domingo, junho 28

Desassossegos



Há notícias de novas manifestações em Teerão, depois de cinco dias em que os protestos pareciam adormecidos. A polícia atacou uma concentração de 3000 pessoas junto a uma mesquita no norte da capital.

Entretanto, em Tegucigalpa, o exército deteve o presidente Manuel Zelaya e despachou-o para a Venezuela. As agências dão uma notícia que parece mal contada, mas há indícios de que o exército pode ter agido por ordem do Supremo Tribunal. Zelaya preparava-se para fazer um referendo a fim de alterar a constituição e permitir a sua reeleição em 2010. Os grandes defensores da democracia Chávez e Morales já protestaram contra o alegado golpe de estado. A Casa Branca já pediu o regresso à ordem democrática (com menos dúvidas do que no caso do Irão). Enquanto se discute qual dos lados deu o golpe, o empenho de Chávez por Zelaya ajuda a ter uma ideia de que "ordem democrática" pode não ser uma preocupação dominante para o ex-presidente hondurenho.

sexta-feira, junho 26

Dois fora do armário: Young Con Rap



Serious C:

“Yo this ones for all the young conservatives.
I rep the Northeast and I’m still a young con,
Let your voice release, you don’t have to be obamatrons.
I debate any poser who don’t shoot straight,
Government spending needs to deflate,
Your ideas are lightweight,
Ya careers in checkmate
I frustrate. I increase the pulse rate
I hate when,
government dictatin, makin, statements, bout how to be a merchant,
How to run a restaurant, how to lay the pavement
Bailout a business, but can’t protect an infant
Deficiencies are blatant, young con treatment
I stand one man, outnumbered at my college
Thank you Miss Cali for reminding us of marriage
Can’t support abortion, and call yourself a Christian
I support life, you’re a puzzled politician
Terrorists were imprisoned at Guantanamo Bay,
Now they’re in our neighborhoods, planning out doomsday
No such thing as utopia,
no government can control ya, baby ya,
Reap the benefits hard work, self reliant
Listen to Stiltz, my dude’s a lyrical giant

Yo Stiltz… make it two time… please”

Stiltz:

“I’m 6′9 head and shoulder above the rest
Liberals playin checkers, I’m playin chess
My conservative view is drill baby drill
You can say you hate me but
I’m praying for you still
My dislike for thee most def is not hyperbole
Taxes are the subject and I will spit them verbally
I’m just livin life a conservative philosophy
Sorry Hilary not a right wing conspiracy
We need more women with intellectual integrity
I’m talkin Megyn Kelly not Nancy Pelosi
My main motto is you best work hard
It’s not the hand you were given, but how you lay down your cards
I don’t speak lies but I spit the facts
28% the new capital gains tax
Porkulus bill lacks a few stats
The more money we spend, the more mine is worth Jack
The Bible says we’re a people under God,
Usin radar for radical Jihad
AIG was hooked up by Chris Dodd
A classy gift ain’t an Ipod
The standards of my crew ain’t republicans dude
I’m reppin Jesus Christ and conservative views
Study history and true conservative moves
Every single time they refuse to lose
I’m starting to see a modern day Jimmy Carter
When really nothin but a Reagan era starter”

Serious C:

“Yo, We americans son
Hit ya with some knowledge
The movement has begun
Everyone can succeed
Because our soldiers bleed, for us
I said it in the verse,
now I’ll say it in the chorus”

Stiltz:

“We young conservatives son
Hard work is our motto
The movement has begun
EVERYONE can succeed cause our soldiers bleed, daily
My views are rock solid, no chance you can break me”

Serious C:

“Phase me, make me, into something that ain’t me
Serious c… can’t nobody shake me
great like the Gatsby, poppin posers like acne
Don’t matter if your gay, straight, Christian or Muslim
There’s one thing we all hate, called socialism.
It’s loathsome, and America ain’t the outcome,
Raise taxes on the people,
And you’re gonna feel symptoms, problems
I gotta message for a young con:
superman that socialism,
waterboard that terrorism”

