

quarta-feira, novembro 19

Assim vai o Mundo

Entretidos a discutir as ironias sérias de Manuela, estamos a perder o que realmente interessa: Franco morreu!

É verdade. Está assim removido o espectro que pairava sobre a democracia no país ao lado. (Bem, as notícias são omissas sobre se Santiago Carrillo ou a Pasionária estão vivos.) A descoberta deve-se à aturada investigação do juiz Baltazar Garzón. O homem ficou tão aliviado ao dar como provado o falecimento do ditador que até pediu uma bolsa de estúpido para prosseguir investigações em Paris. O ingrato Conselho Geral do Poder Judicial recusou-lhe a autorização de viagem. Até quando teremos de esperar para ver Napoleão em tribunal?

segunda-feira, novembro 17

Ovos em alta

O Ministério da Educação "corrige" o estatuto do aluno. Realmente, não fazia sentido que, sendo toda a avaliação de alunos a fingir, as provas de recuperação tivessem algum efeito e consequência. Com o despacho que hoje entra em vigor, o mal entendido fica sanado. As provas de recuperação devem a partir de agora ser simplesmente aquilo que lhes compete: mais uns papéis, grelhas e fichas para ocupação dos tempos dos professores entre os momentos normais de avaliação.

segunda-feira, novembro 10

A desilusão dos ateus

Enquanto a Paddy Power abriu apostas de que a curto prazo se vão encontrar provas científicas da existência de Deus, há gente amargurada com a crendice e a fé dos seus semelhantes (salvo seja). Para lutar contra a ignorância - ou, quem sabe mesmo, a estupidez geral - Richard Dawkins é um empenhadíssimo apoiante da original campanha publicitária que vai ser lançada no Reino Unido: faixas em autocarros com a frase Provavelmente não há Deus, por isso deixe de se preocupar e viva a sua vida.

Dawkins está convencido de que a campanha ateísta vai fazer as pessoas pensar. Para Dawkins, uma funcionária da British Airways despedida por usar crucifixo ao peito tem a cara mais estúpida que já viu.

Confesso que já não viajo ao Reino Unido há uns anos e por isso tenho dificuldade em compreender a luta de Dawkins. Imagino que actualmente não se deve poder atravessar uma rua sem ser interrompido por uma procissão e incomodado pelo cheiro a incenso. E provavelmente em cada esquina onde havia um pub há agora uma igreja, tendo o heavy metal e o punk dado lugar a cânticos e orações.

Não, se fosse assim já se sabia. Estou muito desiludido com Dawkins. Primeiro, nem lhe passa pela cabeça que muitos ficarão ainda mais preocupados com a possibilidade de Deus não existir. Até Saramago, a quem o problema de Deus também muito importa, é muito mais razoável sobre a matéria: apesar de ter a certeza de que ninguém faz nascer o Sol cada dia e a Lua cada noite, o escritor reconhece a dificuldade que os próprios ateus têm em arrancar Deus de dentro das nossas cabeças.

O escritor é neste ponto mais lúcido do que o cientista. Ele quase toca no ponto que é verdadeiramente relevante e que é mascarado pelas ambiguidades do significado de "existir".
Eu dou um exemplo: os números 1, 2, 3, 0,823, -3,14159 ... existem? Talvez a Paddy Power abra apostas de que alguém vai encontrar no mundo real, finalmente, a base dos logaritmos neperianos, o Pi ou mesmo o número 5. Mas do que não há dúvida é de que os números têm sentido para nós. Conseguimos comunicar ideias e regras que os envolvem, e com isso fazer cálculos para viajar até à lua ou para construir o computador em que teclo. Há, incorporado em nós, um software próprio para isso. Então, existir dentro das nossas cabeças não é já um grau de existência bastante?
Provavelmente temos também um software para comunicar sobre Deus. E o resultado é visível em séculos de história.

Quanto à campanha dos autocarros, e tratando-se do Reino Unido em 2008, julgo que só por distracção não foi previsto traduzir a pequena frase em árabe.

sábado, novembro 8

Rossio, 8 de novembro






Nas televisões e nos jornais, para além das reacções da ministra, que seguem o manual de procedimentos para enfrentamentos deste tipo, sucedem-se as dos oportunistas de todos os partidos (PS incluído) a lamentarem o estado do ensino e o infeliz modelo de avaliação. A inefável Ana, os beatos Bernardino e Francisco, os revolucionários Jerónimo e Manuel, mais uma figura pardacenta do PSD cujo nome não recordo... todos de repente têm pena dos professores. Sereias cantantes à caça de futuros votos, parece que ninguém tem nada a ver com o estado de coisas a que se chegou.
Afirma Francisco, por exemplo, que o que é preciso é melhores métodos pedagógicos (...) [e] melhorar a qualidade de cada escola fixando objectivos. Genial! Já tínhamos alguma vez ouvido isto?
A escola das FGRR (fichas-grelhas-relatórios-reuniões) não nasceu com Maria de Lurdes: todos os que agora carpem incentivaram, no governo ou através do seu apoio ideológico, a escola das FGRR. Chamando-lhe inclusiva e outros nomes, o que sempre tiveram em vista foi fingir que os alunos eram avaliados ao mesmo tempo que se caminhava para o sucesso obrigatório. A actual ministra apenas aperfeiçoou o método das FGRR para fingir que avalia os professores ao mesmo tempo que lhes torna o sucesso (para não dizer a vida) quase impossível.

Não podem, não

Grande consternação assola as hostes de apoiantes gueis de Barak Obama. Em consequência da grande mobilização para as urnas, a Califórnia, o Arizona e a Flórida aprovaram resoluções que vão impossibilitar o casamento de pessoas do mesmo sexo.

O choque é tanto maior quanto parece saber-se que foram minorias, uma das quais muito acarinhada, que contribuiram decisivamente para para o resultado: negros, mormons e católicos.

Sintoma de que se trata de algo completamente inesperado é que até Madonna, essa influente pensadora de reconhecidos méritos, se mostrou colhida de surpresa: "é uma vergonha que os EEUU possam pôr um negro na Casa Branca ao mesmo tempo que não permitem o casamento guei". (A redacção da notícia é muito cuidadosa: ao citar Madonna em discurso directo escreve afro-americano e não negro.)

Madonna é o símbolo vivo da distracção universal. Já devia ter reparado que Obama não é bem um negro, mas sim um jovem bonito e bronzeado - coisa tão notória que até os homens disso se apercebem. Daqui a 4 ou 8 anos ainda podemos ouvi-la dizer escandalizada: "agora que os EEUU puseram na Casa Branca um homem completamente negro e abertamente devoto do islão, acabam por ilegalizar as relações homossexuais! é uma vergonha."

quinta-feira, novembro 6

Vitória de Obama esvazia sentido da vida dos seus apoiantes

Epílogo numa história de diploma falso

O parlamento iraniano confirmou há dois dias a destituição do ministro do Interior Ali Kordan, que mentiu sobre as suas habilitações apresentando um falso diploma da Universidade de Oxford. O caso afecta politicamente o presidente Ahmadinejad, que tentou suster a acção do parlamento, e inspirou anedotas que circulam por e-mail e SMS no Irão. Kordanizar é o neologismo que significa obter um doutoramento sem licenciatura, ou receber um grau falso de uma universidade de prestígio.

segunda-feira, novembro 3

Aisha no EL PAÍS

Faz hoje uma semana que na Somália foi executada por apedrejamento até à morte, após sentença de um tribunal islâmico, uma rapariga de nome Aisha Ibrahim Dhuhulow. As primeiras notícias referiram que Aisha tinha 24 anos e fora condenada por adultério. No editorial do PÚBLICO de ontem referia-se esta notícia do El PAÍS de 1 de Novembro, onde se pode ler que o horror não ficava por aqui. Não só Aisha fora violada, acabando por ser enganada e acusada pelos violadores, como não tinha 24 mas sim 13 anos. A Amnesty International fez eco do mesmo facto. Os pormenores estão no EL PAÍS e causam calafrios.

