terça-feira, janeiro 31

O amor nos tempos de internet (7)

-Está, Dino?
-Sim, olá Eduardo, que tal?
-Tudo bem. Conseguiste alguma coisa?
-Vê tu, dos escritórios a quem enviei currículos por enquanto só um é que me contactou e parece-me que não vai dar nada
-Eu começo a ficar desesperado
-Também não é para tanto, ó
-Não será para ti, Dino, mas para mim o estágio é vital
-Por causa do teu pai?
-Do meu pai e de tudo... E agora com a doença da minha mãe as coisas estão piores. Não tenho pachorra para o meu pai e tenho que ficar mais vezes lá em casa.
-Ele já anda com outra?
-Acho que anda com duas, uma que dorme lá quase sempre e outra que deve ter engatado há pouco tempo.
-Porra, que pedalada, devias ter orgulho num pai desses
-Vai-te lixar. Olha que eu só te conto isto a ti, no último dia que lá estive descobri no computador um bocado de conversa de chat com uma tipa do norte.
-Velha ou nova?
-Pelo meu cálculo, bem nova.
-Fogo!
-Certo é que ele quando estava com a outra gaja as atenções eram todas para ela e depois de ela lhe por os palitos ficou tão desorientado que nem é capaz de fixar a uma frase minha, já te falei disto. Dá-me guito mas não me dá atenção. Em resumo, preciso de ficar independente o mais rápido possível
-Mas como? No estágio não costumam pagar nada que se veja!
-Depende... há sítios onde te pagam, lembras-te do caso da Isabel Alves, aquela que andava a repetir Penal II? Arranjou logo em Agosto um escritório onde lhe prometeram 700 euros à entrada.
-Eu se queres que te diga não acredito muito nessa gaja, mas pode ser... de qualquer modo é um caso que não serve de exemplo... É tão raro que até parece que houve camas pelo meio. Tu topas bem como ela se punha nas aulas do Andrade?
-Não sei, acho que estás a exagerar. Sei lá, não ponho as mãos no lume. Ainda ficas muito tempo aí na Guarda?
-Vou para Lisboa no fim de semana
-Óptimo, apitas para irmos tomar um copo?
-Não sei, quando for para aí vou ficar em casa da Sandra a Setúbal, os pais dela foram a um cruzeiro... tenho que aproveitar mas a gente depois combina
-Ah, ok, um abraço
-Xau

domingo, janeiro 29

Prova de vida




Há uns dias queixei-me, meio a sério, da duração exagerada de alguns filmes. Estava sob o efeito de ter visto um mau filme.

Para filmes como este a minha conversa é outra: podia durar até quatro horas e o prazer de ver seria o mesmo. De vez em quando apercebemo-nos de que o cinema ainda não morreu.


Eleições e terceiro-mundismo

Que caracteriza as eleições num país terceiro-mundista? Segundo Mario Vargas Llosa:

O protótipo de uma eleição terceiro-mundista é que nela tudo parece estar em questão e regressar ao zero, desde a própria natureza das instituições até à política económica e às relações entre poder e sociedade. E, em consequência, o país retrocede de imediato, perdendo da noite para o dia tudo o que ganhou ao longo de anos...

Greve em Teerão

Condutores de transportes públicos fizeram greve ontem em Teerão, apesar da forte repressão que teve como objecto activistas e as suas famílias. Esperam-se acusações falsas para legitimar condenações severas. (Via Publius Pundit)

sábado, janeiro 28

A mente não tão louca de Ahmadinejad

Nma lúcida análise de Victor Davis Hanson, traduzida em Libertad Digital, refere-se que a Europa, pelas piores razões, é um dos alvos do discurso de Ahmadinejad. Saliento:

...levantar dudas sobre ese genocidio es tan objetivo de Ahmadineyad, como apuntar sus armas al centro de Tel Aviv. La negación del Holocausto es un juego cansino pero su forma de abordarlo es distinta.

