segunda-feira, abril 30

O clima aquece e a discussão também

Vale a pena ler o texto de Lubos Motl a propósito do relatório do IPCC, acabado de publicar. Vale a pena também seguir a discussão nas caixas de comentários.

domingo, abril 29

Telemóveis ilibados

Dados novos sobre o misterioso desaparecimento das abelhas vêm inocentar os telemóveis, apontados em notícias recentes como causadores da desorientação destes insectos por causa das radiações que emitem. Parece que o verdadeiro culpado tem um nome mais difícil de dizer: trata-se do parasita "nosema ceranae", que tem origem na Ásia e ataca o sistema digestivo das abelhas, enfraquecendo-as a ponto de as impedir de regressar à colmeia. São investigadores espanhóis que o afirmam, e acrescentam que as altas temperaturas dos últimos anos constituem outro factor adverso. Seja como for, o assunto é sério, dado o papel das abelhas na polinização.

Percentagens

De acordo com sondagem CSA-Cisco, dos muçulmanos que votaram na primeira volta das presidenciais em França 64% escolheram Royal. Bayrou foi a opção de 19%, e Sarkozy vem no fim com 1%.

sexta-feira, abril 27

A ex-doutora


Marilee Jones era a personagem chave do gabinete de apoio aos novos alunos no MIT. Reputada e premiada, tinha no seu currículo um PhD não especificado e "masters" em biologia e química. Assim passou 28 anos a apontar aos alunos o caminho para a universidade sem stress. Parece agora que não tinha nenhum dos graus que se atribuía e a demissão foi inevitável.

No seu livro de recomendações aos estudantes, Less stress, more success, aconselhava-os a nunca se fazerem passar por aquilo que não eram.

Eu acho que uma pessoa que consegue uma posição como a de Marilee ao longo de 28 anos, sem que ninguém note a ausência dos graus académicos, demonstra uma competência profissional para a qual devia estar prevista uma equivalência ao doutoramento. Mas talvez esteja a deixar-me levar por histórias cá da terra. Não consta que lá por Massachussets alguém tenha vindo a apontar Marilee como exemplo a seguir.

Para o bloco de notas de Jorge Sampaio

Com muitas fanfarras e dois dias de música, Aunty Muiduguri, nigeriana de 45 anos, casou com quatro raparigas no domingo passado, no estado de Kano. As autoridades, alertadas, arrasaram o edifício onde a cerimónia se realizou e procuram as cinco mulheres, que se encontram em fuga. É melhor para elas que consigam fugir mesmo. A polícia está determinada em encontrá-las para que lhes seja aplicado o castigo à medida da afronta à civilização e à cultura: chicotadas ou apedrejamento.

quarta-feira, abril 25

Em torno de uma anã vermelha



Está desde ontem nas notícias de todas as agências: foi descoberto por uma equipa de astrónomos franceses e suiços (que inclui Xavier Bonfils, da Universidade de Lisboa) um planeta com algumas características que o aproximam do nosso. Gravita em torno da estrela Gliese 581, tem dimensões e massa pouco maiores que as da Terra e à sua superfície teríamos a sensação de pesar o dobro. Fica só a 20 anos-luz.

terça-feira, abril 24

A justiça divina

Finalmente tivemos direito a declarações bombásticas. Alberto João Jardim, homem incapaz de não ceder a um impulso, não consegue calar: foi-lhe revelado que o nosso PM está a sofrer as consequências da Justiça de Deus. Ora, ao alardear o facto do modo como o fez, acaba por interferir com a justiça divina e retirar-lhe força. Um minuto de reflexão aconselharia, caso AJJ quisesse colocar-se realmente do lado de Deus, a gritar em público a sua solidariedade com Sócrates neste transe difícil mas passageiro. Mais ao menos ao estilo do que fez o major Valentim. Ou então adoptava a atitude séria e cínica de Portas, que passou a utilizar a expressão Engenheiro Sócrates três vezes por minuto.

segunda-feira, abril 23

Dia do livro



-A senhora Mita disse-me que quando fores mais crescida vai ensinar-te o trabalho de enfermeira para poderes entrar para o hospital.

