sábado, maio 30

O nível da conversa



Hugo Chávez começou por desafiar os membros do CEDICE, em reunião na Venezuela, para um debate no seu Alô, Presidente especial que durará até domingo. O CEDICE propôs então que houvesse um frente a frente entre o Presidente e Mario Vargas Llosa. Chávez declinou: embora reconheça os talentos de Llosa como escritor (diz ele) o frente a frente não tem sentido porque não jogam na mesma equipa. Hugo queria um debate entre intelectuais (os seus e os do CEDICE) e afirma que Llosa teria de ascender a presidente para debaterem ao mesmo nível.

Vargas Llosa até já foi candidato à presidência do Peru. É autor de La Fiesta del Chivo, onde evoca a tirania de Trujillo, e dessa obra prima da literatura, Conversación en la Catedral, que tem como pano de fundo a frustração dos peruanos nos tempos do ditador Odría. Temas certamente caros a Hugo, que em caso de desconforto poderia converter a conversación em tertúlia literária. Mas para isso teria que descer ao nível de um intelectual.

sexta-feira, maio 29

Castro vs Cheney

As notícias de há dois dias referiram duras críticas de Fidel Castro aos métodos antiterroristas defendidos pelo ex-vice Dick Cheney. Fidel afirmou que não se deve usar a tortura para obter informação.

Fidel não diz nada de surpreendente. Em Cuba tortura-se sem o objectivo mesquinho de obter informações que não interessam para nada. E nos bons tempos do Che a tortura era frequentemente substituída pelo método expedito da bala na mioleira.

Aguarda-se agora que às preocupações de Castro se venham juntar as de Ahmadinejad, algum líder da Al Qaeda, ou Kim Il Jong, para ainda nos convencermos de que Cheney é um menino de coro.

quinta-feira, maio 28

Delícias de linguagem

Aa acções de deformação para professores de línguas começam por ter nos títulos o educo-tuguês no seu melhor. Ora topem:

Acção 09.04- Oficina para a ensinança da Língua Portuguesa Acção 09.05- Português Língua não materna: Ensinar para não descriminar. (itálicos meus)

Suponho que na primeira o tema central será a Arte de bem Cavalgar em Toda a Sela. Na outra deve haver engano, provavelmente é uma acção de direito não garantista destinada a magistrados.

ESCRITA CRIATIVA - ESCREVER PARA E COM JOVENS

Sim, tou a ver. Axim k me dxpaxar vamox kurtir, ta?

UTILIZAÇÃO DE QUADROS INTERACTIVOS MULTIMÉDIA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DAS LÍNGUAS

Claro! deve haver um manual de instruções em várias línguas com centenas de páginas.

quarta-feira, maio 27

Jara: o processo

No dia 16 de Setembro de 1973 o autor de canções Victor Jara, preso no estádio de Santiago do Chile, foi uma das muitas vítimas da brutalidade dos militares de Pinochet. Foi selvaticamente torturado, tendo-lhe sido arrancada a língua e desfeitas as mãos antes de ser crivado de balas.

O processo relativo ao crime já teve altos e baixos e tinha sido encerrado o ano passado de modo inconclusivo com um único culpado. Ontem, contava o La Tercera que um juiz reabre o caso, acusando um ex-soldado, agora com 54 anos, de autoria do crime.

A pequena notícia é a mais comentada de ontem na edição online do jornal.

Segundo o El Mundo, os representantes da família de Jara criticam as diligências judiciais, afirmando que se está longe de chegar aos autores intelectuais do crime.

sexta-feira, maio 22

As profissões blindadas

Em relação com um caso de polícia bem conhecido, tem sido exposta a teoria de que não é credível que alguém possa exercer pressão sobre magistrados. Isto porque tais pressões não teriam consequências, uma vez que a carreira da magistratura é tão "blindada" que será por natureza imune às tais pressões. Esta teoria foi ainda há minutos defendida por Pedro Adão e Silva no Rádio Clube.

Cada um só vê o que quer e a mais não está obrigado. Mas é extraordinária a afirmação, quanto mais não seja porque se soube há poucos dias que um inquérito colateral sobre o aludido caso concluiu que tinham mesmo existido pressões sobre magistrados. E, mesmo que assim não fosse, não seria difícil raciocinar (se houvesse vontade disso) para concluir que a violência das pressões depende das posições relativas de pressionador e pressionado. Naturalmente que um magistrado que desagrade a alguém hierarquicamente comparável ou superior não vai ser posto na rua, mas não haverá outro tipo de consequências a que poderá arriscar-se? Lembro-me da premissa da Procuradora: magistrados corajosos não são pressionáveis. Mas, e se houver magistrados não corajosos? Há avaliações, há promoções, há projectos de realização profissional, há colocações em determinados lugares que poderão estar em causa. Essas alterações de carreira poderão depender de comportamentos registados? Não sei. Mas para quem já tem uma situação profissional segura o estímulo que conta é o de promoções futuras. Vê-las postas em eventual risco não pode ser equivalente a estar sob pressão?

quinta-feira, maio 21

Some like it frightening

Dizia ontem o NY Times que, dos prisioneiros libertados de Guatanamo, um em cada sete regressou activamente à actividade terrorista. Esta taxa de reincidência de 14% parece preocupar o departamento de defesa, e já se fala em impedir que alguns dos prisioneiros saiam dos Estados Unidos.