Stiltz:

“I fulfill the role that’s inherently mine
Teaching politics through my rap and my rhyme
I’m signing off this track with a question in mind
How will this country get its precious change in time?
Three things taught me conservative love:
Jesus, Ronald Reagan, plus Atlas Shrugged
Saving our nation from inflation devastation
On my hands and my knees praying for salvation”

Serious C:

“Yo, We americans son
Hit ya with some knowledge
The movement has begun
Everyone can succeed
Because our soldiers bleed, for us
I said it in the verse,
now I’ll say it in the chorus”

Stiltz:

“We young conservatives son
Hard work is our motto
The movement has begun
EVERYONE can succeed cause our soldiers bleed, daily
My views are rock solid, no chance you can break me”

(Visto em Harry's Place.)

domingo, junho 21

Santos que não fazem milagres

Na zona noroeste de Lisboa há uma pequena aldeia perdida entre descampados e novas urbanizações. Costuma ser muito visitada por ter grande concentração de restaurantes. Os habitantes e vizinhos vivem lá em paz disfrutando durante onze meses por ano de um sossego pouco vulgar na grande cidade.

Depois vêm os santos populares. Com a colaboração da junta de freguesia, o bonito largo do coreto transforma-se em estacionamento de barracas para comeretes e beberetes, cobertas por plásticos de cores variegadas e com anúncios manuscritos em papel, lembrando o saudoso mundo pré-ASAE do século XX. Há também um palco para emissão de música pimba em alto volume.















Esta não é, infelizmente, a única contribuição da autoridade local para desfear o sítio, ao mesmo tempo que dificulta a vida aos cidadãos. Beberetes rima com pilaretes, e a pilaretofilia é um vício entranhado nos poderes autárquicos. Eles não faltam aqui, tal como estão obsessivamente

presentes em tudo o que é nova urbanização. Uma via larga, por exemplo, é munida de uma placa central, pronta a afunilar o trânsito; os pilaretes parecem reproduzir-se à volta como uma praga. Entretanto, no seu boletim mensal de Junho (16 páginas a cores em bom papel, com reduzido interesse e grafismo medíocre - "distribuição gratuita", diz a capa como eu fosse burro) a junta diz que há "muitos e bons motivos para festejar os santos populares" aqui.

sábado, junho 20

Teerão, 20 de Junho



(http://raymankojast.blogspot.com/)



O mundo tem os olhos postos no Irão. Parece que os satélites do Google também.
Estão 28 graus em Teerão e a hora local tem um avanço de 3h 30min em relação à hora de Lisboa.

Actualizações constantes aqui.

Como de outras vezes, há notícia de cancelamento do protesto. As últimas da bbc reafirmam que a manifestação se realizará.

sexta-feira, junho 19

Irão

Notícias não confirmadas falam da presença de elementos do Hamas e do Hezbollah a colaborar com as autoridades do Irão na repressão dos protestos em curso. Surge aqui alguma documentação fotográfica (via Gateway Pundit).

Sabe-se como o Twitter tem sido suporte da informação sobre o que se passa nestes dias no Irão. O Guardian apressou-se a noticiar, há três dias, que o Presidente Obama teria instado o Twitter a não interromper o serviço (esteve programada uma pausa). Parece agora que afinal a sugestão não partiu de Obama, mas sim deste rapaz contratado pela Condolezza.

Um porta voz de Mousavi, em entrevista dada em Paris, queixa-se de alguma indefinição de Obama. "Será que ele gosta quando alguém disser que não há diferenças entre Obama e Bush? Ahmadinejad é o Bush do Irão."

O governo egípcio teme que as atitudes demasiado cautelosas das potências ocidentais enviem uma mensagem inconveniente ao regime iraniano. (MEMRI)

Ahmadinejad descobre com horror que afinal há homossexuais no Irão e ainda por cima não devem ter votado nele. (GUARDIAN)

quarta-feira, junho 17

Irão, 5º dia

Mais fotos e notícias aqui.

segunda-feira, junho 15

Hoje, em Teerão

Os iranianos desafiam na rua a ditadura. Fala-se de mais de um milhão em protesto. As televisões não estão lá, mas há o Twitter. O site de Ahmadinejad parece ter ido abaixo por acção de hackers.

domingo, junho 14

Por quem se levanta o Irão?