-Não quero, são umas desgraçadas.

-Pior é a Felisa.

-As enfermeiras andam sempre com as batas gastas e rotas.

-Mas é melhor do que ser criada.

-De que escapou o senhor?

-De ser morto por um marido cornudo.

-Mas o senhor nunca sai se não for com a senhora.

-Mas quando era solteiro salvou-se de ser esfaqueado mais de uma vez. Vai para enfermeira, Amparo.

-Sei de uma enfermeira que pariu solteira.

-A tua irmã também pariu solteira, quem julgas que és?

(......)

-Amparo, tens que levar esta carta ao correio. Penteia bem o meu negrinho, daqui a bocado vamos levá-lo a ver a mãe.

-Levo-o comigo ao correio, senhor.

-Amparo, lembra-te que juraste que não dirias a ninguém.

- Eu não disse a ninguém. Deus me mate aqui já.

-Nunca digas a Mita que temos um segredo.

-Não, senhor. Mas a senhora perguntou-me porque é que eu tinha o braço negro.

-Negro de quê?

-De quando o senhor viu que eu o vi atrás da porta , à escuta da conversa delas.

-Que braço negro?

-O senhor sem se dar conta apertou-me com muita força até que lhe jurei que não ia dizer nada à senhora Mita.

Manuel Puig, La traición de Rita Hayworth, edição definitiva 1976. Quadro de António Berni.

O mau véu



Desde a semana passada, a polícia iraniana está empenhada em fazer cumprir os novos regulamentos sobre indumentária feminina. Combate-se o "mau véu", que deixa à mostra madeixas de cabelo não inocentes, e a crecente ocidentalização do vestuário. A intenção não podia ser melhor: as autoridades afirmam que estas mulheres desleixadas correm um risco muito maior de ser agredidas.

(Foto Fars News)

domingo, abril 15

O espírito de Abril

Em artigo no PÚBLICO de hoje, Elísio Estanque (do Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra) lamenta o individualismo, a dependência das hierarquias, o discurso tecnocrático, a aversão ao sindicalismo que caracterizam actualmente as relações laborais. Como fonte do descalabro, aponta forças difusas a que chama "vozes do dono" e identifica com "detentores do poder" infiltrados no mundo empresarial. Como hipotética salvação, refere essa entidade metafísica chamada "espírito de Abril" ao qual, parece, estão associadas "promessas" esquecidas. E depois? Depois, o artigo resume-se a isto.

Julgava que a Sociologia dava chaves para compreender o mundo mesmo quando ele não está de acordo com os desejos do observador.

Aniversário: Leonhard Euler


Faz hoje 300 anos que nasceu este matemático excepcional, também um dos mais produtivos de todos os tempos. No site da Mathematical Association of America há uma interessante série de artigos de Ed Sandifer, que abrange desde os "greatest hits" de Euler até especulações sobre o interesse do grande matemático pela teoria da terra oca...

Incertezas

Pouco se comenta, entre os dirigentes europeus, o ressurgimento de actos terroristas espectaculares em Marrocos e na Argélia, e o anúncio simultâneo de ameaças da Al-Qaeda à Europa. Entre nós, não se comenta absolutamente nada. E os objectivos confessados do grupo terrorista são claros: França e Espanha estão na mira. A reconquista de Al-Andaluz define a fasquia.

Como Al-Andaluz é já ali ao lado, e Espanha é um termo que para o efeito em causa pode muito bem englobar território português, e também por sabermos que quem ameaça não brinca em serviço, é de esperar que o que parece distracção seja apenas aparente e as forças de segurança europeias (incluindo as nossas) estejam tomar providências. A reconquista propriamente dita não será fácil, mas a capacidade de provocar umas centenas de estropiados ou uns milhares que queimados vivos é coisa de que a Al-Qaeda já deu provas que bastem. Entretanto, a bomba relógio dos diferenciais de taxa de natalidade vai fazendo o seu trabalho.

