sexta-feira, abril 30

Santissima Trinità



As imagens de uma praça de Lisboa, com foto do Papa ao fundo, no TG5, e a voz-off a lembrar-me que devo mais de 18000 € ao estrangeiro, colocam-me em estado de negação. Talvez seja um pesadelo, mas tarda a hora de acordar.

Concentro-me então numa história de horror a que o alinhamento dá destaque a seguir. Começou há 17 anos e voltou às notícias nas últimas semanas.
No dia 12 de Setembro de 1993, a jovem Elisa Claps foi vista pela última vez no interior da Igreja da Santíssima Trinità em Potenza. Durante anos, nada se soube da rapariga e o padre da Trinità (entretanto falecido) sempre foi pouco colaborante com a investigação.
O corpo de Elisa foi encontrado no tecto da igreja no passado dia 17 de Março, durante obras de restauro. Há um suspeito, Danilo Restivo, e a autópsia revela que Elisa foi esfaqueada, violada e sufocada. O que se passou na manhã de 12 de Setembro continua por explicar.
À porta da Santissima Trinità, coroas de flores recordam Elisa em permanência.

quarta-feira, abril 28

Céus de chumbo



Hoje foi penoso acordar. Nas primeiras páginas dos jornais, desde o local Il Resto del Carlino até ao New York Times, há o nome Portugal. Por agora em subtítulo, mas com tendência perigosamente ascendente. Défices e PECs ameaçam estar connosco para além da vida. Alguém se deve ter enganado na ordem das palavras.

segunda-feira, abril 26

Não deve ser coisa boa

Uma notícia no Die Welt, com o Parténon em fundo e mais de 70 comentários...

domingo, abril 11

Crash - a realidade

A realidade brinca connosco superando sempre a ficção. Num filme daqueles que agora se vêem em salas com cheiro a pipocas, com explosões em dolby digital, o acidente com o Tupolev polaco, em que morreram o Presidente e parte importante do governo, seria resultado de sinistras conspirações, narrativamente enoveladas até ao desfecho em que um herói sobrevivente desmascararia os culpados. Estão lá de borla os ingredientes todos: a história passada e as coincidências de datas e, é claro, as figuras a quem as conspirações assentam na perfeição.

Mas, tal como em inúmeros outros casos a que assistimos frequentemente, os "scripts" (fabricados para o cinema ou para mascarar factos inconvenientes) têm o defeito fatal de serem menos credíveis. À sua artificialidade sobrecarregada de excrescências inúteis, o real contrapõe o engenho onde as peças encaixam naturalmente.

Sabemos que houve três tentativas de aterragem anteriores. Sabemos que Kaczyński não era exactamente um tipo de bom feitio e podemos imaginar a ansiedade da delegação em comparecer na cerimónia. E sabe-se que em Agosto de 2008, outro piloto do avião de Kaczyński foi ameaçado de despedimento quando se recusava a aterrar em Tbilisi durante a guerra entre a Geórgia e a Rússia.

domingo, abril 4

Em busca das semanas perdidas

João Soares em entrevista ao RCP, emitida hoje:

Nós temos que acabar com os offshores... agora é os submarinos, já não me lembro o que foi a semana passada, há duas semanas ainda menos... uma boa parte dessas porcarias (...) que a mim pessoalmente me repugnam (...) passam pelos offshores.

Qual é a preocupação? É só deixar passar mais uma semana e João terá esquecido tudo.

sábado, abril 3

Protecção pelos ímpares

Ao processo de revisão pelos pares, correntemente usado na validação possível da literatura científica, há quem queira agora acrescentar o da protecção por ímpares.

Não há outra maneira de ler as coisas: o Le Monde de 1 de Abril dá conta, sem blague, da carta de 400 climatólogos à ministra do ensino superior e da investigação e às cúpulas dos principais organismos públicos ligados à investigação científica. Que preocupa os 400? A exposição pública recente de dois outros cientistas, Claude Allègre (ex-ministro) e Vincent Courtillot, que se têm manifestado no sentido de "denegrir as ciências do clima". Irrita-os particularmente o livro Imposturas Climáticas que Allègre acaba de publicar, e, em menor grau, o livro Nova viagem ao centro da Terra de Courtillot. Os signatários pedem às autoridades que exprimam publicamente "confiança nos seus trabalhos" face aos detractores.

Nous sommes véritablement ulcérés de voir la présentation continuelle et réitérée de données fausses, de graphiques faux. C'est pour nous une situation extraordinaire à laquelle nous ne sommes pas préparés

Ontem, o Le Monde publica uma resposta de Courtillot, que reafirma a essência do que tem vindo a dizer: que o IPCC não é detentor da verdade.

