sábado, abril 3

Tiro ao Papa

Durante anos, a Igreja pôs-se a jeito. Ignorando, não tomando as medidas que o simples bom senso recomendaria e sobretudo não punindo, chegou à situação de vulnerabilidade perante as acusações fundadas com que se confronta. E nem sempre dá mostras de sensatez nas reacções à crise.

No meio do ruído, e passando sobre o óbvio de que responsáveis por crimes devem ser punidos segundo a lei, alguns factos igualmente óbvios passam por sê-lo menos. A começar pelo empenho entusiástico na presente campanha da imprensa e meios de informação esquerdizada (isto é, quase todos). O que é inteiramente natural e compreensível, já que aí se espelha o sentir dos eleitorados ocidentais contemporâneos. Basta olhar para países como a Espanha aqui ao lado ou, para lá do oceano, os Estados Unidos, onde estão colocados no poder governos que não escondem a sua hostilidade ao catolicismo. Estamos, como tem sido dito, a assistir ao cumprimento de uma agenda dos ditos meios?

Em parte sim, sendo claro que isso não desculpa ninguém e que os factos são dignos de notícia.

É curioso que se arrume tudo sob a classificação de pedofilia, quando é muito possível que "pederastia" fosse também um termo adequado, dependendo da idade dos molestados. O que, em termos de consequências legais, não é a mesma coisa. O pecado da pedofilia constitui o reduto onde é admissível criticar a homossexualidade de um ponto de vista politicamente correcto. É significativo que organizações de activismo gay venham apelar à punição exemplar dos responsáveis católicos quando, nas horas vagas, pedem o abaixamento da idade de consentimento ou se insurgem contra o consideram condenações excessivas. A questão não é tanto de tiro como de alvo.


Curiosidades estatísticas:

Número de queixas de abuso sexual de crianças nos EEUU, por padres católicos, entre 1950 e 2002: 10667

Número de professores envolvidos em delito de abuso sexual de crianças entre 2001 e 2005 nos EEUU: 2500

2 comentários:

Jorge Salema disse...

Não se entende como será "politicamente correcto" ou moralmente correcto criticar a orientação sexual de uma pessoa. Não sabia que era correcto criticar a homossexualidade no contexto da pedofilia uma vez que as duas categorias não significam o mesmo, nem tão pouco são correlatas. 'E verdade que o termo pederastia é muito mais impreciso, mas ele traduz sempre uma relação homossexual. Ficariam de fora dos crimes que o sr lino se põe a comentar, os abusos sexuais praticados por adultos em meninas. A pedofilia será uma doença. O abuso sexual de crianças ´´e um crime, o de adolescentes outro (menos grave).A questão é de alvo estou de acordo. O alvo de quem nas horas livres deixa o preconceito escondido com o rabo todo de fora!

lino disse...

No texto não fiz apreciação nenhuma sobre se é correcto criticar a orientação sexual de uma pessoa. E em minha opinião não é. Utilizei "politicamente correcto" em sentido depreciativo, referindo-me ao procedimento de certos grupos que abrem excepções no seu discurso usual em função de amigos que querem defender ou de inimigos que querem atacar, aproveitando orientações da opinião pública (que podem ser correctas) que lhes são circunstancialmente favoráveis.