O assunto não agradará a muita gente. Fica a claro que as políticas conciliadoras de Zapatero e dos políticos franceses relativamente às populações islâmicas nos seus países, e a sua hostilização dos Estados Unidos, de nada valem face aos objectivos do terrorismo islâmico global.

Em França, os candidatos à presidência disputam entre si ora o apoio dos imigrantes, ora o receio que eles infundem, de uma maneira nem sempre coerente. O apoio de certos círculos islâmicos a Le Pen não deixa de surpreender.

Não há dúvida de que a realidade é muito mais complexa do que os esquemas a preto-e-branco com que tentamos interpretá-la. Para o cidadão comum, que não está na posse senão de uma quantidade limitada de informação, é difícil avaliar opções. O problema é que aqueles que se candiadatam a representar-nos e a governar-nos aparentam também, por vezes, não estarem na posse de uma "ideia", ou não saberem muito mais do que nós. Quando é prioritário gerir mandatos de quatro ou cinco anos, pensar a sério no futuro da Europa pode ficar para depois.

16:9


Vamos lá abordar temas profundos e importantes. Intriga-me um subproduto do materialismo vigente, que consiste na utilização de um objecto pelo gozo único da sua ostentação, distorcendo a função para que ele está concebido. Poderia dar muitos exemplos, mas há um que, literalmente, entra pelos olhos dentro. Desde que apareceram os televisores panorâmicos, não há quem não goste de ter o seu. Eles estão nos hipermercados, nos consultórios, nos cafés, nas casas. Como as emissões no formato panorâmico não são frequentes, só tenho memória de ver, nesses ecrans alongados, cenas com personagens artificialmente atarracadas por uma compressão vertical. Ninguém parece incomodar-se com isso, embora a restauração do formato correcto esteja à distância de uma tecla. O que é preciso é encher o olho (neste caso, o ecran).

sexta-feira, abril 6

Giovanni Bellini

Dúvidas

Esta manhã ouvi no RCP uma conversa bem disposta com uma psicóloga (Ana Oliveira). A certa altura, a conversadora sustentou que as mulheres são, em geral, mais fiéis do que os homens nas suas relações amorosas.

Em apoio da tese, referiu que os casais de lésbicas são os mais estáveis. Mas fiquei intrigado quando a senhora referiu que isso tinha a ver com o facto de num casal de lésbicas o sexo estar ausente.

Por outro lado, se os homens são mais infiéis, cada um dos ditos estará a ter encontros furtivos com... mulheres, não? Deve haver então uma "pool" de mulheres descomprometidas, para quem esses encontros não representam infidelidade. Ou então... bem, vou pensar.

quinta-feira, abril 5

Convite a Sampaio

Zapatero convidou Jorge Sampaio a presidir à Aliança de Civilizações, depois de uma recusa de Kofi Annan. Sampaio ainda não aceitou.

A terrível páscoa do Primeiro Ministro

A demora de Sócrates em responder às dúvidas que se têm levantado em jornais, rádio e tv torna as futuras explicações mais difíceis. Em cada dia que passa, surge uma nova questão. Adivinha-se uma páscoa angustiante para o governo, ocupado em preparar o contra-ataque.

Aproveitar a crise da UnI é uma tentação, mas também um pau de dois bicos. Por outro lado, as declarações de Augusto Santos Silva, tentando reduzir o caso a mera conspiração política, não são muito mais que uma fuga às dificuldades reais de enfrentar o problema. Diz Santos Silva que mesmo assim o PS voltará a ganhar eleições: que grande admiração, dada a qualidade das alternativas.

