quinta-feira, maio 17

Nastagio degli Onesti

Completam-se hoje 502 anos sobre a morte de Sandro Boticelli. Neste painel do Nastagio, o cavaleiro suicida, já morto, executa o castigo da mulher que amou e o rejeitou, também morta, arrancando-lhe o coração e dando-o aos cães. A cena macabra repete-se todas as sextas feiras no mesmo sítio a uma hora certa: a maldição cumprir-se-á até à eternidade.
A história é revelada a Nastagio, quando passeava no bosque, também ele a pensar no suicídio por causa de uma donzela que não o quer. Noutro painel, Nastagio convidará a jovem que o rejeita para um festim no bosque... uma sexta à tarde. Parece que ela, depois de ver o que sucedeu à outra, aceita casar com Nastagio.

A reprodução está no site da Berger Foundation.

sábado, maio 12

Tonteto do factor de impacto

Na página do Professor António Córdoba, catedrático de Análise Matemática da Universidade Autónoma de Madrid, há uma entrada cheia de poesia bem humorada. Apeteceu-me traduzir um dos "tontetos" do professor e deu nisto:

É urgente publicar um disparate
tão obsceno que ofenda de ipso facto.
Mas vai dar-te um grande índice de impacto
Ter ingénuos a olhar pró teu dislate.

Não interessa se é com crânios ou com nabos
que mútuas citações negociarás.
Banais, fúteis ou tontas tanto faz
Vem daí um impacto dos diabos.

Não te lances a problema complicado
Se o teu ritmo de publicação cair
Pois tens de o conservar acelerado.

Se destacas nas tuas intenções 
O  prestígio não deixares diluir
Cuida bem de te encher de citações. 

quinta-feira, maio 3

No mundo protegido da Assembleia da República

A Assembleia da República é um eco-sistema protegido, com as suas próprias leis de funcionamento e concepções do mundo exterior. Infelizmente, parece que a visão deste mundo que por lá prevalece é dominada pela arrogância, pelo desprezo pelos cidadãos mais desfavorecidos e pela ausência de sentido da realidade.
Ontem, a SIC foi à Assembleia da República perguntar a deputados se tinham ido às compras no Pingo Doce. As respostas foram todas negativas. Alguns deram a justificação da “indignidade”, outros simplesmente não costumam ou não gostam de ir às compras. Nenhum dos abordados teve a humildade ou o simples bom senso de responder: ó minha senhora, com o meu salário não tenho necessidade de aproveitar as promoções dos supermercados.





terça-feira, maio 1

Corrupções

Espanha: Urdangarin, o genro do rei, que até agora se proclamava inocente, reconhece-se finalmente culpado. Uns mails entregues ao juiz do caso Nóos pelo seu braço direito Diego Torres forçaram a mudança. Agora a estratégia de defesa do rapaz é prometer devolver uns 3 milhões do dinheiro que fez seu, para evitar a prisão. Como se prevêem obstáculos a que a justiça trate o caso como o de um cidadão normal, é provável que resulte. O mau cheiro do caso, no entanto, ficará no ar e empestará irremediavelmente a casa real.

França: Entretanto, Sarkozy é apontado pela Mediapart por receber financiamento de Khadafi para a campanha anterior. Um documento comprometedor é revelado. Em resposta, Sarkozy diz que se trata de falsificação grosseira e processa a Mediapart: não tinha outra saida. Mesmo que se tenha em conta o militantismo da Mediapart, as explicações do acusado não convencerão toda a gente, e o processo, a desenvolver-se, pode fazer o presidente cessante passar um muito mau bocado. Sobretudo se não for reeleito, como tudo indica. Para já, a revelação do caso joga fortemente contra o visado e acentuará a margem de vantagem do outro candidato. Do lado do PS, ninguém quer correr os riscos a que a presença pouco mobilizadora de Hollande poderia dar lugar.

Os alunos que sabiam demais

O caso é singular mas significativo dos estragos que pode causar a ideologia que permeia os sistemas educativos.
Uma professora da escola primária espanhola de Escaldes, em Andorra, é posta a andar porque ensina demais. A recomendação é de um inspector ido de Madrid. O diagnóstico é assustador: "os alunos têm um nível demasiado alto, que não corresponde ao nível de desenvolvimento curricular previsto para uma escola pública."
Os pais não entendem a decisão e pedem que se mantenha a professora. Para já, conseguiram que ela fique até ao fim do ano escolar, embora condicionada a baixar o ritmo de ensino. Parece que o problema é que os meninos estão "hipermotivados", perguntam, querem saber mais e a professora dá-lhes as respostas. Resultado: já sabem ler, começam os primeiros passos da escrita e até sabem somar e subtrair. Por este andar rapidamente se apropriarão dos escassos conteúdos que os inspectores dominam, tornando risíveis as funções desses burocratas.