Mas há algo mais de sinistramente interessante na notícia. Após a descrição dos factos, o jornal quer enquadrá-los para os seus leitores e acrescenta:

No es, curiosamente, en el Corán donde se incluye a la lapidación como castigo. No hay ni una sola palabra sobre ello. Sí se recoge en la Biblia, en el Deuteronomio, heredada de la tradición judía y reservada, entre otra, a las adúlteras. "Quien esté libre de pecado que tire la primera piedra", son palabras atribuidas a Jesús de Nazaret, ante el caso de una mujer adúltera a la que se quiere lapidar. Y es que los que tiraban la primera piedra eran los acusadores. Si se descubría -tarde- que el condenado era inocente, podían entonces culpar a los acusadores no sólo de perjurio, sino también de asesinato.
Una práctica, la lapidación, rechazada por muchos musulmanes que recuerdan que se instituyó pocas décadas después de la muerte del profeta Mahoma, por el segundo califa del Islam, cuando la propagación del Hadith (tradición oral que narraba las gestas del profeta) fue sancionada por el Estado.


A cobertura dos factos pelo EL PAÍS parece exemplar, mas este comentário é sintomático do enviesamento de um certo jornalismo "progressista". Acabamos por descobrir que é na Bíblia, e não no Corão, que se ordena a lapidação das mulheres adúlteras! Como se as leis do Hadith não fossem parte integrante das práticas islâmicas, a ponto de estarem integradas no código penal de vários países, sendo aplicadas ainda hoje! Não só na selvajaria da Somália actual, mas também na Arábia Saudita e no Irão, onde os amigos de Zapatero (e do nosso Sampaio) na Alianza de Civilizaciones ainda não se deixaram seduzir pela permissividade ocidental. Assim, parece que ainda há muitos muçulmanos que não se chocam com a prática da lapidação.

O jornal devia ter incluido exemplos de lapidação de adúlteras em países de tradição cristã.

A desonestidade intelectual destes "progres" vai ao ponto de distorcerem o sentido das "palabras atribuidas a Jesús de Nazaret", como se elas fossem o incentivo ao castigo e não à sua suspensão e ao perdão. O redactor do EL PAÍS conhecerá muito do Corão, que tanto se empenha em defender e desculpar, mas não leu João 8, 1-11.

sexta-feira, outubro 31

Menção

No Perspectivas, este insignificante blog foi mencionado para o Thinking Blogger Award:



Agradecendo a referência, e dando seguimento às regras do jogo, aqui vão as minhas cinco menções para o prémio:

Esmaltes e Joias Galo Verde The Reference Frame La Libertad y la Ley

terça-feira, outubro 28

A ministra, os professores e os seus equívocos

Está posto no YouTube um vídeo razoavelmente engraçado com o título "A ministra e a manif" (http://www.youtube.com/watch?v=CcEPYAGWH0Q). O autor pegou num excerto de um filme recente sobre Hitler e legendou-o com alguma inspiração. Tem piada quando, por exemplo, a personagem-ministra revela que estava nos seus planos obrigar os professores a fazer comida para as criancinhas e têm piada também as referências a sindicatos e a umas tantas figuras pardacentas do ministério.

O final, porém, é desastroso. A personagem-ministra desespera, irritadíssima com o programa que os professores querem contrapôr. Grita qualquer coisa como: "Que é isso de ensino gratuito, universal e de qualidade?"

O autor do video -- como certamente muitos professores -- engana-se a si próprio quando pensa que esse programa "alternativo" irritaria a ministra. O programa só é alternativo na aparência: as palavras de ordem que o constituem podem repescar-se no agit-prop de qualquer bloco da esquerda. E, já agora, da chamada direita também. A ministra subscrevê-las-ia sem esforço. Os autores do video, e muitos outros, não se dão conta da vacuidade daqueles chavões e, pior do que isso, de que aquela escola já existe e é a que têm. Gratuita: claro, paga com impostos. Universal: sem dúvida! até lhe chamam inclusiva na linguagem pomposa do eduquês. De qualidade: claro, é a escola do sucesso obrigatório e outra coisa não mostram as recentes "melhorias" estatísticas. Só que a realidade é bem diferente das promessas e das palavras. A realidade é o inferno que experimentam no dia a dia.

Quando será que os professores deixam de subscrever sem crítica as receitas dos vendedores de ilusões?

A escola exclusiva

Ainda nao foi desta, mas o Chicago Board of Education mantém a intenção de criar uma escola para crianças homossexuais. A intenção é tão boa como as outras que enchem o inferno: proteger essas crianças do assédio e ataques de que são vítimas. Mas nem todos os pais estão de acordo: Kathy Reese, uma mãe revoltada com a iniciativa, afirma que as crianças não sabem ler nem escrever porque os responsáveis as utilizam com fins de agenda política. O mayor Daley achou bem travar o projecto, até ver.


A proposta veio de Arne Duncan, esperto em educação do CPS (Chicago Public Schools). Mas Daley mostra-se céptico, e há quem levante outras questões: se o problema é o bullying, porque não uma escola para os "bullies"?


Trata-se de uma notícia sem importância, provavelmente. Ou talvez não: é um pequeno sinal de como os Estados Unidos (e o ocidente) podem estar a mudar por força de uma vaga ideológica que condiciona o pensamento e a visão do mundo do cidadão comum.

Curiosidade: o CPS, em que o terrorista e professor de educação William Ayers gastou milhões de dólares não há muitos anos atrás, pelos vistos ficou mal reformado. Provavelmente porque os milhões foram investidos em activismo político e não em educação.

sexta-feira, outubro 24

Catequização para a Cidadania

A Educação para a Cidadania já é, em Espanha, uma disciplina tão obrigatória como a matemática ou a aprendizagem da língua. Um grande número de encarregados de educação tem procurado opor-se-lhe sem grande sucesso. Ainda hoje o La Razón noticia que famílias espanholas, residentes em Portugal, viram recusados pedidos de dispensa da disciplina para os adolescentes a seu cargo que aqui estudam num colégio espanhol.

Quem aderiu com entusiasmo à nova campanha de doutrinação foram os sindicatos espanhóis, que se têm dedicado a produzir materiais "didácticos". Não admira: isso dá trabalho a uns quantos amigalhaços "especialistas" em "cidadania" e, dada a obrigatoriedade da matéria, deve render milhões.