Ha estudiado la moderna mente postmoderna de Occidente, alimentada por la sagrada trinidad del multiculturalismo, la equivalencia moral y el relativismo. Como populista del Tercer Mundo, Ahmadineyad espera que su propio fascismo escape al escrutinio público si logra enumerar la suficiente cantidad de pecados pasados de Occidente. También entiende de victimismo. Así es que también sabe que para destruir a los israelíes, él –no ellos– debe convertirse en la víctima y que los europeos han de ser los que fuercen su mano. Citando a Ahmadineyad:

“De modo que les pregunto: Si en verdad ustedes cometieron ese gran crimen, ¿por qué la gente oprimida de Palestina debe ser castigada por ello? Si ustedes cometieron un crimen, son ustedes los que deberían pagar por ello.”

Ahmadineyad también comprende que hay millones de occidentales altamente educados pero cínicos, que no ven nada excepcional en su propia cultura. Si el democrático Estados Unidos tiene armas nucleares, ¿por qué no el Irán teocrático? “Los arsenales de Occidente rebosan a tope, sin embargo cuando es el turno de una nación como la mía para que desarrolle tecnología nuclear pacífica, ustedes objetan y recurren a las amenazas.”

Además, él sabe cómo funciona el relativismo occidental. De modo que, ¿quién puede decir que estos son “hechos”, o que esto es “verdad”, dada la tendencia de los poderosos a “construir” sus propias narrativas y llamar a ese resultado “Historia”? ¿No será que se exageró el Holocausto o que quizá hasta fue un invento, y que las simples cárceles se convirtieron en “campos de la muerte” gracias a un truco del lenguaje para apoderarse de tierra palestina?

Nos reímos pensando que todo esto es absurdo. Pero no deberíamos. El dinero, el petróleo y las amenazas han traído a los teócratas iraníes hasta el umbral mismo de un arsenal nuclear. Su extraordinario diagnóstico del malestar occidental los ha convencido ahora de que pueden fabricar cuidadosamente una realidad sin Holocausto en la cual los musulmanes son las víctimas y los judíos los agresores merecedores de castigo. Y por ende, el Irán moralmente agraviado (y nuclear) de Ahmadineyad podrá por fin, después de “cientos de años de guerra”, poner las cosas en su sitio en Oriente Medio.

Y entonces, a un mundo que desea continuar ganando dinero y conducir coches en paz no le importará mucho la forma cómo este hombre escogido por la divinidad termine finalmente con esa fastidiosa “guerra del destino”.

O mundo ao contrário (lido nos jornais)

Luigi Cascioli acusou o padre Enrico Righi de abusar da credulidade popular ao apresentar Jesus Cristo como figura histórica. Esta notícia vem relatada no PÚBLICO de hoje e tinha já sido referida no Insurgente a partir de outra fonte. Mas a notícia diz também que o juiz do tribunal de Viterbo a quem a acusação foi apresentada vai ter "que ter tempo para reflectir se Jesus existiu ou não". Mais extraordinário do que a acusação é o facto de ela ter sido, ao que parece, aceite pelo juiz. No país onde Oriana Fallacci foi recentemente condenada por ofensas ao Islão, imagina-se um juiz a aceitar a queixa de alguém que pusesse em causa o facto de se propagar que Deus ditou o Corão a Maomé?

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Um polícia de 33 anos de Ronda (Málaga) assassinou a tiro a ex-namorada. O polícia era membro da Assembleia Local Contra a Violência de Género. Era considerado muito competente nos aspectos jurídico e policial, sendo por isso frequentemente elogiado pelas organizações de mulheres.

quinta-feira, janeiro 26

A Grande Muralha em versão Google

O Google entrou na China, mas deixa à porta temas cuja consulta não convém ao governo chinês (Amnesty, independência de Taiwan, Tiananmen, etc. etc.)

domingo, janeiro 22

Duas evidências

Primeira: "Esquerda" é uma ficção (como "Direita", aliás). Alguém imagina como se concretizaria um governo que juntasse Soares e Louçã, ou Louçã e Jerónimo, ou...?

Segunda: Sócrates seria o secretário geral ideal do PSD. O PS que está no governo actual já é, de resto, equivalente ao PSD em termos práticos.

Impressões do dia

Neste momento, o assunto eleitoral português é ainda tabu para efeitos de publicação. Tendo em conta o chorrilho de banalidades e insultos gratuitos que abundantemente nos matraqueram nos dias anteriores, pena é que o tabu se limite a estes dois dias.