Os 400 afirmam, a certo passo,

Dans tous les cas, la publication de ces affirmations témoigne d’un sentiment d’impunité totale de la part de leurs auteurs,

curioso vocabulário que nos leva a pensar em episódios da história da ciência de há uns séculos atrás.

Não sabemos que atitude vão tomar os órgãos de poder interpelados, mas não será de ânimo leve que irão apoiar os peticionários. Basta lembrarem-se do grande "sucesso" nas recentes eleições locais, para o qual a prometida taxa de carbono pode ter dado uma ajudinha. Há mais olhos abertos à medida que o tempo passa.

Azar de vidente

Ali Sabat aconselhava e fazia previsões para o futuro num popular canal de satélite que emite de Beirute e com grande público na Arábia Saudita. Teve pouca sorte quando há dois anos foi em peregrinação a Medina e a polícia religiosa o reconheceu. Preso e condenado por feitiçaria, teve a execução por decapitação marcada para a passada sexta feira. A família está em choque e a mãe seriamente doente. Ali não foi executado mas não é claro se se trata de adiamento ou revisão de processo.

A notícia veio para os jornais europeus entre 31 de março e 1 de Abril. No Figaro, muitos leitores comentavam que era invenção, só podia. Nem só Ali andou distraído.

A demagogia selectiva

Francisco Louçã definiu implicitamente, há uns dias atrás, a unidade salarial "Obama" como base para uma das suas tiradas demagógicas. Louçã insurge-se contra o facto de Armando Vara ganhar 2 Obamas e Rui Pedro Soares 8. E mete no mesmo saco, com infinita inocência, Belmiro de Azevedo (2 Obamas também). Sabe-se como o público alvo adora este género de homilias contra os Rrricos.

As notícias não são novas, mas dá que pensar, em sentido inverso, que Vara ganhe 1 Belmiro e Rui Pedro 4. Atendendo, claro, às competências, ou ausência delas, que julgamos conhecer, para não falar do trajecto de cada um em direcção ao seu lugar dourado. Louçã, preocupado apenas com o abstracto pecado da rrriqueza, mistura tudo.

E pode intuir-se porque é que parou em Belmiro. O capitalista de cartola é o ícone mais rendoso para a audiência do discurso. Fica-se com curiosidade de saber se Louçã fica muito irritado, por exemplo, com os Obamas ou Belmiros que ganha Cristiano Ronaldo. Ou se nao fala nisso para não indispôr admiradores. E nem quero imaginar o seu desconforto ao constatar que a simples condição de estrela pode justificar um alegado contrato com outro ídolo de massas, com o valor de vários Obama, do qual se sabe, ou se julga saber, por vias tortas. Ou talvez, simplesmente, haja assuntos incómodos de que o líder do Bloco nem queira ouvir falar.

Tiro ao Papa

Durante anos, a Igreja pôs-se a jeito. Ignorando, não tomando as medidas que o simples bom senso recomendaria e sobretudo não punindo, chegou à situação de vulnerabilidade perante as acusações fundadas com que se confronta. E nem sempre dá mostras de sensatez nas reacções à crise.

No meio do ruído, e passando sobre o óbvio de que responsáveis por crimes devem ser punidos segundo a lei, alguns factos igualmente óbvios passam por sê-lo menos. A começar pelo empenho entusiástico na presente campanha da imprensa e meios de informação esquerdizada (isto é, quase todos). O que é inteiramente natural e compreensível, já que aí se espelha o sentir dos eleitorados ocidentais contemporâneos. Basta olhar para países como a Espanha aqui ao lado ou, para lá do oceano, os Estados Unidos, onde estão colocados no poder governos que não escondem a sua hostilidade ao catolicismo. Estamos, como tem sido dito, a assistir ao cumprimento de uma agenda dos ditos meios?

Em parte sim, sendo claro que isso não desculpa ninguém e que os factos são dignos de notícia.

É curioso que se arrume tudo sob a classificação de pedofilia, quando é muito possível que "pederastia" fosse também um termo adequado, dependendo da idade dos molestados. O que, em termos de consequências legais, não é a mesma coisa. O pecado da pedofilia constitui o reduto onde é admissível criticar a homossexualidade de um ponto de vista politicamente correcto. É significativo que organizações de activismo gay venham apelar à punição exemplar dos responsáveis católicos quando, nas horas vagas, pedem o abaixamento da idade de consentimento ou se insurgem contra o consideram condenações excessivas. A questão não é tanto de tiro como de alvo.


Curiosidades estatísticas:

Número de queixas de abuso sexual de crianças nos EEUU, por padres católicos, entre 1950 e 2002: 10667

Número de professores envolvidos em delito de abuso sexual de crianças entre 2001 e 2005 nos EEUU: 2500