No manual Mi Escuela y el Mundo, solidaridad, educación en valores y ciudadanía, editado pela UGT (secção Ensino) e destinado a crianças dos 6 aos 11 anos, pode ler-se:

En África conviven distintas religiones como el Islam -una religión de paz- y el Animismo. En cada rincón de África, en las ciudades, la selva o el desierto hay escuelas para los niños y las niñas.
Los europeos quisieron hacerse con estos tesoros (oro, marfil…). ¡Y no se les ocurrió nada mejor que robarlos y hacer prisioneras a las personas, convirtiéndolas en esclavos y llevándoselas a Europa y América!
Europa no es más que una península de Asia.
(Sobre a história da América do Sul:) cuando llegaron los españoles… les sorprendió todo lo que los indios sabían de astronomía, matemáticas… pero no iban en son de paz… y como estos pueblos, a los que llamaban indios, no tenían armas de fuego para defenderse, fueron derrotados por unos seres extraños, blancos y barbudos, que llegaron de lejos, atravesando los mares… Cierra los ojos… ¿Lo imaginas?


Não há referências ao cristianismo. Ressalta a visão negativa dos europeus e enaltecem-se a África e a América antes da chegada destes. O livro desenrola o seu argumento na forma de uma viagem de um grupo de jovens à volta do mundo. No regresso, encontram um barco pirata cuja bandeira arco-íris é oportunidade para uma promoçãozita velada do lobby gay admitido por esta neo-ortodoxia.

Parecem confusas as cabeças que escrevem estas coisas? Talvez, mas os seus objectivos são claríssimos.

quinta-feira, outubro 23

Sarah e a roupa


Leu-se hoje por aí um grande alarido por causa do que a candidata Sarah Palin tem gasto em guarda-roupa para a campanha.

Os ascéticos e zelosos beatos que assim se indignam devem estar convencidos de que o Obama e a Hillary vestem nas lojecas de moda da Avenida da Igreja, em Alvalade, e que aguentam a semana inteira sem mudar de fato. Invejosos, mas numa coisa poderão ter razão: sendo a Palin bonita e boa como o milho, 150 000 dólares é um desperdício -- qualquer trapinho da feira de Carcavelos lhe ficava bem.


quarta-feira, outubro 22

O caleidoscópio da realidade

Isto é o que se lia no dia 12:

Stefan Petzner foi designado sucessor de Jorg Haider na liderança do partido populista austríaco BZO. Com apenas 27 anos, Petzner era o porta-voz e considerado como filho adoptivo de Haider e desde 2006 que ocupava o cargo de vice-secretário-geral do partido. O líder histórico da extrema direita, morreu este fim de semana num acidente de viação, quando circulava numa estrada secundária a mais de 140 quilómetros por hora.


Hoje sabemos que Petzner era amante de Haider, e que a esposa deste estava perfeitamente ao corrente, embora tivesse ciúmes de que o marido passasse mais tempo com o delfim do que com ela. É a própria irmã de Petzner que acusa a senhora Haider de nem sempre ser muito compreensiva. Ver-se-á o que fica da imagem do pai de família, com dois filhos, junto do seu eleitorado, mas as perspectivas de Petzner não devem ser agora muito animadoras.

Por outro lado, neste artigo de Gerhard Wisnewski, um ex-guarda costas de Heider lança dúvidas sobre as circunstâncias do acidente, dado que Heider bebia raramente e com moderação, e chama a atenção para um estranho buraco no tecto do carro após o desastre, precisamente acima do lugar do condutor. Segundo este guarda-costas, a polícia terá fechado a investigação cedo demais.

Caso encerrado?



Há cerca de um mês, revelações de Morton Sobell vieram trazer nova luz sobre o controverso caso dos Rosenberg, executados em 1953 em Sing-Sing. Sobell foi réu no mesmo processo e condenado a 30 anos de cadeia dos quais cumpriu 18. Aos 91 anos, acabou por confessar que ele e Julius Rosenberg espiavam para os soviéticos.
A versão popularizada dos trágicos acontecimentos aponta para uma condenação por motivos ideológicos no ambiente de perseguição aos comunistas, nos anos cinquenta na América. Sabe-se agora que não era bem assim. É claro que a condenação ao sinistro grelhador de Brown e Edison terá sempre o poder de nos repugnar. E a sentença de Ethel continua a parecer baseada em provas debilíssimas, sabendo-se que falsos testemunhos da cunhada e do irmão, David (arregimentado por Julius para os trabalhos de espionagem) contribuiram para a incriminar. Uma história sem heróis.

terça-feira, outubro 21

Para o bem do coração





Depois de descobertos os benefícios do vinho tinto, um novo estudo científico vem revelar os benefícios do Staying alive dos Bee Gees(1977) para o coração - neste caso para funções de reanimação. É tempo de os serviços nacionais de saúde comparticiparem a venda de kits domésticos com o cd. E, já agora, quanto teremos de esperar até se poder comprar nas farmácias um Quinta do Carmo por menos de 5 euros (com receita médica, claro)?

domingo, outubro 19

Palavras para o vento levar

1. Al Gore está a espalhar a sua boa nova numa grande conferência em Málaga. As notícias salientam que o grande arrefecedor do planeta promete que a liderança científica mundial vai voltar à Andaluzia, como até há cerca de 500 anos atrás. Dentro da sua lógica, terá certamente razão, visto que se refere aos projectos do Climate Project Spain, bem financiados pelo governo da Andaluzia. Atendendo a quem mandava na Andaluzia precisamente até há 500 anos atrás, Al Gore confessa assim involuntariamente que o Aquecimento Global é mais uma religião do que ciência.

2. Faranaz Keshavjee irrita-se hoje no PÚBLICO com o facto de Eduardo Lourenço ter admitido em entrevista recente que há uma guerra das civilizações. Faranaz, "estudiosa de temas islâmicos", admite mesmo que Eduardo é um pensador medieval. Depois de recordar a existência de "intelectuais árabes e muçulmanos do mais elevado calibre", queixa-se de alguma "guetização dos muçulmanos na Europa" como "fruto da maneira como a Europa rejeita e estigmatiza o Outro". Faranaz mostra-se assim tão conhecedora das subtilezas hegel-sartre-lacanianas da filosofia ocidental como, certamente, dos versículos do Corão. Mas, de tanto estudar, baralham-se-lhe as ideias, quando escreve que "na escola falamos do colega muçulmano recordando o infiel, o invasor, o mouro (i.e. o escuro) (...), aquele que é vitoriosamente expulso". Se Faranaz fosse menos distraída saberia que infiel no sentido religioso já nada significa para nós há muito tempo, que quem usa a palavra com ódio são os activistas muçulmanos e que mouros, cá em casa, é só o que os adeptos do Porto chamam aos do sul.