Mas tudo isto pode ser afinal conversa alarmista. Mark P. Denbeaux, professor de direito muito citado, especialista em produção de prova, desvaloriza: diz que é "uma campanha para ganhar o coração da história para Guantanamo. Querem ter argumentos para dizer que havia lá gente má." E acrescenta, em tom de comédia negra com modesta homenagem a um clássico do cinema, "Nunca dissemos que não havia lá quem voltasse à luta. Nada é perfeito".

Acho que Denbeaux devia ter ido mais longe. Não brinco. Gostaria de saber como é que os incompetentes do Pentágono chegaram àqueles resultados. Terá sido por sondagem? com que margem de erro? os inquéritos teriam quadradinhos para marcar com a actividade pós-guantanamo? quantos ex-presos se tornaram cabeleireiros? e quantos professores de direito? sobre isso o relatório nada diz. A não ser que, de cada sete, os inquiridores só tenham conseguido apanhar um.

segunda-feira, maio 18

Mensagem a Dawkins




PROVAVELMENTE NÃO CONSEGUIRÁS APAGAR A IDEIA DE DEUS DA CABEÇA DE UMA IMENSA MULTIDÃO*. POR ISSO NÃO TE PREOCUPES E VIVE A TUA VIDA, PAH


*já para não falar destes:









En galego sentiraste libre

Ainda a Xunta recentemente eleita não começou a trabalhar e já está na rua um movimento que quer fazer esquecer os resultados das eleições. A Mesa (pola normalización linguística) organizou ontem em Santiago de Compostela uma gigantesca guerra preventiva pela defesa do galego, que ainda não começou a ser atacado. A Festa das Letras deu oportunidade aos manifestantes para avisarem o Partido Impopular de que terá de ter muito cuidadinho com o que faz. O êxito da concentração surpreendeu os organizadores: parece que dava para encher o Obradoiro e convocaram para a Praça Quintana. (Foto, história e comentários no Correo Gallego)

O simplismo gramatical dá uma ajuda. Não se imagina numa manifestação festiva um cartaz com a frase "Em galego sentir-te-ás livre". Sentir-te-ás? Dasse. Tasse bem.

domingo, maio 17

Adeus, calculadora

Dêem só uma olhadela nisto.

A controlite do ME

Conta hoje o PÚBLICO que o Ministério da Educação prevê ao milímetro as frases que os professores podem e devem articular durante os próximos exames, perdão, provas de aferição. Este obsessão de controlo total não tem nada de novo. É própria daquele ministério e tem-se manifestado abundantemente, independentemente dos governos. A chuva torrencial de normas que inunda as escolas tem sido, de resto, uma das causas do mal estar recentemente evidenciado pelos professores.

Mas há já muito tempo que a controleirite é visível noutros âmbitos. Um deles é o dos programas das disciplinas. Um programa defeituoso ou mesmo mau tem uma importância relativa porque um professor inteligente e com bom senso pode sempre subvertê-lo; mas como nem a inteligência nem o bom senso estão distribuídos com generosidade e como os autores de manuais têm de seguir os programas oficiais, é claro que maus programas têm efeitos perniciosos.

Vou dar um pequeno exemplo. No programa do 11º ano de Matemática "explica-se" na página 8 como introduzir as noções de raiz quadrada, cúbica, etc, e como ensinar as operações com símbolos de raízes. O programa não explica nada de jeito nem dá nenhuma ideia aproveitável sobre este ou outros assuntos, mas é muito apressado a espartilhar a acção do professor impondo-lhe uma barreira ridícula e sem sentido com a frase seguinte:

Grau de dificuldade a não ultrapassar:

A tónica geral dos programas oficiais (pelo menos no caso da matemática para o ensino secundário) consiste numa grande vacuidade sobre a substância das matérias a ensinar e em doses maciças de ideologia para balizar a acção do professor.

Verbo em alta

PGR desmente pressões mas é contrariado

Charles Smith desmente injúrias a Sócrates

Cândida Almeida desmente a notícia do «i», dizendo ...

Sócrates desmente Alegre Alegre desmente Sócrates

Alegre desmente negociação com Sócrates

Antigo adjunto de José Sócrates desmente envolvimento em caso...

Subjacentes a estes casos estão, supõe-se, mentirosos ou mentirosas. O verbo mentir é, no entanto, usado de forma muito menos conspícua. Nem o Google é eficaz como detector de eventuais mentiras: busque-se alegre mente e ele pensa que andamos atrás de um advérbio de modo (se ainda se chama assim na era da TLEBS). Quem diz alegremente, diz candidamente. Estão em desvantagem neste campo os que não foram batizados com adjectivos.