Em Espanha, entretanto, passam-se coisas que poderão ter impactos significativos no futuro - o nosso incluído:

1. O Estatut avança: o acordo parece ter sido conseguido à custa de mencionar o termo nação, com referência à Catalunha, apenas no preâmbulo e não no articulado, onde não se passa da palavra nacionalidade. Subtilezas determinantes que não conseguem esconder uma fractura.

2. Em Barakaldo, Arnaldo Otegi interveio ontem num comício desafiando a proibição do congresso de Batasuna e pediu a Espanha e França que respeitem a nação basca.

3. Uma sondagem do ABC revela hoje que, a meio da legislatura, o PSOE é ultrapassado (1%) pelo PP em intenção de voto.

4. Recorda-se que a poligamia está às portas de Europa e que, já a propósito do casamento de homossexuais, José Luis Requero, porta voz do Conselho Geral de juízes, se interrogava como se poderia, num futuro próximo, evitar reconhecer o casamento poligâmico. Problema difícil, resposta difícil, a exigir um cuidado extremo nas motivações da acção política e na clarificação dos princípios e valores que se pretende defender.

sábado, janeiro 21

O amor nos tempos de internet (6)

Na tarde de sexta feira saí mais cedo e arranquei para o Porto. Tinha ficado combinado que me encontraria com a Matilde às 10 de sábado no terminal rodoviário. Apesar do excelente ambiente no hotel e da macieza do colchão não dormi muito: acordei às cinco e a minha cabeça, cheia de Matilde, não permitiu a reentrada do sono.

Nos dias anteriores tinha sido delicado manejar a convivência com a Rita. Prudentemente, não tínhamos tomado nenhuma decisão, mas ela dormia frequentemente lá em casa. Olha, vou ter que ir de urgência a Barcelona. Há reunião do conselho da Ibervida no sábado, disse eu. Surgiu a oportunidade de uma fusão com a Ellos e é necessário fazer uma avaliação prévia da situação.

Ah, sim? disse ela, sem levantar os olhos do dossier em que estava a preencher dados. Mas de quem partiu a proposta? Percebia-se a incredulidade que ela
pretendia sublinhar. Eu estava relativamente tranquilo: a situação da Rita na Mundial não lhe permitia ter acesso ao conhecimento das grandes operações que se desenhavam no mundo dos seguros. É verdade, insisti. Vai ser um dia inteiro de reunião e não sei se não continuará ao domingo. Que stress, isto caiu-me em cima de repente.

Como eu calculava, conhecendo a grande discreção da Rita, ela aceitou implicitamente que na sexta feira regressaria à sua casa e só voltaríamos a ver-nos na minha volta. Também não se ofereceu para me conduzir ao aeroporto, o que me evitou a maçada de pôr em acção o plano B, e a hora de chegada que lhe anunciei, para a manhã de 2ª feira, era totalmente dissuasora de uma espera.

Na manhã de sábado o Porto acordou com aguaceiros e frio. Quando me aproximei de carro a chuva tinha parado. Reconheci a Matilde imediatamente: vestia um casaco bege grosso e fazia oscilar na mão um pequeno guarda chuva azul claro, a linha do olhar perpendicular à estrada e a boca entreaberta num sorriso. Virou-se como se adivinhasse a minha aproximação. Ao entrar pôs a mão nas minhas e mostrou-me o olhar mais luminoso que eu já tinha visto. Não era uma mulher, era um milagre. Matilde diz: olá!!!, disse-me. Depois de uma fracção de segundo compreendi e retribuí: L. diz: agora sim, vou-te beijar, e passei ao acto quando já de trás me businavam. Foi o início de dois dias que marcaram todos os dias que se seguiram.