3. Já Saramago acredita nas virtudes de uma Aliança de Civilizações mas mostra-se obcecado com o problema de Deus (Outubro 16). Mostra-se também um pouco distraído: quando afirma que deste problema "não se ousa falar" parece esquecer os seus próprios escritos. Se não se ousa falar, não é no mundo cómodo que ele habita. E confunde Deus com Alá, como se fosse apenas um problema de tradução. Se o Deus criado pelas cabeças ocidentais fosse o outro, ele ainda hoje não poderia tranquilamente chamar-lhe um problema. E, ao reduzir Deus à criação das nossas cabeças, não se apercebe de que está a participar noutra criação, igualmente arbitrária, com que certas cabeças se tranquilizam.

segunda-feira, outubro 6

Oportunidade perdida






Sarah Palin, em entrevista à CBS uns dias atrás:



As for homosexuality, I am not going to judge Americans and the decisions that they make in their adult personal relationships. I have one of my absolute best friends for the last 30 years happens to be gay, and I love her dearly. And she is not my "gay friend," she is one of my best friends, who happens to have made a choice that isn't a choice that I have made. But I am not going to judge people.

A entrevistadora fez-nos perder a todos a oportunidade de saber em que momento da sua vida Sarah escolheu, com sucesso, uma carreira heterossexual.

domingo, outubro 5

Burocratas queixam-se de burocracia

A FNE ataca o estatuto da carreira docente por prever uma prova de acesso à profissão e por dividir os professores em duas categorias. Para os dirigentes da FNE tudo isto é inútil e incompreensível. Queixam-se também do excesso de burocracia e papelada e das reuniões inúteis que o processo de avaliação envolve. Em face do modelo de avaliação imposto, estão cheios de razão neste ponto. Mas esquecem que a visão idílica de que todos os professores (e, já agora, todos os alunos) valem o mesmo foi longamente instilada em décadas de doutrinação burocrática de que sindicatos ou associações de professores nunca se demarcaram, antes nela colaborando.* Na verdade, para que outra coisa serviu o cinzentismo do eduquês senão para menorizar a importância dos conteúdos e disfarçar a existência de diferentes níveis de qualidade? Foi para isso que "especialistas" transformaram o ensino numa monstruosidade burocrática apoiada num linguajar pseudo-técnico, roubado à vulgata da psicologia e da gestão de empresas. Durante muitos anos ninguém se riu dessa linguagem ou das exóticas grelhas com ela construídas, antes a adoptaram como sua. O feitiço vira-se contra o feiticeiro quando os que durante anos e anos se especializaram nos relatórios feitos a copy-paste com o bem conhecido palavreado do ensino-aprendizagem, das atitudes e das competências (por vezes promovidos a dissertações de mestrado ou doutoramento!) vêem o mesmo arsenal a cair-lhes em cima sob a forma de tortura avaliativa.

*Exemplo: entre outras preciosidades, podemos encontrar no site da FNE o anúncio de um curso de verão em 2008 que propõe (per)cursos de debate e análise de algumas problemáticas relevantes no campo da educação e em particular, no que respeita à avaliação, tem como objectivos

* Identificar e caracterizar diferentes concepções e modelos de avaliação institucional;
* Distinguir distintas “lógicas e racionalidades” subsumidas nos diferentes dispositivos de avaliação institucional;
* Capacitar para a produção e utilização mais informada de dispositivos de (auto) avaliação institucional;
* Desenvolver um espírito crítico e reflexivo em torno das várias agendas e agentes da avaliação institucional.


Fascinante, não? Fica-se a lamentar não se ter podido assistir.

Escritas

Frase de apresentação de um artigo da PÚBLICA de hoje:

Se pudessem casar com pessoas do mesmo sexo, [fulano] e [fulana] fariam-no.

Completamente de acordo. Acho que escrever fá-lo-iam não passa de uma paneleirice.

sábado, outubro 4

Always true to you, darling in my fashion



Certas músicas valem mais a pena que muitos textos. É o caso desta interpretação exhilarating (não há adjectivo adequado em português) de uma obra prima que faz parte da caixa de joias de Cole Porter. O delírio começa aos 2 minutos e 15. A arte é de Nancy Anderson.

segunda-feira, setembro 8

Os glaciares dos Pirinéus e o que se aprende com eles

Cientistas das Universidades de Cantábria, Madrid e Valladolid advertem que os últimos gelos dos Pirinéus vão derreter por volta de 2050. Está dito nesta notícia, onde se afirma que esta é uma prova de que estamos a atravessar um período de "aquecimento global". A mesma notícia diz que os gelos de Espanha começaram a desaparecer no final no século XIX e que foram formados a partir do século XIV, durante uma mini-idade-do-gelo. A palavra CO2 está ausente do texto.

domingo, setembro 7

Proposta

Proposta para o combate à criminalidade violenta: os autores de assaltos ou ameaças à integridade física de pessoas, com ou sem uso de armas, passam a ser multados no acto. De acordo com a gravidade do mesmo, as multas deverão ser sempres superiores às de estacionamento irregular e devem poder atingir valores bem superiores às que se aplicam ao excesso de velocidade e à condução com álcool. As brigadas policiais de trânsito são reconvertidas em brigadas de controlo da violência e não perdem a motivação da multa (já que a da detenção e a da prisão preventiva estão de rastos). Para multar cidadãos automobilizados basta deslocar mangas de alpaca com pouco que fazer.

segunda-feira, agosto 25

Linhas rectas




Casamento e divórcio noutro mundo

Um tribunal de Riyadh vai apreciar um pedido de divórcio de uma menina de oito anos, casada com um homem de cinquenta. O casamento foi negociado pelo pai da menina, e o processo de divórcio é da iniciativa da mãe. A mãe acusa o pai de nem ter dito nada à criança (senhora?), que está no 4º ano de escola e ignora que já é casada.

domingo, agosto 24

Insensibilidades

Francisco Louçã acusa o Presidente da República de "insensibilidade" na questão do divórcio, recordando que não há casamento unilateral. Aproveita para pedir ao estado que não se meta no que não é do estado e da lei - curiosa reivindicação de quem quer o bedelho do estado metido em tudo, e que muito em breve veremos a defender a institucionalização do casamento homossexual.

Não sei se no caso do divórcio quem tem razão é o Presidente ou o Francisco, mas a posição deste parece-me pouco sólida. O Bloco gosta de aparecer como defensor dos mais fracos e pobres mas a máscara cai-lhe com extrema facilidade: nas situações de criminalidade nunca se identifica com as vítimas, exceptuando os casos em que elas não são olhadas como pessoas, mas sim como elementos de "grupos marginalizados". O Bloco pretende desempenhar o papel de quem, por via da intervenção estatal, quer garantir a felicidade dos cidadãos. Ora, no caso presente, está a preocupar-se objectivamente com o elemento mais leviano do casal, podendo transformar o divórcio num fácil repúdio. Para ser coerente, o Bloco deve apresentar uma emenda à lei: nos casos de repúdio à vista, o estado deve promover desde já a constituição de um banco de suplentes, a fim de garantir ao cônjuge abandonado a substituição provisória do cônjuge anterior. Uma espécie de subsídio de desemprego emocional com prazo fixo, tudo bem monitorizado e verificado por assistentes sociais especializados. Há os pobres de dinheiro e os pobres de amor, e não é evidente quais deles sofrem mais. A "insensibilidade" também não falta ao Francisco.

sábado, agosto 23

Três nomes numa lista

RISO/DOMENICO (CHD): operador de bordo da Air France, italiano, natural de Isola (Sicilia). Acompanhado de uma criança.
CHARILAS/PIERRICK: especialista em ginástica aeróbica, francês residente em Paris.
CHARILAS/ETHAN: o filho de quatro anos de Pierrick.