Percebe-se também que mesmo do lado dos sectores de esquerda e do próprio PS despertem desejos de ajustes de contas. A satisfação e labor com que Mário Crespo, no jornal das 21 da SIC Notícias, se dedicou a sublinhar os pontos fracos do caso da obtenção da licenciatura, tendo-se mesmo falado (pela primeira vez, parece-me) da hipótese de demissão do Primeiro Ministro, é sintoma de que a balança pesa perigosamente para o lado dos opositores de Sócrates.

Prendas

Nos dois últimos dias, em dois países cujos dirigentes exibem mútua simpatia, foram distribuídas prendas.

Na Venezuela, os captores de um empresário português devolveram-no à liberdade, ganhando com isso mais de 200 000 euros. (Há outros portugueses raptados que ainda não foram contemplados.)

No Irão, os captores de 15 marinheiros britânicos, por sinal as próprias autoridades do país, decidiram devolver-lhes a liberdade quando, sublinham, poderiam tê-los submetido a julgamento. O acontecimento pode ter resultado de uma disputa interna entre governantes, mas o Presidente do Irão não deixou de aproveitar para se afirmar e confirmar como encenador de talento. Com garantia de transmissão em todos os canais, a mini-novela mostra que a produção de reality-shows é encarada com muito profissionalismo em Teerão. Não só pelo aproveitamento das reviravoltas no argumento, algumas provavelmente motivadas por cedência ao gosto do público ou pela inevitabilidade das coisas, mas também pela atenção ao guarda-roupa (promoção do iraniano-chic) e à qualidade dos diálogos. As falas de Ahmadinejad e as réplicas dos cativos foram de uma qualidade cénica exemplar e, sobretudo no caso do Presidente, impregnadas de um humor fino que goza da ambiguidade de muitos espectadores não estarem alerta para o tomarem como tal. De qualquer modo, os bons da fita ficaram muito bem identificados, e, ao libertar os 15 para o mundo (como numa expulsão da Casa do Big Brother), a estória vai ter ainda mais publicidade garantida. O público-alvo somos nós.

quarta-feira, abril 4

A conversão

Há muitos anos, quando eu andava na primária, a Dona Paulina, minha professora (por acaso competente em gramática e aritmética) pedia-nos todos os dias que rezássemos pela conversão da Rússia. A Rússia já está convertida, embora não exactamente ao que a minha professora desejaria, mas as conversões não ficam por aqui e escapam pela tangente para zonas que antes seriam insuspeitas.

É verdade: há notícias de que Gaspar Llamazares, o dirigente da Izquierda Unida, nosso vizinho aqui ao lado, atravessa uma encruzilhada espiritual e pode ser anunciada a curto prazo a sua conversão ao Islão. Llamazares ainda recentemente apoiou a reivindicação dos muçulmanos de Andaluzia para que a catedral de Córdova (ex-mesquita, e antes disso ex-templo cristão) fosse aberta ao culto islâmico.

Cerca de 70% dos espanhóis convertidos ao Islão nos últimos quinze anos são ex-militantes de grupos radicais de esquerda, segundo a fonte desta notícia do Alerta Digital.

domingo, abril 1

O camião




Estudantes manifestaram-se em Teerão em frente da embaixada britânica. O governo iraniano é exímio nestas encenações que lhe ficam muito baratas. A difusão quase obediente está garantida, até (sobretudo?) pelas televisões ocidentais. Na reportagem transmitida hoje pela BBC era bem visível este camião com pedras posto à disposição dos alegres e ruidosos jovens. E eu a julgar que eles se tinham dado ao trabalho de levar a sua pedrinha ou de arrancar alguma do chão.

As televisões não se ocupam destes pormenores. As opiniões públicas europeias entusiasmam-se mais com os seus fantasmas fascistas passados ou presentes. O Irão sabe que pode descansar.

(Foto Fars News Agency. Via Gateway Pundit.)