sexta-feira, outubro 31

Menção

No Perspectivas, este insignificante blog foi mencionado para o Thinking Blogger Award:



Agradecendo a referência, e dando seguimento às regras do jogo, aqui vão as minhas cinco menções para o prémio:

Esmaltes e Joias Galo Verde The Reference Frame La Libertad y la Ley

terça-feira, outubro 28

A ministra, os professores e os seus equívocos

Está posto no YouTube um vídeo razoavelmente engraçado com o título "A ministra e a manif" (http://www.youtube.com/watch?v=CcEPYAGWH0Q). O autor pegou num excerto de um filme recente sobre Hitler e legendou-o com alguma inspiração. Tem piada quando, por exemplo, a personagem-ministra revela que estava nos seus planos obrigar os professores a fazer comida para as criancinhas e têm piada também as referências a sindicatos e a umas tantas figuras pardacentas do ministério.

O final, porém, é desastroso. A personagem-ministra desespera, irritadíssima com o programa que os professores querem contrapôr. Grita qualquer coisa como: "Que é isso de ensino gratuito, universal e de qualidade?"

O autor do video -- como certamente muitos professores -- engana-se a si próprio quando pensa que esse programa "alternativo" irritaria a ministra. O programa só é alternativo na aparência: as palavras de ordem que o constituem podem repescar-se no agit-prop de qualquer bloco da esquerda. E, já agora, da chamada direita também. A ministra subscrevê-las-ia sem esforço. Os autores do video, e muitos outros, não se dão conta da vacuidade daqueles chavões e, pior do que isso, de que aquela escola já existe e é a que têm. Gratuita: claro, paga com impostos. Universal: sem dúvida! até lhe chamam inclusiva na linguagem pomposa do eduquês. De qualidade: claro, é a escola do sucesso obrigatório e outra coisa não mostram as recentes "melhorias" estatísticas. Só que a realidade é bem diferente das promessas e das palavras. A realidade é o inferno que experimentam no dia a dia.

Quando será que os professores deixam de subscrever sem crítica as receitas dos vendedores de ilusões?

A escola exclusiva

Ainda nao foi desta, mas o Chicago Board of Education mantém a intenção de criar uma escola para crianças homossexuais. A intenção é tão boa como as outras que enchem o inferno: proteger essas crianças do assédio e ataques de que são vítimas. Mas nem todos os pais estão de acordo: Kathy Reese, uma mãe revoltada com a iniciativa, afirma que as crianças não sabem ler nem escrever porque os responsáveis as utilizam com fins de agenda política. O mayor Daley achou bem travar o projecto, até ver.


A proposta veio de Arne Duncan, esperto em educação do CPS (Chicago Public Schools). Mas Daley mostra-se céptico, e há quem levante outras questões: se o problema é o bullying, porque não uma escola para os "bullies"?


Trata-se de uma notícia sem importância, provavelmente. Ou talvez não: é um pequeno sinal de como os Estados Unidos (e o ocidente) podem estar a mudar por força de uma vaga ideológica que condiciona o pensamento e a visão do mundo do cidadão comum.

Curiosidade: o CPS, em que o terrorista e professor de educação William Ayers gastou milhões de dólares não há muitos anos atrás, pelos vistos ficou mal reformado. Provavelmente porque os milhões foram investidos em activismo político e não em educação.

sexta-feira, outubro 24

Catequização para a Cidadania

A Educação para a Cidadania já é, em Espanha, uma disciplina tão obrigatória como a matemática ou a aprendizagem da língua. Um grande número de encarregados de educação tem procurado opor-se-lhe sem grande sucesso. Ainda hoje o La Razón noticia que famílias espanholas, residentes em Portugal, viram recusados pedidos de dispensa da disciplina para os adolescentes a seu cargo que aqui estudam num colégio espanhol.

Quem aderiu com entusiasmo à nova campanha de doutrinação foram os sindicatos espanhóis, que se têm dedicado a produzir materiais "didácticos". Não admira: isso dá trabalho a uns quantos amigalhaços "especialistas" em "cidadania" e, dada a obrigatoriedade da matéria, deve render milhões.

No manual Mi Escuela y el Mundo, solidaridad, educación en valores y ciudadanía, editado pela UGT (secção Ensino) e destinado a crianças dos 6 aos 11 anos, pode ler-se:

En África conviven distintas religiones como el Islam -una religión de paz- y el Animismo. En cada rincón de África, en las ciudades, la selva o el desierto hay escuelas para los niños y las niñas.
Los europeos quisieron hacerse con estos tesoros (oro, marfil…). ¡Y no se les ocurrió nada mejor que robarlos y hacer prisioneras a las personas, convirtiéndolas en esclavos y llevándoselas a Europa y América!
Europa no es más que una península de Asia.
(Sobre a história da América do Sul:) cuando llegaron los españoles… les sorprendió todo lo que los indios sabían de astronomía, matemáticas… pero no iban en son de paz… y como estos pueblos, a los que llamaban indios, no tenían armas de fuego para defenderse, fueron derrotados por unos seres extraños, blancos y barbudos, que llegaron de lejos, atravesando los mares… Cierra los ojos… ¿Lo imaginas?