Os nomes fazem parte da lista de passageiros divulgada pela Spanair após o desastre do voo JK5022.

A viagem de férias para a Gran Canária terminou com a morte à saída da pista 36 de Barajas. A história surgiu com destaque nos principais jornais italianos de ontem: Domenico e Pierrick viviam juntos em Paris e o menino que viajava ao lado de Domenico era Ethan. O bilhete de Domenico fora obtido com tarifa mais favorável por incluir uma criança e por se tratar de um funcionário de outra companhia aérea. Foi um primo (e homónimo) de Domenico, que conhecia a situação do par, quem deu a informação aos jornais. A imprensa (Stampa, Repubblica, Corriere) tratou o caso com graus diversos de discreção e pudor: relativamente a Domenico, Pierrick é descrito como "um caro amigo", ou "companheiro", e por vezes o trio é descrito como uma família (com aspas). As televisões parecem não ter dado pormenores.

A mãe de Ethan confirma que o filho teve a sua curta infância muito feliz. No fundo, uma história normal.

A militância gay não gostou, claro. O Arcigay e vários blogs da órbita do pensamento único vieram com toda a pressa falar de homofobia, censura e hipocrisia.

Se alguém actua sem pudor é este tipo de activistas que não hesitam em utilizar uma tragédia para se fazerem ouvir, sempre prontos a assumir supostas causas de quem tem, simplesmente, vidas. Ninguém cuidou de saber, por exemplo, se Domenico e Pierrick gostariam de ver a sua situação exposta aos familiares e ao grande público. Além disso, também não se preocuparam com o facto de os meios de comunicação não terem investigado as relações de parentesco e orientações sexuais dos restantes 150 falecidos. Dizem não querer ser discriminados mas reivindicam discriminação sem respeito pelas pessoas.

quarta-feira, agosto 20

Aniversários, transplantes e uma Santa Aliança

O Grande Mufti da Arábia Saudita acaba de desmentir o estudioso Salman Al-Oadah, que teve a ousadia de emitir uma fatwa autorizando a celebração de aniversários e datas de casamento. Salman não vê nisso nada de contrário ao Islão.


O Mufti relembra que para os muçulmanos há apenas duas datas a celebrar, o Eid Al-Fitr, fim do Ramadão, e o Eid Al-Adha, também com significado religioso. Para além disso há ainda o culto de sexta-feira a que todos têm direito, e basta. Outros estudiosos de alto estatuto vieram apoiar este ponto de vista, sustentando que celebrar casamentos e aniversários poderia ser considerado uma imitação de práticas associadas a outras religiões. Ora o Profeta, a paz seja com ele, ensinou que isso é um erro. Os muçulmanos não podem assumir comportamentos típicos dos infiéis. Isso afectaria a sua identidade própria.

Estas directivas, que à primeira vista estão no âmbito do absurdo, são um exemplo do que une o islão radical e a esquerda de cariz socialista: a utopia de retirar aos indivíduos a sua identidade como pessoas para a substituir por um figurino ideologicamente imposto.

Por outro lado, ainda ontem se soube que a ordem dos médicos do Egipto, dominada pela Irmandade Muçulmana, se opõe a transplantes entre muçulmanos e coptas. E, tendo em conta estes preceitos sobre as condições em que a doação de órgãos é admissível, é caso para perguntar que confiança se pode ter num médico muçulmano.

Entretanto, o governo de Espanha tem novas regras para a promoção na carreira militar: os candidatos devem fazer um curso que inclui as bases teóricas da Aliança de Civilizações e políticas de igualdade de género. Mas sobre o que a dita Aliança terá ou não a dizer sobre casos como os descritos nunca ninguém fala. Caberá na agenda de Zapatero e Sampaio (tão ciosos da sua laicidade) alguma iniciativa discordante dos ensinamentos destes religiosos inclassificáveis?

Convergências

...não sou suficientemente retrógrada para ser contra ligações homossexuais, aceito, são opções de cada um, é um problema de liberdades individuais sobre o qual não me pronuncio. Pronuncio-me, sim, sobre tentar-se atribuir o mesmo estatuto àquilo que é uma relação de duas pessoas do mesmo sexo, igualmente ao estatuto de pessoas de sexo oposto... (Manuela Ferreira Leite)

The reason that people believe there needs to be a constitutional amendment, some people believe, is because, uh, of the concern that, uh, uh, about same-sex marriage. I'm not somebody who's [sic] promotes same-sec [sic] marriage, but I do believe in civil unions. I do believe that we should not, um, that that for a gay partners [sic] to want to visit each other in the hospital, for the state to say, you know what, that's all right, I don't think in any way inhibits my core beliefs about what marriage are [sic]. (Barak Obama) (Via Althouse)

domingo, agosto 17

A polícia em sua casa



Verifique aqui a taxa de criminalidade dentro das paredes da sua casa e aprecie como o sistema de ensino gosta de empacotar coisas na cabeça das criancinhas, desde que não sejam verbos complicados e cálculos com fracções.




O fabrico do prestígio

A nomeação de Ali Kordan como ministro do interior do governo iraniano está a embaraçar o presidente Ahmadinejad. A história vem contada no Guardian: Membros do parlamento insinuaram que o homem não tinha qualificação para o cargo, ao que Kordan respondeu com um certificado de licenciatura em Direito pela Universidade de Oxford. Começou a correr nos media que o certificado correspondia apenas a um curso de nível médio, e Kordan seguiu em frente, apresentando um certificado de doutoramento honoris causa em Direito por Oxford. O bocado de papel tinha a assinatura de três professores da instituição. Mas os críticos do presidente não descansaram e remeteram o documento à Universidade, que negou não só a sua validade mas também que Kordan ali tivesse adquirido algum grau académico. A Universidade declarou ainda que os três professores cuja assinatura figura no pretenso certificado não só não assinam certificados como não são da área de Direito.

Ahmadinejad defende o nomeado dizendo que não se deve censurar um homem por causa de um bocado de papel. O presidente anda um pouco distraído: para não perder popularidade entre os seus admiradores entre nós, devia dar uma boa lição a Kordan por tentar ganhar prestígio à custa de uma universidade do corrupto e decadente mundo ocidental.

terça-feira, agosto 12

O fascinante silêncio

Nos poucos dias da guerra que envolve a Rússia e a Geórgia, os mortos civis já se contam aos mihares e os refugiados às dezenas de milhares. Os profissionais do "não à guerra" não se têm feito ouvir muito, em contraste com as múltiplas acções contra a guerra no Iraque. Não é, com certeza, por terem menos pena destes civis do que dos civis iraquianos: porque na verdade não têm pena de civis nenhuns. O problema é que no actual conflito escolher campos é entrar num terreno perigoso e escorregadio. Não é tão evidente quem são os maus, e mesmo os contributos teóricos da esquerda para culpar directamente a admnistração americana apenas surgem em franjas lunáticas. Os sectores de "esquerda" fazem, por um lado, uma velada defesa dos "interesses da Rússia", embora a censurem pelo que fez na Tchetchénia. (Não há contradição: a esquerda tem o papel de idiota útil numa aliança táctica com o islamismo radical.) De qualquer maneira, este post mostra que a reacção a esta guerra é muito menos agressiva do que foi em relação à outra: tudo parece reduzir-se a uma pacífica discussão filosófica sobre coerências (onde não falta a de Bush, bem entendido). Da coerência dos que neste caso reagem tão diferentemente é que não se fala.

segunda-feira, agosto 11

domingo, agosto 10

Massagens

As massagens estão agora também proibidas em praias italianas. A directiva é central, vem de uma sub-secretária de estado. Os argumentos são mais sofisticados do que aquele do "sabe-se como começa mas não como acaba":

Não percebo porque se há-de tolerar a presença de pessoas que abusam da credulidade dos outros. Nem compreendo como as pessoas aceitam que desconhecidos lhes ponham as mãos em cima. Além disso massagens mal feitas arriscam-se a causar problemas sérios, sobretudo na cervical. Um fenómeno deplorável.