Prudência

Fez bem o presidente Obama em proibir a divulgação das fotos com as torturas de Guantanamo. As inquietações com o clamor que aí viria não lhe deixariam tempo livre para governar. Ainda toda a gente se lembra das gigantescas campanhas de indignação que se seguiram à revelação das torturas praticadas no Iraque de Saddam ou pelo grupo Al-Qaeda, e que levaram à queda do regime de um e à passagem à clandestinidade de outro.
Além disso, Obama provavelmente apercebeu-se de que não podia competir com o inimigo a nível de efeito dissuasor. Por todos os motivos, a divulgação seria contraproducente.

terça-feira, maio 12

Roxana

A libertação de Roxana Saberi, noticiada ontem, é uma boa notícia. Todos saem a ganhar: Roxana em primeiro lugar, mas também o regime iraniano ao fingir ser estado de direito e simular um gesto de boa vontade. E até talvez a administração americana, que pode ter negociado, ou parecido negociar o caso.

Nem todos, no entanto, verteram lágrimas por Roxana.

Make love, not babies


Depois de a ministra da igualdade se ter empenhado em alargar o aborto a meninas com 16 anos sem necessidade de autorização dos pais, a ministra da saúde promete a pílula do dia seguinte, sem limite de idade, financiada pela Segurança Social (notícia ABC).

segunda-feira, maio 11

Piadas de qualidade

O melhor de Obama até agora, para mim, foram algumas das piadas do jantar de imprensa. Vê-se que a nova administração está assessorada por humoristas de nível, capazes de rivalizar com os nossos Gatos, Contemporâneos e Inimigo Público. As três melhores: as diabólicas criancinhas que se divertem a rasar Manhattan no Air Force One, o beijo de Hillary vinda do México e (sobretudo) a promessa de completar os próximos 100 dias em apenas setenta e dois. Só tenho um adjectivo: adorei.

sexta-feira, maio 8

Apelo contra o anti-semitismo

Catorze membros do Congresso dos Estados Unidos dirigem-se ao Primeiro Ministro da República de Espanha manifestando preocupação com o crescente clima anti-semita no país... e em particular no El País.

domingo, maio 3

Limpeza

A polícia e o exército começaram a retirar os não indígenas de uma reserva índia no noroeste do Brasil. A acção destina-se a executar uma sentença do Supremo Tribunal no mês de Março. Anteriormente, a Rainforest Foundation tinha-se empenhado, pressionando as autoridades brasileiras, numa campanha pela expulsão dos fazendeiros do arroz que se tinham estabelecido na Raposa Serra do Sol.

sexta-feira, maio 1

Estupefacção de espantar

Manuel Alegre estava há dois dias estupefacto e indignado com o episódio em que um inspector interrogou alunos de uma escola de Fafe, aparentemente com o objectivo de que eles denunciassem acções de professores. Para Alegre, trata-se de um "atentado ao espírito da escola pública". Ora, se Alegre estivesse mais atento à realidade, já se teria apercebido de que não há ali qualquer contradição com o dito espírito. A escola pública dedica-se a ensinar pouco e a ideologizar muito; as disciplinas são impregnadas de um conteúdo programático que as extravasa e que vai no sentido de (de)formar mentalidades, seguindo as cartilhas da moda circunstancial.

A Geografia, por exemplo, a par da educação para a cidadania, dedica-se abundantemente a instruir as crianças sobre os malefícios do "aquecimento global" (agora "alterações climáticas") que é um filme com bons e maus. Não deve ser difícil imaginar histórias de crianças a gritar com os pais quando estes lavam os dentes com a água a correr ou quando não separam o lixo de forma correcta.

A História ensina, além de pouca coisa que situe no espaço e no tempo, que tudo é relativo e que todas as civilizações valem o que valem, ou seja, mais ou menos o mesmo. E se isso for certo para as civilizações, não há-de sê-lo a nível mais simples para o valor das hierarquias?

Noutras disciplinas aprende-se pouco e brinca-se muito. E é preciso não esquecer que o próprio Ministério da Educação, durante os últimos dois anos, espezinhou e insultou os professores com apreciável sucesso perante a opinião pública.

Lançando algumas bases para a rejeição do mundo em que as crianças vivem, a Escola Pública dá o seu modesto contributo para a criação de uma bolsa de radicais e delatores. Que espanto pode então provocar a cena do inspector de Fafe?

1 de maio, de madrugada

Parece confirmar-se que Delara foi enforcada hoje em Rasht, Irão.

Actualização em 3 de Maio: A última chamada telefónica de Delara para a mãe está descrita no Daily Mail. 'Mother they are going to execute me, please save me,' Delara Darabiscreamed, before a prison official grabbed the phone and told her mother: 'We are going to execute your daughter and there's nothing you can do about it.'