Na segunda feira, quando a Rita chegou para o jantar, lá estava a minha mala de viagem displicentemente abandonada no chão do quarto, com a etiqueta de um voo anterior porque eu tinha a certeza de que não lhe passaria pela cabeça ir controlar a data. Detesto ter de descrever o meu cinismo e a minha capacidade de fazer jogo duplo. Não me agrada que o autor disto nos ponha a falar na primeira pessoa. Um narrador omnisciente e distanciado falaria muito melhor do meu lado sombrio.

quinta-feira, janeiro 19

Direitos humanos

A introdução do World Report 2006 do Human Rights Watch, escrita por Kenneth Roth, está dividida em 13 parágrafos. Os quatro primeiros ocupam-se demoradamente, a nível de artigo de opinião, das violações de direitos humanos em que os Estados Unidos estarão implicados. Dois parágrafos seguintes referem de modo crítico certos aliados dos Estados Unidos. O 7º parágrafo enuncia, veladamente, uma justificação: as anteriores violações poderão originar incremento da actividade terrorista. Já estamos a meio do texto, é por isso altura de fazer algumas referências de obrigação: Sudão, Coreia do Norte, China, Rússia e vários outros. Da Arábia Saudita, da Síria e do Vietname mencionam-se, por exemplo, "restrições apertadas à sociedade civil". No parágrafo 9 há ainda espaço para referir a diminuição de credibilidade dos EEUU na defesa de direitos humanos. Há meia linha para as atrocidades na Chechénia. O Irão não é mencionado.

Claro que o relatório não se reduz à introdução, mas é aqui que se sublinham pontos fortes. O texto parece mais motivado por ideologia do que por factos. Assim, há risco de diminuição de credibilidade do Human Rights Watch.

PS: Em artigo publicado hoje no Los Angeles Times, Shirin Ebadi e Muhammad Sahimi escrevem: Western nations should help the U.N. appoint a special human rights monitor for Iran. It would remind the General Assembly of Iran's human rights record annually, and strongly condemn it if the record keeps deteriorating. Contrary to the general perception, Iran's clerics are sensitive to outside criticism.

The World Bank should stop providing Iran with loans and, instead, work with nongovernmental organizations and the private sector to strengthen civil society. The West should support Iran's human-rights and democracy advocates, nominate jailed leaders for international awards and keep the cause in the public eye. Western nations should downgrade diplomatic relations if Iran continues violating basic human rights.

segunda-feira, janeiro 16

Futilidades

Primeira. Uma sociedade agrícola de Estremoz lançou um tinto de 2004 com nome de desodorizante: ÍNTIMO. É gostoso e, tendo em conta o preço, uma boa compra. O rótulo é parco nos habituais adjectivos, limitando-se a mencionar com modéstia "algum corpo e estrutura".

Segunda. Na minha opinião há pelo menos um nicho de mercado à espera de iniciativa: filmes em versão abreviada para quem não quer passar três horas, e às vezes nem duas, na sala escura. Como quase todos os filmes da produção corrente mostram muito mais que o estritamente necessário, editar a versão abreviada deve ser um exercício banal e que na maior parte dos casos só beneficia o filme. Os cinemas multiplex teriam então encontrado a sua verdadeira razão de existir, com uma distinção entre salas para quem tem tempo e salas para quem tem falta de tempo. Fico à espera.

O racismo recuperado

Em artigo publicado hoje, a não perder, Mario Vargas Llosa faz notar que, apesar de ainda há poucos anos o racismo ter sido olhado como uma perigosa tara, ele está agora a recuperar protagonismo e respeitabilidade com a bênção de um sector irresponsável da esquerda, convertendo-se em valor que pode determinar a bondade e a maldade das pessoas, isto é, a sua correcção ou incorrecção política.

Figuras que têm vindo a contribuir para esta promoção: Chávez, Morales e agora também a família Humala no Peru.

domingo, janeiro 15

Central Madeirense

É o nome de uma cadeia de supermercados na Venezuela, gerida por emigrantes madeirenses. Vem aqui referida a propósito da crescente escassez de alguns produtos alimentares e subida de inflacção.

sexta-feira, janeiro 13

Bem sei que ninguém perguntou...