Não há referências ao cristianismo. Ressalta a visão negativa dos europeus e enaltecem-se a África e a América antes da chegada destes. O livro desenrola o seu argumento na forma de uma viagem de um grupo de jovens à volta do mundo. No regresso, encontram um barco pirata cuja bandeira arco-íris é oportunidade para uma promoçãozita velada do lobby gay admitido por esta neo-ortodoxia.

Parecem confusas as cabeças que escrevem estas coisas? Talvez, mas os seus objectivos são claríssimos.

quinta-feira, outubro 23

Sarah e a roupa


Leu-se hoje por aí um grande alarido por causa do que a candidata Sarah Palin tem gasto em guarda-roupa para a campanha.

Os ascéticos e zelosos beatos que assim se indignam devem estar convencidos de que o Obama e a Hillary vestem nas lojecas de moda da Avenida da Igreja, em Alvalade, e que aguentam a semana inteira sem mudar de fato. Invejosos, mas numa coisa poderão ter razão: sendo a Palin bonita e boa como o milho, 150 000 dólares é um desperdício -- qualquer trapinho da feira de Carcavelos lhe ficava bem.


quarta-feira, outubro 22

O caleidoscópio da realidade

Isto é o que se lia no dia 12:

Stefan Petzner foi designado sucessor de Jorg Haider na liderança do partido populista austríaco BZO. Com apenas 27 anos, Petzner era o porta-voz e considerado como filho adoptivo de Haider e desde 2006 que ocupava o cargo de vice-secretário-geral do partido. O líder histórico da extrema direita, morreu este fim de semana num acidente de viação, quando circulava numa estrada secundária a mais de 140 quilómetros por hora.


Hoje sabemos que Petzner era amante de Haider, e que a esposa deste estava perfeitamente ao corrente, embora tivesse ciúmes de que o marido passasse mais tempo com o delfim do que com ela. É a própria irmã de Petzner que acusa a senhora Haider de nem sempre ser muito compreensiva. Ver-se-á o que fica da imagem do pai de família, com dois filhos, junto do seu eleitorado, mas as perspectivas de Petzner não devem ser agora muito animadoras.

Por outro lado, neste artigo de Gerhard Wisnewski, um ex-guarda costas de Heider lança dúvidas sobre as circunstâncias do acidente, dado que Heider bebia raramente e com moderação, e chama a atenção para um estranho buraco no tecto do carro após o desastre, precisamente acima do lugar do condutor. Segundo este guarda-costas, a polícia terá fechado a investigação cedo demais.

Caso encerrado?



Há cerca de um mês, revelações de Morton Sobell vieram trazer nova luz sobre o controverso caso dos Rosenberg, executados em 1953 em Sing-Sing. Sobell foi réu no mesmo processo e condenado a 30 anos de cadeia dos quais cumpriu 18. Aos 91 anos, acabou por confessar que ele e Julius Rosenberg espiavam para os soviéticos.
A versão popularizada dos trágicos acontecimentos aponta para uma condenação por motivos ideológicos no ambiente de perseguição aos comunistas, nos anos cinquenta na América. Sabe-se agora que não era bem assim. É claro que a condenação ao sinistro grelhador de Brown e Edison terá sempre o poder de nos repugnar. E a sentença de Ethel continua a parecer baseada em provas debilíssimas, sabendo-se que falsos testemunhos da cunhada e do irmão, David (arregimentado por Julius para os trabalhos de espionagem) contribuiram para a incriminar. Uma história sem heróis.

terça-feira, outubro 21

Para o bem do coração





Depois de descobertos os benefícios do vinho tinto, um novo estudo científico vem revelar os benefícios do Staying alive dos Bee Gees(1977) para o coração - neste caso para funções de reanimação. É tempo de os serviços nacionais de saúde comparticiparem a venda de kits domésticos com o cd. E, já agora, quanto teremos de esperar até se poder comprar nas farmácias um Quinta do Carmo por menos de 5 euros (com receita médica, claro)?

domingo, outubro 19

Palavras para o vento levar

1. Al Gore está a espalhar a sua boa nova numa grande conferência em Málaga. As notícias salientam que o grande arrefecedor do planeta promete que a liderança científica mundial vai voltar à Andaluzia, como até há cerca de 500 anos atrás. Dentro da sua lógica, terá certamente razão, visto que se refere aos projectos do Climate Project Spain, bem financiados pelo governo da Andaluzia. Atendendo a quem mandava na Andaluzia precisamente até há 500 anos atrás, Al Gore confessa assim involuntariamente que o Aquecimento Global é mais uma religião do que ciência.