Tudo isto parece óbvio, e a primeira frase poderia ser aplicada a uma grande variedade de situações, desde o crédito bancário às promessas dos Scolaris, passando de raspão pelo professor Bambo, pela Maya e pela produção teórica das ciências da educação. Infelizmente, a credulidade dá sentido à vida para uma imensa maioria, assim como o toque por desconhecidos pode bem ressuscitar excitações moribundas.

Se acabarem com elas nas praias, hão-de ressurgir noutra forma ou noutro lugar.

sexta-feira, agosto 8

Luz do sul







Teoria ideológica da sôdade

Como disse um dos meus interlocutores, Fernando: ‘Aqui em Bubaque, na Guiné, temos um atraso de séculos em relação à Europa.'

A este propósito é importante não desvalorizar esta visão da realidade contemporânea definindo-a como ideológica e imputando-a portanto ‘simplesmente’ à imposição violenta de uma ordem interpretativa por parte dos sistemas de regulação dos tráfegos económicos/culturais do capitalismo avançado. O discurso da modernidade e da civilização representa claramente uma herança da ideologia colonial, que chega aos jovens mediada (e certamente pouco transformada) mediante as ideias de progresso e desenvolvimento que plasmaram e continuam a plasmar não só as políticas dos estados africanos no período pós-independência, mas até o tom das relações internacionais entre o Eurocentro e o resto do planeta.

(...)

A marginalização da África por parte do colonialismo e do capitalismo ocidental não é só um problema de representação, mas também e sobretudo de estratégias concretas políticas e económicas.

(...)

A Europa torna-se, através da junção de fragmentos de representações, o lugar ideal para onde "ir formar-se para poder desenvolver-se", a oportunidade de participar na "cultura da modernidade".

(...)

As palavras dos meus interlocutores mostram claramente um alto nível de consciência e atitude crítica face às estratégias marginalizantes inegavelmente presentes na Europa. Além disso, a cultura juvenil urbana dos emigrantes ou seus filhos em Portugal indicia um aumento gradual de caminhos alternativos, reivindicando (por vezes criando) uma especificidade cultural "africana" em oposição aos centros do capitalismo europeu. O poder e a superioridade do "centro" é posto continuamente em causa por forças que se movem em direcção contrária, e neste movimento encontra lugar uma nova interpretação do sentimento de saudade, do desejo de retorno ao país de origem (...) A saudade representa uma manifestação de falência da ordem dominante, enquanto sintoma de um laço imprescindível com o contexto de origem (...) que se manifesta frente à progressiva substituição dos fantasmas do ocidente pelo quotidiano de Lisboa, pelo "cansaço da Europa".


Não ficaria deslocado, a não ser talvez pela erudição da escrita, como fragmento de um debate neste acampamento, ou pelo menos como pré-requisito teórico. Mas trata-se de algo muito diferente (ou não?). São fragmentos de um artigo de Lorenzo Bordonaro, bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no ISCTE e docente do módulo "Cultura transnacional" no curso de verão de Antropologia organizado por este instituto em 2008.

Finalmente, a explicação

O Al-Salam é um jornal alemão de distribuição gratuita e destinado à população árabe. Define-se como portador de uma mensagem de integração.

De acordo com notícias de há dois dias, o jornal acaba de publicar um artigo em que se explica que a homossexualidade é não apenas um pecado que ofende Deus, mas uma doença causada por uma bactéria carnívora que se transmite por contacto. Por esse motivo, não se deve apertar a mão a um homossexual. O artigo termina recordando que de acordo com os ensinamentos do Profeta os homossexuais devem ser mortos. O texto é acompanhado com fotos de dermatoses ilustrativas do perigo que a homossexualidade representa.

Trata-se, sem dúvida, de mais uma importante contribuição da sabedoria muçulmana para a compreensão do mundo.

E, com certeza por respeito à ciência, muitos responsáveis progressistas hesitam já sobre quem vão continuar a apoiar: se os árabo-imigrante-coitadinhos ou os gay-lésbico-coitadinhos. Na dúvida, suspeito que irão ter o cuidado de não ofender ninguém, mas sobretudo os que já se sabe que não toleram ser irritados.

(Via Nueva Europa)

Actualização: vem bem a propósito este artigo de Bruce Bawer no Pajamas Media. Enquanto uma Europa dormente se entretém com o casamento gay e outras fracturâncias, na Noruega já se debate a pena de morte para os homossexuais. Senaid Kobilica, presidente do Conselho Islâmico, dizendo nem sim nem não, ainda não se pronunciou definitivamente: aguarda o parecer do Conselho Europeu para a Fatwa. Kobilica, além de ser secretário de um sindicato, está ligado a uma das mais influentes organizações dentro do Partido Trabalhista (no poder) e não há conhecimento de alguém lá dentro se ter escandalizado com a indefinição de Kobilica sobre a questão. Pelo contrário, tentam justificá-lo pela sua condição de "muçulmano norueguês". Naturalmente, o parecer vai ser suficientemente ambíguo para não causar sobressaltos. Para já, claro: Kobilica representa agora umas dezenas de milhar de muçulmanos na Noruega, mas quando este número tiver mais uns zeros a conversa poderá bem ser outra.

quarta-feira, julho 30

Dia de mentiras

Os sites da internet e os jornais têm que estar cheios de mentiras.

Na era da Aliança de Civilizações de Zapatero e Sampaio, querem-nos impingir que dezasseis iranianos convertidos ao cristianismo tenham sido espancados e presos, ainda por cima numa altura em que o parlamento discute se o abandono do Islão vai ou não ser punido com a pena de morte. Pode lá ser!

Mais: como é que depois da grande conferência saudita de Madrid, acolhida no país cujo governo legalizou os casamentos de homossexuais, um professor de química seja condenado a 600 (seiscentas) chicotadas por manter uma relação virtual com uma aluna por telemóvel ? E a polícia saudita se dê ao trabalho de prender 55 pessoas numa festa gay? Estão a gozar com o leitor.

E como é que, depois de estar implantado no terreno o plano nacional da matemática, depois do nítido efeito comprovado de três mágicos factores, se pode chegar a estes resultados no exame da 2ª fase?