... mas hoje vem a propósito responder: a listagem referida nesta "adivinha" obtém-se procurando no google (em português) sampaio preocupado. Se fosse hoje teria surgido um novo item:

escutas telefónicas

quarta-feira, janeiro 11

O amor nos tempos de internet (5)

SOFIA

Sabia que ia fazer o L. sofrer muito, mas para mim também não tem sido fácil. Há cinco meses que saí da casa dele para viver com o Filipe e tenho frequentemente vontade de estar com ele. Como ele nunca mais me contactou, contenho-me. Um dia enviei-lhe um SMS: não quero incomodar-te só queria saber se estás bem. A resposta demorou três dias e tinha duas palavras: estou vivo.

É claro que não posso culpar-me de procurar o que a vida me pode dar. Seria hipocrisia estar com o L. e não me sentir completa. Os vinte e dois anos de diferença entre nós tinham começado a pesar um ano atrás. De repente tive a sensação de me descobrir aos trinta anos com a vida por viver. O Filipe devolveu-me uma boa parte do que me faltava. Mas tenho saudades da companhia e das conversas com o L. e até por vezes de fazer amor com ele. No trabalho, agora evitamo-nos um ao outro - o que não é problema, dantes é que tínhamos de fazer de propósito para nos encontrarmos. Um dia ele disse-me que agora andava com outra, mais ou menos da minha idade e que por coincidência trabalha na concorrência. Muito discreto nas informações, vê-se que não quer muita conversa comigo.

Por isso estranhei quando o L. me procurou certa manhã fria e nebulosa de dezembro. Por acaso, ou não, eu estava a pensar muito nele. Fiquei então a saber que havia um problema com o Eduardo. Preciso que me faças um grande favor: telefona ao teu amigo António, o advogado de Coimbra, e procura saber se ele estava em casa no sábado. Já te explico.

Conhecendo-o bem, percebi que estava transtornado. Eu sabia como o L. perdia a orientação quando havia um problema relacionado comigo ou com o filho.

RITA

Nunca percebi bem o que levou o L. a reatar comigo. Não entendo, pronto. Não sei o que diga mais. Aquela conversa de bem sabes que gostei muito de ti quando nos conhecemos mas nessa altura não era possível, mas agora que estou separado... Só sei que apesar do que muita gente pensa de mim, eu não sou parva, pelo menos não me considero. Quando estamos juntos é bom mas sinto no ar uma coisa esquisita, não sei o que diga mais. Há uma semana disse-me que tinha que ir a Barcelona em trabalho e nem me perguntou se eu queria ir com ele. Sim, eu podia pagar o bilhete de avião, mas ele nem me deu hipótese, desculpou-se com os aspectos profissionais da viagem. Mas para mim é esquisito, pronto, não sei o que diga mais. Agora de repente ficou muito preocupado com o filho. Durante anos e anos, desde o divórcio da primeira mulher, quase não lhe ligou. Para acordar agora é porque há sarilho com o Eduardo. Estúpida é que eu não sou.

segunda-feira, janeiro 9

Odete e o tempo perdido

Tendo decidido ir ao cinema, escolhi Odete por ter duração de apenas uma hora e meia.

Alberto abandona Odete e informa-a de que isso é definitivo por sms que lemos em grande plano num nokiazinho. Duas frases em português ortograficamente impecável: um sinal de que não devemos levar o filme a sério.

Uma ideia potencialmente interessante é desbaratada por preguiça: o comportamento da personagem central (Odete?) parece inspirado não na vida mas numa qualquer vulgata freudiana estereotipada.

No final, após uma cena "fracturante" de mau gosto, surge a legenda "dedicado aos meus pais". Gargalhada geral na sala. O público não perdeu o juízo.

Contaminação

A TSF iniciou esta manhã uma série de curtos programas sobre o Padre Manuel Antunes. O primeiro depoimento foi de Barata Moura. Muitos elogios, o afloramento de uma dúvida a respeito da revolução de Abril logo esconjurado. Sobre o pensamento e a obra da figura recordada? Absolutamente nada: conteúdo zero. Talvez seja resultado da contaminação pelo discurso da campanha eleitoral.

domingo, janeiro 8

Humala no dominó de Chávez

...ou alargamento em perspectiva do eixo do bem ao Peru? artigo de Alvaro Vargas Llosa.