Que fizeram do meu voto? perguntam multidões em desasossego por todo o Irão (as imagens referem-se a manifestações em Zahedan e encontram-se mais aqui.)
Mas que lamentam estas pessoas? apetece perguntar. Claro que sabemos: a não eleição de Mousavi Khameneh, dito reformista. Este ex-primeiro ministro e mestre em arquitectura, que em 1989 apoiou a fatwa sobre Salman Rushdie, e durante o seu mandato fechou todas as universidades, foi responsável pela matança de milhares de pessoas no início dos anos 80, tendo presenciado a execução e enterramento em valas comuns de 30 prisioneiros políticos em 1988. Simpatizante da ideologia socialista, favoreceu o baby-boom através da concessão de benefícios pelo estado.

A dita vitória de Ahmadinejad tem ao menos a vantagem de não nos iludir a nós, espectadores distantes. Com ele, já sabemos do que a casa gasta. Com Mousavi, ainda muitos haviam de pensar que sim, que podiam.

Actualização (15/06) Jornalistas e operadores de tv europeus foram impedidos de cobrir os protestos. Circula a notícia de que uma manifestação prevista para hoje às 16h em Teerão terá sido agora desconvocada.

sábado, junho 13

Sondagens e votos: uma meditação no caso italiano

Num artigo de Ivo Diamanti, surgido ontem no Repubblica, comenta-se que pela primeira vez as sondagens atribuiram à Lega Nord percentagens muito próximas do resultado obtido na votação (ligeiramente acima dos 10%). Anteriormente, as sondagens faziam previsões para a Lega muito abaixo dos resultados. O autor alinha razões para explicar este facto, e a primeira é que as pessoas perderam a vergonha de dizer que votariam na Lega. Argumentos e linguagem estigmatizados perante a opinião dominante, mas determinantes do voto de uns quatro milhões de eleitores, deixaram de causar embaraço. A Lega continua a usar os mesmos termos ou até mais violentos do que antes, mas, num ambiente onde todos dizem mal de estrangeiros e ciganos, já não impressiona particularmente. A Lega tornou-se popular e os profissionais das sondagens digeriram-na e assimilaram-na. Está enquadrada na normalidade italiana.

"Tonterias" de género

Na semana que passou, um juiz de Santander condenou a 7 meses de prisão uma mulher por considerar provado que agrediu a sua companheira, de quem estava em vias de separação. As agressões, que levaram a vítima ao hospital para tratamentos ligeiros, deveram-se a desentendimentos que já vinham de há muito: as duas eram obrigadas por constrangimentos económicos a partilhar o espaço em que sempre coabitaram. A acusada foi condenada pelo crime de violência doméstica na forma de maus tratos. Uma história banal... até aqui.

Acontece que o juiz considerou, para além do que se referiu, que os factos configuravam o tipo a que se refere determinado artigo do código penal espanhol, relativo à violência de género. Esse artigo, introduzido na lei espanhola em 2004, agrava a penalização do agressor quando ele é o homem do casal e o outro membro do par é mulher (ainda há casos destes). Houve iniciativas de diversas instâncias judiciais no sentido de ser declarada a inconstitucionalidade do artigo (por materializar discriminação com base no sexo), mas não foram atendidas.