A mim não me enganam.

domingo, julho 27

Rapazes, raparigas e matemática: a mentira das meias verdades

"Estudo acaba com o mito de que as raparigas são piores que os rapazes a matemática" é o título de um artigo que surgiu na página 16 do PÚBLICO de ontem. E a primeira frase é triunfal: "O mito acabou." As restantes frases estão dedicadas ao mito de que as raparigas são iguais aos rapazes (no presente caso, em aptidão para a matemática), com base no artigo DIVERSITY: Gender Similarities Characterize Math Performance, de Janet S. Hyde e cinco outras senhoras, publicado na Science há dois dias. Mas, como é bem observado neste post, não passa para os jornais uma parte importante e perturbante da mensagem: tendo sido o estudo baseado nos resultados de testes de matemática comuns, as autoras observam que actualmente as questões a que os estudantes são submetidos têm nível muito básico, raramente ultrapassando o 2 numa escala de dificuldade crescente com níveis de 1 a 4. Para bom entendedor, é como se usássemos os nossos exames de matemática deste ano para estudar as diferenças entre os alunos que fizeram um estudo superficial e os que adquiriram uma compreensão profunda das matérias.


A realidade é um pouco mais complexa e menos fácil de rotular para venda num jornal. Observando o que se passa a um nível de maior selectividade, como é o caso das Olimpíadas de Matemática, os resultados (obtidos por participantes, em função do género) configuram uma verdade muito diferente da que convém aos títulos sensacionais. O post de Lubos Motl sublinha-o com vários exemplos. Chama a atenção também, a propósito, para este outro estudo onde as matérias académicas são listadas pelo índice de adesão dos seus cultores à norma do politicamente correcto.

quinta-feira, julho 24

Pesadelos: a vida tal como é

O homem trabalha na Areva, empresa do sector da energia nuclear em França. Todos os dias sai com os dois filhos, deixa o de cinco anos na creche e a de três na ama. Às 8.30 estaciona no parque da empresa. Na passada terça feira, ao fim da tarde, ao fazer o caminho de regresso e já depois de recolher o filho, depara com a menina morta no banco de trás. Tinha-se esquecido de a deixar na ama. Fechada no carro, a criança morreu desidratada.

Uma semana antes, também em França, outra criança de dois anos teve morte semelhante.

Um estado puro do horror, sem presença da maldade humana.

sábado, julho 19

Os laicos nos seus labirintos

Terminou ontem em Madrid a Conferência sobre o Diálogo promovida pelo rei da Arábia Saudita, guardião das duas sagradas mesquitas, com o acolhimento do rei Juan Carlos e de Zapatero. Participaram o secretário geral da Liga do Mundo Islâmico, o presidente do Pontificio Conselho para o Diálogo Interreligioso e Jorge Sampaio, Alto Representante da Aliança de Civilizações. Na declaração final, os participantes afirmam que a diversidade de culturas e civilizações é um sinal de Deus e causa de avanço e prosperidade; que as mensagens divinas têm por objecto a obediência ao Criador e atingir a felicidade, e espalhar a virtude através da sabedoria e rejeitando o terrorismo. Acreditam no significado da religião e dos valores morais e na necessidade de preservar a instituição familiar e proteger a sociedade de comportamentos desviantes. Foi decidido criar uma comissão para investigar porque é que o diálogo não conduz aos resultados desejados e recomendada a cooperação entre organizações religiosas, educacionais e dos media para lutar contra a promiscuidade sexual e outros vícios.

São boas notícias. Estamos de certeza à beira de assistir à conversão de Zapatero e Sampaio e, com a ajuda preciosa da estimável democracia saudita, acabar com o ocidental deboche. Bem... nem tudo foi perfeito. Como não foi permitida a participação de mulheres, das quais nem se falou, Zapatero teve desta vez que meter no saco a sua ministra da Igualdade, e na mesma semana despachou o secretário de estado Zerolo para Portugal, o qual se dedicou a ensinar a Juventude Socialista a mostrar-se interessada no casamento guei. Não perdem pela demora... o rei Abdullah e seus anfitriões convertidos tratam-lhes da saúde na primeira oportunidade.

terça-feira, julho 15

Há calma na Quinta?


O que diz aqui, na verdade, é que a Governadora Civil de Lisboa vai dar tempo a si própria e que continuará calma. Mas o mais interessante do artigo é que nos informa que existe uma Federação das Associações Ciganas de Portugal, um Secretariado Diocesano de Lisboa da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos e um programa Escolhas, todos envolvendo habitantes da Quinta. O artigo revela também a existência da própria Governadora Civil de Lisboa e anuncia a existência futura do Contrato Local de Segurança (para a Quinta). Ficamos a saber igualmente que já antes disto havia a Estratégia de Segurança para 2008 do Ministério da Administração Interna, graças à qual, certamente, o aumento de insegurança se mantém em níveis que permitem respirar para acalmar.

Diz ali o presidente da Solidariedade Imigrante que há falta de infra-estruturas e apoios sociais. Mas diz também acolá que os acontecimentos da Quinta envolveram técnicos da Segurança Social, vereador da Habitação e Urbanismo da Câmara Municipal de Loures e Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural. O presidente da delegação da Cruz Vermelha também teve uma palavra a dizer.

Começo a pensar que a Quinta não pode ser um bairro desestruturado, como algumas explicações dos recentes acontecimentos pretendem fazer crer. Ou se o é, é pelo excesso de estruturas dentro dele e à sua volta.

domingo, julho 13

Lisboa: onde comer, segundo o NYT


Ainda bem que há o New York Times, graças ao qual fico a saber que em Portugal nunca se come mal, que Lisboa tem inúmeras casas e edifícios bem conservados, e que na Baiuca se come o melhor "bacalliau a Braz" de Lisboa. Prometo ir ver se é verdade e depois conto.

Há inúmeras outras sugestões no artigo e nestes comentários de leitores do NYT.

Professor curdo condenado à morte




Condenado à morte em Fevereiro por "ofensas a Deus", Farzad Kamangar viu agora a sua pena confirmada pelo Supremo Tribunal. A execução pode estar iminente. Kamangar, sindicalista e um dos fundadores da união de professores independentes do Kurdistão iraniano, foi condenado juntamente com dois outros curdos, Ali Heydariyan e Farhad Vakilique, que entretanto devem cumprir uma pena de dez anos de prisão antes de serem executados.


sexta-feira, julho 11

A cegueira voluntária

As nossas autoridades são muito curiosas.

Vêm afirmar que há uma melhoria dos resultados em Matemática quando, na verdade, se constata a consequência natural de um exame muito fácil. Contar as filas de um cinema, reconhecer o mínimo múltiplo comum entre 12 e 24, ou calcular volumes de pirâmides num problema com um dado a mais que o reduz à aplicação de uma fórmula dada no enunciado, só podem ser sintomas de melhoria para cegos voluntários.

