quarta-feira, janeiro 11

O amor nos tempos de internet (5)

SOFIA

Sabia que ia fazer o L. sofrer muito, mas para mim também não tem sido fácil. Há cinco meses que saí da casa dele para viver com o Filipe e tenho frequentemente vontade de estar com ele. Como ele nunca mais me contactou, contenho-me. Um dia enviei-lhe um SMS: não quero incomodar-te só queria saber se estás bem. A resposta demorou três dias e tinha duas palavras: estou vivo.

É claro que não posso culpar-me de procurar o que a vida me pode dar. Seria hipocrisia estar com o L. e não me sentir completa. Os vinte e dois anos de diferença entre nós tinham começado a pesar um ano atrás. De repente tive a sensação de me descobrir aos trinta anos com a vida por viver. O Filipe devolveu-me uma boa parte do que me faltava. Mas tenho saudades da companhia e das conversas com o L. e até por vezes de fazer amor com ele. No trabalho, agora evitamo-nos um ao outro - o que não é problema, dantes é que tínhamos de fazer de propósito para nos encontrarmos. Um dia ele disse-me que agora andava com outra, mais ou menos da minha idade e que por coincidência trabalha na concorrência. Muito discreto nas informações, vê-se que não quer muita conversa comigo.

Por isso estranhei quando o L. me procurou certa manhã fria e nebulosa de dezembro. Por acaso, ou não, eu estava a pensar muito nele. Fiquei então a saber que havia um problema com o Eduardo. Preciso que me faças um grande favor: telefona ao teu amigo António, o advogado de Coimbra, e procura saber se ele estava em casa no sábado. Já te explico.

Conhecendo-o bem, percebi que estava transtornado. Eu sabia como o L. perdia a orientação quando havia um problema relacionado comigo ou com o filho.

RITA

Nunca percebi bem o que levou o L. a reatar comigo. Não entendo, pronto. Não sei o que diga mais. Aquela conversa de bem sabes que gostei muito de ti quando nos conhecemos mas nessa altura não era possível, mas agora que estou separado... Só sei que apesar do que muita gente pensa de mim, eu não sou parva, pelo menos não me considero. Quando estamos juntos é bom mas sinto no ar uma coisa esquisita, não sei o que diga mais. Há uma semana disse-me que tinha que ir a Barcelona em trabalho e nem me perguntou se eu queria ir com ele. Sim, eu podia pagar o bilhete de avião, mas ele nem me deu hipótese, desculpou-se com os aspectos profissionais da viagem. Mas para mim é esquisito, pronto, não sei o que diga mais. Agora de repente ficou muito preocupado com o filho. Durante anos e anos, desde o divórcio da primeira mulher, quase não lhe ligou. Para acordar agora é porque há sarilho com o Eduardo. Estúpida é que eu não sou.

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