domingo, março 31

Livraria?

Conta o PÚBLICO que a Livraria Lello vai cobrar entradas. Parece que já há indignações mas também aplausos.

Quando vou ao Porto, a minha rota de trabalho passa pela Lello e entro sempre. Declaro já que não vou lá há dois anos e portanto a minha impressão pode estar desactualizada. O problema com a Lello está mal posto: aquilo é mais uma escada deslumbrante do que uma livraria. Sim, tem livros, mas se se pretender encontrar algum mais arredado das estantes, duvido que seja lá.

A Lello é uma livrariazinha, e nisto infelizmente não está só entre as suas congéneres portuguesas. Já tivemos em tempos uma Buccholz desarrumada mas bem fornecida, e alguns nichos de especialidade na zona do Chiado. Actualmente, quase todas as procuras que não comecem na fnac arriscam-se a ser perdas de tempo. Esta circunstância marca Portugal e é facilmente verificável. Cidades de dimensão modesta em Espanha ou Itália têm livrarias mais bem apetrechadas em matéria de conteúdo do que as de Lisboa ou Porto. Passe-se a fronteira e compare-se. Basta ir a Badajoz ou a Santiago de Compostela.

Os turistas vão à Lello contemplar e subir a escada, pronto.





sábado, março 30

Incertezas e calafrios

Ou porque esteve uns dias sem medicação, ou porque Kim III ou alguém por ele quer afirmar-se, a guerra está declarada.  As agências oficiais divulgam fotografias do menino Kim em reunião com militares. Aparece nalgumas a estudar uns mapas. Os alvos nos Estados Unidos já estão escolhidos e incluem Austin, cidade de sentir democrático e onde está instalada uma sede importante da Samsung, um dos símbolos do sucesso da outra Coreia. É impossível saber que quantidade de medo devemos ter destas ameaças. Apesar da pose grotesca, de os generais estarem vestidos como nos filmes dos anos 40, e de continuarem a filmar multidões reais sem truques de computador nem efeitos especiais, eles têm armas nucleares. Podem não ser o último modelo, mas ardem na mesma. Pior do que nós, simples espectadores, não sabermos, é a sensação que paira de que ninguém sabe. Tal como se ignora a dimensão do crédito interno do regime. Video: Daily Telegraph

domingo, março 24

As petições

Passados agora quatro dias sobre o arranque da petição de recusa, seguido da que é a favor, confirma-se a tendência de grande avanço da primeira. O facto é interessante (mais do que pelo valor facial das posições em cena) pelo que revela do desprestígio do anterior PM. É que a modéstia das prestações dos "a favor" tem que ter a sua explicação na indiferença de muitos votantes socialistas a respeito da causa. Ontem, Inês Pedrosa twittava que nas listas da primeira petição eram só Braganças e tal (a tendência para explicar os factos desagradáveis a partir de conspirações ou cabalas de um pequeno grupo...) mas a realidade não sustenta nada disso. Pelo contrário, o que julgo poder-se inferir é que os que estão a exprimir-se na petição "a favor" estão no núcleo duro de socratistas que inclui parte importante do aparelho partidário e se estende a franjas de admiradores que possuem fé inabalável no ex-líder. Mas presumo que já não representam nem os futuros votantes no PS em eleições próximas.

Para além dos maus resultados de governo, consta  do legado do ex-PM o envolvimento em múltiplos episódios, nunca convenientemente explicados, onde se exibem comportamentos que com candura podemos classificar como apenas moralmente reprováveis. A ausência de acusações formais não impede as pessoas de formarem as suas próprias convicções sobre o que vão sabendo, porque as coisas fazem mais sentido numa versão do que noutras.

A censurabilidade do comportamento, mesmo em episódios como o da licenciatura "fast", é demolidora porque põe fortemente em causa a sinceridade e as boas intenções na acção política. Este facto pode ser um importante factor de desgaste de imagem, não só do actor principal, mas também do núcleo duro do partido que gravita à sua volta, e salpica mesmo outros que nunca desse núcleo se demarcaram.


Nota. No momento em que se publica este post, as subscrições somam, respectivamente, 121757 e 6860 nomes.

domingo, março 3

Send in the clowns

A situação político-teatral em Itália motivou este título recentemente no WSJ e no Economist. O mote é uma canção de Stephen Sondheim que fala de outras coisas. Aqui fica recordada, a pretexto.