Vêm dizer que melhorou o panorama da condução nas cidades porque alguns radares registaram menos infracções. Mas, mesmo descontando o facto de haver radares avariados, fingem não perceber que os radares são, para a condução em cidade, o que o "exame fácil" é para os conhecimentos dos alunos. Tal como o exame tem as respostas quase à vista, o radar tem efeitos de redução da velocidade na vizinhança do aparelho e nada mais. Experimente-se descer a avenida de Ceuta e observe-se a variação de velocidade dos carros à nossa frente: nem é preciso ir atento ao sinal para ficarmos a saber onde está o radar.






quinta-feira, julho 10

Não há contradições

Parece que a GALP calculou para aí um IVA a 21%, e depois a 20% sobre o mesmo valor, tendo obtido em ambos os casos 20,25 Euros. Deve ser mais um efeito colateral do Plano de Acção para a Matemática, que já se estendeu às maquinetas de calcular da nossa petrolífera.

terça-feira, julho 8

O mistério dos exames

O exame de Matemática do 12º ano foi muito fácil, o de Português não tanto. O assunto é interessante porque parece jogar a favor do Ministério da Educação e do GAVE, fornecendo-lhes um argumento para desmentir os que os acusam de promover o facilitismo. No entanto, mesmo descontando o problema da ambiguidade de uma das questões do exame de Português, olhando para os dois testes fico com uma impressão diferente.

O facto que me parece relevante é que, com o actual figurino dos testes, a avaliação em Matemática tornou-se mais fácil de falsificar. O carácter unívoco das respostas e a sua redutibilidade a um pequeno número de "esquemas" permite, com poucos conhecimentos e apenas um pouco de habilidade, uma dose de sucesso razoável, desde que as questões postas se mantenham num nível bastante elementar. Quando o Ministério diz que está a avaliar estas 21 competências

• Uso correcto do vocabulário específico da Matemática;
• Utilização e interpretação da simbologia da Matemática;
• Utilização de noções de lógica indispensáveis à clarificação de conceitos;
• Domínio correcto do cálculo em R e em C, operando com expressões racionais, irracionais,
exponenciais, logarítmicas e trigonométricas;
• Conhecimento dos conceitos de continuidade, derivadas e limites;
• Desenvolvimento de raciocínios demonstrativos, usando métodos adequados;
• Desenvolvimento de raciocínios demonstrativos, a partir da Axiomática das Probabilidades;
• Resolução de problemas envolvendo cálculo de probabilidades;
• Resolução de problemas de contagem;
• Resolução de problemas no contexto das disciplinas de Matemática, de Físico-Química, de
Economia e de Ciências Naturais;
• Resolução algébrica, numérica e gráfica de equações, inequações e sistemas;
• Selecção de estratégias de resolução de problemas;
• Formulação de hipóteses e previsão de resultados;
• Análise de situações da vida real (em casos simples), usando modelos matemáticos que
permitam a sua interpretação e a sua resolução;
• Interpretação e crítica dos resultados no contexto do problema;
• Interpretação e resolução de problemas, recorrendo a funções e aos seus gráficos, por via
intuitiva ou por via analítica, e usando a calculadora gráfica;
• Aplicação dos conhecimentos de Análise Infinitesimal no estudo de funções reais de
variável real;
• Relacionação de conceitos da Matemática;
• Expressão do mesmo conceito em diferentes formas ou linguagens;
• Apresentação dos textos de forma clara e organizada;
• Comunicação de conceitos, raciocínios e ideias, com clareza e rigor lógico.


está a dar-nos música para os ouvidos. Em contrapartida, enquanto nos exames de Português se valorizar ortografia e sintaxe, não será possível obter uma boa classificação sem um conhecimento mínimo da estrutura da língua. Reduzida a preparação em Matemática a testes-tipo que se podem resolver sem domínio das principais características da disciplina (o rigor, a ampla conexão lógica que torna os factos compreensíveis a partir de outros factos), caberá ao Português o papel de seleccionar quem ainda entende alguma estrutura de alguma coisa.

A acção persistente dos ministérios de educação nas últimas décadas favoreceu a transformação da disciplina de Matemática numa colecção de "unidades" desconexas mas fáceis de "estudar para exame". No futuro próximo, as Universidades terão de seleccionar os alunos de cursos técnicos e científicos pela nota de Português.

Curiosidades

Operações de mudança de sexo são financiadas pelos sistemas estatais de saúde no Irão, em Cuba e, bem aqui ao lado, também na Andaluzia e Extremadura.

segunda-feira, julho 7

Ainda a libertação de Ingrid

Depois de a Radio Suisse Romande ter noticiado que um vultuoso resgate seria a justificação para a libertação Ingrid Betancourt, o ministro da defesa colombiano afirma que os 500 mil dólares teriam sido entregues por um intermediário suiço. Ou que, pelo menos, esse senhor tem de explicar por que razão aparece no computador de Reyes, onde está também indicado o local onde o dinheiro estava escondido. A notícia tem hoje destaque na Radio France Internationale. A história não terminou.

(Mais desenvolvimentos aqui)

domingo, julho 6

O preconceito guei

Ontem em Madrid, como há uma semana em Lisboa, houve desfiles comemorativos do chamado orgulho guei. O acontecimento madrileno está transformado numa instituição. Para além de grande adesão popular houve presença de ministra e secretário de estado do governo, dirigentes da Izquierda Unida, das Comisiones Obreras e da UGT.

Este ano, por decisão da internacional que gere o movimento, o lema específico foi o da visibilidade lésbica. Além da gratuidade do desígnio (porque não pedir a visibilidade de imensas minorias como a dos sado-masoquistas ou a dos podólatras?) é curioso ver que a "plataforma reivindicativa" apanhou o comboio da laicização tendo sempre como alvo a Igreja Católica. Nem uma palavra sobre o Islão, em crescimento em Espanha, nem sobre as amizades perigosas dos actuais dirigentes políticos. As mulheres podem continuar invisíveis se for por respeito ao véu. É fácil pedir a visibilidade das lésbicas quando se ignoram problemas bem mais sérios e quando o silêncio sobre o que se passa noutros países é total.

Além de tudo isto, sempre tive a impressão de que as lésbicas são visíveis. Uma vez vi duas a comer sardinhas assadas numa esplanada de Belém e os talheres não se suspendiam nem flutuavam no ar, como nos filmes com efeitos especiais.

Calma, calma, nesta última frase não estava a falar a sério, mas também os reivindicadores profissionais que este ano fingiam interessar-se pelas lésbicas não falam a sério nunca. Interessados apenas em garantir apoio dos estados às cúpulas das suas organizações, querem lá saber do efeito devastador que as medidas que propõem poderia ter sobre pessoas cuja defesa pretendem assumir. Pouco lhes interessa que a visibilidade que cada um quer dar de si mesmo pertence à esfera do estritamente pessoal.

As paradas guei podem até ser acontecimentos divertidos, mas estão afectadas por dois aspectos perniciosos: por um lado são cavalgadas por oportunistas políticos, e por outro causam danos aos que não se revêem nos seus auto-denominados defensores e que acabam por ser prejudicados por certa imagem negativa de um colectivo que não existe.

Falam de orgulho mas trata-se de preconceitos em série: de que existe uma "identidade" que cabe na sigla LGBT, de que os indivíduos devem exibir os seus gostos particulares, ainda por cima em matéria de sexo, como quem exibe um autocolante.

A igualdade só se atinge quando não for necessário falar da diferença, quanto mais com espalhafato.

sábado, julho 5

Matemática: média de 12,5 no exame nacional

Por este andar, não deve vir longe o dia em que até a nota mínima acabe por ultrapassar a máxima.

quinta-feira, julho 3

Ideia para um logotipo

FARCismo nunca mais!