2. Faranaz Keshavjee irrita-se hoje no PÚBLICO com o facto de Eduardo Lourenço ter admitido em entrevista recente que há uma guerra das civilizações. Faranaz, "estudiosa de temas islâmicos", admite mesmo que Eduardo é um pensador medieval. Depois de recordar a existência de "intelectuais árabes e muçulmanos do mais elevado calibre", queixa-se de alguma "guetização dos muçulmanos na Europa" como "fruto da maneira como a Europa rejeita e estigmatiza o Outro". Faranaz mostra-se assim tão conhecedora das subtilezas hegel-sartre-lacanianas da filosofia ocidental como, certamente, dos versículos do Corão. Mas, de tanto estudar, baralham-se-lhe as ideias, quando escreve que "na escola falamos do colega muçulmano recordando o infiel, o invasor, o mouro (i.e. o escuro) (...), aquele que é vitoriosamente expulso". Se Faranaz fosse menos distraída saberia que infiel no sentido religioso já nada significa para nós há muito tempo, que quem usa a palavra com ódio são os activistas muçulmanos e que mouros, cá em casa, é só o que os adeptos do Porto chamam aos do sul.

3. Já Saramago acredita nas virtudes de uma Aliança de Civilizações mas mostra-se obcecado com o problema de Deus (Outubro 16). Mostra-se também um pouco distraído: quando afirma que deste problema "não se ousa falar" parece esquecer os seus próprios escritos. Se não se ousa falar, não é no mundo cómodo que ele habita. E confunde Deus com Alá, como se fosse apenas um problema de tradução. Se o Deus criado pelas cabeças ocidentais fosse o outro, ele ainda hoje não poderia tranquilamente chamar-lhe um problema. E, ao reduzir Deus à criação das nossas cabeças, não se apercebe de que está a participar noutra criação, igualmente arbitrária, com que certas cabeças se tranquilizam.

segunda-feira, outubro 6

Oportunidade perdida






Sarah Palin, em entrevista à CBS uns dias atrás:



As for homosexuality, I am not going to judge Americans and the decisions that they make in their adult personal relationships. I have one of my absolute best friends for the last 30 years happens to be gay, and I love her dearly. And she is not my "gay friend," she is one of my best friends, who happens to have made a choice that isn't a choice that I have made. But I am not going to judge people.

A entrevistadora fez-nos perder a todos a oportunidade de saber em que momento da sua vida Sarah escolheu, com sucesso, uma carreira heterossexual.

domingo, outubro 5

Burocratas queixam-se de burocracia

A FNE ataca o estatuto da carreira docente por prever uma prova de acesso à profissão e por dividir os professores em duas categorias. Para os dirigentes da FNE tudo isto é inútil e incompreensível. Queixam-se também do excesso de burocracia e papelada e das reuniões inúteis que o processo de avaliação envolve. Em face do modelo de avaliação imposto, estão cheios de razão neste ponto. Mas esquecem que a visão idílica de que todos os professores (e, já agora, todos os alunos) valem o mesmo foi longamente instilada em décadas de doutrinação burocrática de que sindicatos ou associações de professores nunca se demarcaram, antes nela colaborando.* Na verdade, para que outra coisa serviu o cinzentismo do eduquês senão para menorizar a importância dos conteúdos e disfarçar a existência de diferentes níveis de qualidade? Foi para isso que "especialistas" transformaram o ensino numa monstruosidade burocrática apoiada num linguajar pseudo-técnico, roubado à vulgata da psicologia e da gestão de empresas. Durante muitos anos ninguém se riu dessa linguagem ou das exóticas grelhas com ela construídas, antes a adoptaram como sua. O feitiço vira-se contra o feiticeiro quando os que durante anos e anos se especializaram nos relatórios feitos a copy-paste com o bem conhecido palavreado do ensino-aprendizagem, das atitudes e das competências (por vezes promovidos a dissertações de mestrado ou doutoramento!) vêem o mesmo arsenal a cair-lhes em cima sob a forma de tortura avaliativa.

*Exemplo: entre outras preciosidades, podemos encontrar no site da FNE o anúncio de um curso de verão em 2008 que propõe (per)cursos de debate e análise de algumas problemáticas relevantes no campo da educação e em particular, no que respeita à avaliação, tem como objectivos

* Identificar e caracterizar diferentes concepções e modelos de avaliação institucional;
* Distinguir distintas “lógicas e racionalidades” subsumidas nos diferentes dispositivos de avaliação institucional;
* Capacitar para a produção e utilização mais informada de dispositivos de (auto) avaliação institucional;
* Desenvolver um espírito crítico e reflexivo em torno das várias agendas e agentes da avaliação institucional.


Fascinante, não? Fica-se a lamentar não se ter podido assistir.

Escritas

Frase de apresentação de um artigo da PÚBLICA de hoje:

Se pudessem casar com pessoas do mesmo sexo, [fulano] e [fulana] fariam-no.

Completamente de acordo. Acho que escrever fá-lo-iam não passa de uma paneleirice.

sábado, outubro 4

Always true to you, darling in my fashion



Certas músicas valem mais a pena que muitos textos. É o caso desta interpretação exhilarating (não há adjectivo adequado em português) de uma obra prima que faz parte da caixa de joias de Cole Porter. O delírio começa aos 2 minutos e 15. A arte é de Nancy Anderson.