Vamos, portanto, voltar a ouvir falar do caso. Enquanto a sentença recebe palmas e assobios, o delegado do governo para a violência de género discorda da aplicação do artigo a este caso, e paira no ar a possibilidade de recurso do Ministério Público. Eu se estivesse no lugar da condenada também recorreria. Já que o juiz parece prestar-se a estes jogos, podia argumentar que o homem afinal era a outra, uma verdadeira macha sapatona, bruta e intratável, constantemente a pedi-las. Além disso exigiria do estado uma indemnização pela ofensa de me equipararem a esse género animalesco e retrógrado.

segunda-feira, junho 8

Também fora da Europa

A esquerda acaba de perder também fora da Europa: depois de anos a defender o diálogo com o Hezebollah, o povo do Líbano derrotou nas urnas a coligação de que faziam parte os islamo-fascistas.

domingo, junho 7

Sílvio coisificado

Assim é que deve ser já que todos somos europeus. Em face da impotência e inabilidade da oposição em Itália para destronar Silvio, transfere-se a oposição para a Península Ibérica, com o El País imparável a mostrar fotos escandalosas de umas pessoas à beira de uma piscina sem saias nem gravatas, e a publicar uma fatwa do nosso Saramago sobre o incrível cavaliere. Há pelo um cu de mulher à mostra e o que parece ser uma pila de homem, tudo muito banal. Claro que as fotos podem ser apenas um trailer ou aperitivo do que virá a seguir, mas para já servem de apoio à prosa que desanca valentemente no Sílvio mitómano, a-cultural, esquecido de que é um avôzinho operado à próstata quando senta aos joelhos as suas crisálidas de 18 anos. Saramago vai mais longe, despromovendo Sílvio a "coisa que organiza orgias", mas ao mesmo tempo cobrindo-o da importância suficiente para ser o "causador da morte moral da Itália de Verdi". Saramago não lhe perdoa e chama-lhe "acompanhante de menores": o plumitivo é casado com uma senhora apenas 28 anos mais nova e tudo o que exceda esse número deverá deixá-lo desorientado e sem referências.

Mas quem explica com enquadramento teórico porque é que Berlusconi soma e segue são os sociólogos. Em entrevista ao El Mundo, Giuseppe de Rita analisa a admiração dos italianos pelo governante. Silvio personifica "a liberdade de cada um ser ele próprio" e esse é um traço estruturante do presente ciclo histórico-cultural. Os italianos admiram o seu perfil. Todos gostariam de ser "evasor fiscal, estudante que agride a professora, jovem que se droga, empresário que não paga impostos ou salários". Além disso acham que as chavalitas de 15-16 anos são todas umas putinhas, pelo modo como vestem e andam por aí: de modo que ninguém vai censurar o cavaliere por andar com uma miúda de 18. Nem os problemas com a justiça os demovem de o admirar: como a justiça tem péssima imagem pela ineficácia e pela lentidão, Silvio consegue até fazer passar a ideia de que é um perseguido por um sistema pouco limpo. E, acima de tudo, a Itália é o país do perdão, do indulto, da moratória, por maior que o pecado seja. Se o sociólogo tem razão, estão errados os que lamentam a pouca sorte dos italianos, vivendo num regime opressivo comandado por um ditador delinquente. Ao mesmo tempo podemos ficar descansados: um tal fenómeno nunca poderia acontecer entre nós, porque felizmente, como povo, não temos aqueles defeitos execráveis dos italianos.

quarta-feira, junho 3

As matérias alternativas

Alberto Mariani, professor de matemática na secundária de Cesena (cidade próxima da costa do Adriático, Itália), é hoje notícia nos jornais e blogs italianos. O motivo: ter efectuado um inquérito aos alunos sobre se prefeririam, em vez da hora de Religião, que a escola lhes oferecesse matérias alternativas (História das Religiões ou Direitos Humanos). Um colega queixou-se à direcção regional e Mariani foi punido com dois meses de suspensão.

Não é necessário ir ler os sites para imaginar o clamor de indignação e a solidariedade que se está a erguer em torno do professor. As respostas ao questionário mostram que apenas 11% dos inquiridos não optariam pelas matérias alternativas. Pessoalmente julgo que ensinar história das religiões poderia ser mais proveitoso (até para a religião católica).

Mas, por mera curiosidade científica, gostaria que o professor tivesse repetido o inquérito perguntando se os alunos pretenderiam que a oferta formativa da escola lhes oferecesse alternativas à matemática. Para comparar as percentagens.