sexta-feira, janeiro 6

PRISA, um amigo

Evo Morales declarou ontem em Espanha que desde que el grupo mediático español Prisa se hizo con la participación en varios medios de comunicación bolivianos, estos han dejado de acosarlo, como hacían antes. Disse mesmo que o grupo PRISA parece o chefe de campanha do seu partido, o MAS.

quinta-feira, janeiro 5

Perguntar não ofende

Os grupos, partidos e blogs que se assumem defensores dos direitos dos homossexuais não têm nada que dizer acerca da história de Amir (uma entre muitas)?
Será por estarem entretidos com a homofobia do papa, ou com a falta de apoio explícito de Cavaco ao casamento gay? ou ainda porque o Irão é um pais amigo do eixo do bem?

Lisboa, Tejo e neblina


quarta-feira, janeiro 4

O amor nos tempos de internet (4)

Recbi o teu mail. Liga-te agora. Ja te adicionei. Júlia
Enviado: 22-10-2004 21:58:03

L. diz:
olá Júlia!

Julia20 diz:
ola papá!

L. diz:
já fui e nao quero ser outra vez...

Julia20 diz:
tou a brincar ctg, fofo

Julia20 diz:
tá descansado k não tenho nenhum trauma com o pai nem inveja de penis

L. diz:
lol... fizeste-me rir

Julia20 diz:
nao era essa a ideia?

L. diz:
gostei mt da tua voz há bocado

Julia20 diz:
e eu da tua, nao parece de um homem da tua idd

L. diz:
e vais deixar-me ver-te agora?

L. diz:
eu dou o tiro de partida. aí estou eu, foi tirada há 4 meses

Julia20 diz:
uau, mt bem

L. diz:
és tu? isso é real?

Julia20 diz:
eu digitalizadinha

L. diz:
a rapaziada de guimaraes deve andar distraída, nao?

Julia20 diz:
gosto mais com a rodagem feita... lol

Julia20 diz:
olha, o meu nome não é júlia

L. diz:
???

Julia20 diz:
sou matilde

L. diz:
matilde... the most beautiful sound i ever heard

Julia20 diz:
nao sabia k tambem eras poeta

L. diz:
nao é meu, depois explico. quando posso então ver-te ao vivo e a cores?

Julia20 diz:
vem kuando kiseres

L. diz:
e os papás, os verdadeiros?

Julia20 diz:
digo k vou passar o fim de semana em kasa de uma colega no porto

L. diz:
sabado evaporo aqui e chovo aí

Ainda teclámos mais de uma hora. O primeiro contacto telefónico, momentos antes, com a Matilde que para mim ainda se chamava Júlia, descarregara-me o saldo do cartão mas tinha-me posto em movimento todos os fluidos interiores pela primeira vez desde a fuga de Sofia.

Atenção: já temos eixo do bem

Caracas-La Paz- Havana.

terça-feira, janeiro 3

Adivinha

futuro da EDP
finanças públicas
pobreza em Portugal
abstenção
o Alqueva
questões de saúde
autarquias
futuro do interior
impacto internacional da pedofilia
precaridade laboral
assimetrias de desenvolvimento
economia nacional
prisões portuguesas
jornalistas

Que lista é esta? Por outras palavras, que há de comum a todos estes items? (Sugestão: a lista não é completa; quando se procura no google surgem 367 resultados.)

segunda-feira, janeiro 2

A devoção de Chávez

Pode parecer surpreendente, mas o presidente Hugo Chávez é um admirador e invocador de Cristo que quase se pode considerar um sério devoto. Se há dúvidas, leia-se aqui um seu discurso do passado 24 de Dezembro. Pelo meio escapou-lhe o trecho seguinte:

El mundo tiene para todos, pues, pero resulta que unas minorías, los descendientes de los mismos que crucificaron a Cristo, los descendientes de los mismos que echaron a Bolívar de aquí y también lo crucificaron a su manera en Santa Marta, allá en Colombia. Una minoría se adueñó de las riquezas del mundo, (…) del oro del planeta, de la plata, de los minerales, de las aguas, de las tierras buenas, del petróleo, de las riquezas, pues, y han concentrado las riquezas en pocas manos(…)

Os itálicos são meus. Tenho que fazer alguma coisa.