domingo, janeiro 18

Há gaz em Haifa

Se esta notícia se confirma, ainda vamos ver surgir muitos novos amigos de Israel.

O triunfo de Hitler

É frequente nos meios de comunicação e na opinião pública ocidental sustentar a comparação dos actos de guerra israelitas com actos nazis. Como bem notou David Aaronovitch no Times, comparar Gaza com o ghetto de Varsóvia denota uma imensa falta de sentido da proporcionalidade: a equiparação só teria sentido com o assassinato intencional de meio milhão de palestinianos. De resto, tendo continuado o lançamento de rockets a partir de Gaza durante as últimas semanas, até se poderia ser levado a pensar que a ofensiva israelita era insuficiente.

As reacções a este conflito mostram um mundo feio e deprimente. "Élites" ocidentais que se julgam muito "progres" colam-se sem pudor a um movimento terrorista e retrógrado que só de olhos bem fechados se pode encarar como representante do "povo palestiniano", e que tem na sua carta de constituição o propósito de destruição de Israel. Manifestações das várias esquerdas nas cidades europeias e americanas são cavalgadas, obviamente, por sectores islâmicos; mas, curiosamente, não parecem ter sido estes a convocar a presente fornada de protestos. Não houve notícias de carros incendiados pelo mundo muçulmano como quando do episódio das caricaturas. Eles têm direito às suas prioridades, e com toda a evidência preocupa-os mais um cartoon sobre o profeta do que a sorte dos tais palestinianos. De resto, não têm que se preocupar, porque os idiotas úteis fazem o serviço por eles.

No meio de tudo isto, não são só os israelitas que estão sós. Os palestinianos estão-no igualmente, e para já em situação de catástrofe. Usadas famílias civis, crianças, escolas e hospitais como escudo, ninguém na verdade tem pena deles. Os bem-pensantes ocidentais, no fundo, apenas encontraram mais uma excelente ocasião para exibir sem sombra de vergonha o ancestral ódio ao judeu que parece habitar-nos. Uns dias atrás, um deputado socialista em Amsterdão fazia o resumo do que outros pensam, gritando num comício "judeus para o gás" (rimando com Hamas). Demorou mais de sessenta anos, mas Hitler acabou por ser compreendido.

terça-feira, janeiro 13

Poderia Obama acontecer em África?

Em palavras simples, Mia Couto explica porque é que a eleição de um Obama não poderia acontecer em África:
1) porque um dos seus concorrentes inventaria uma revisão constitucional para prolongar o mandato e seriam necessários muitos anos antes de nova candidatura;
2) porque talvez nem tivesse oportunidade de fazer campanha: muito provavelmente seria agredido e tiravam-lhe o passaporte, já que "os Bush africanos não toleram opositores";
3) porque não é suficientemente negro: sendo descendente de estrangeiros poderia ser declarado um candidato ilegal e seria visto pelas elites predadoras como um africano não autêntico.;
4) porque, mesmo que acabasse por ser eleito, teria de negociar políticas de governo com "um qualquer Bush", negociando a vontade do povo expressa no voto.

Mia Couto identifica com clareza os males de grande parte dos sistemas políticos africanos, e não atribui culpas aos de fora. Não se compreende é a comparação feita com Bush. Este foi eleito por vontade dos americanos quando terminou uma presidência democrata, e o candidato republicano foi derrotado quando o seu mandato chegava ao fim. E não consta que Obama vá governar sob os princípios da administração anterior. Não há um Bush em África exactamente pelas mesmas razões que não há lá um Obama.