quarta-feira, setembro 27

Cristiano assobiado

Esta noite, no jornal de um dos canais de tv, comentavam-se os assobios de ontem, na Luz, dirigidos a Cristiano Ronaldo. O canal foi buscar um sociólogo para explicar o fenómeno. O homem lá disse umas coisas, mas eu estou convencido de que a D. Vitória, a minha estimável empregada de limpeza (que não é excelente a limpar o pó mas até percebe de futebol) explicaria melhor e mais depressa.

segunda-feira, setembro 25

Faraday e o copianço pós-moderno

Também no Reino Unido se fala de um aumento vertiginoso da fraude nos exames, graças aos avanços tecnológicos em matéria de comunicação por telemóveis e mp3.

Ora, depois de anos e anos de investigação em educação, de sofisticados estudos docimológicos em tudo o que é universidade que se preze, o melhor que se pode dizer de Jean Underwood, perita em assuntos escolares, é que não passa de uma bota de elástico irrecuperável: propõe Underwood, para emudecer os telemóveis, a instalação de gaiolas de Faraday nas salas de exame! (Antevê-se, em resposta, o regresso às cábulas de papel.) Electromagnetismo novecentista. Bah!

Os dejectos dos tapetes

Por motivo de incêndio numa casa de meninas em prédio colado ao Rossio, o PÚBLICO-LOCAL mobilizou uma repórter. O resultado vem lá hoje com caixa alta. Os vizinhos dão largas ao desagrado pela companhia que lhes coube. A Dona Glória, que faz anunciar as suas meninas nos classificados do Correio da Manhã, sacode "tapetes com dejectos esquisitos". O artigo não nos elucida sobre a natureza dos objectos, mas fica-se curioso. Talvez venha a ser objecto de uma peça jornalística mais aprofundada. Seria interessante até fazer um estudo comparativo com os dejectos de tapetes provenientes das casas de meninas anunciadas nos classificados do próprio PÚBLICO. Simples curiosidade científica.

domingo, setembro 24

A conspiração dos 25%

Um quarto dos portugueses ficará em casa durante a pandemia ( de gripe das aves).
Um quarto dos portugueses sofre de rinite alérgica.
Um quarto dos portugueses assistem a concertos.
Um quarto dos portugueses comprará na Internet em 2007.
Um quarto dos portugueses tem casa de férias.
Um quarto dos portugueses afirmou ter alterado os seus hábitos alimentares e de bebida nos últimos três anos
Um quarto dos portugueses prefeririam ser espanhois. ( Notícia de O Sol, ontem)


Estou a desconfiar disto. Provavelmente são sempre os mesmos. Respondem sim a tudo.

A submissão para além da morte em Bulwell

Na construção do novo cemitério de Bulwell, Nottingham, está previsto que todas as sepulturas estejam orientadas para Meca. Quem pretender um enterramento diferente, terá de fazer uma requisição especial. Curiosamente, a percentagem de população muçulmana em Nottingham não chega aos 5%. Tudo leva a crer que as iniciativas das autoridades locais vão já bem à frente das reivindicações. Pouco a pouco, por enquanto em aspectos aparentemente anedóticos, inócuos, a integração faz o seu caminho.

Cedências que contemplam o que está para lá da morte. Prenúncio terrível de uma possível, e provável, submissão em vida?

domingo, setembro 17

O homem só

Grupos de islamistas radicais foram rápidos a manifestar-se em vários paises muçulmanos em reacção às palavras do Papa. Ameaças de morte, bombas em igrejas cristãs, queima de uma efígie de Bento XVI e o assassinato de uma freira constituem o balanço recente. Nada surpreendente; certamente também não para o Papa (Vasco Pulido Valente escreve no PÚBLICO de hoje que a reacção islâmica terá deixado Bento XVI estupefacto, o que não me parece nada provável). Bento XVI é tudo menos ingénuo e distraído e com certeza mediu o que iria dizer, e as consequências, e quis assumir o risco. Ele não ignora que para os ouvidos do Islão, até mesmo para os chamados intelectuais, pouco importa que se tratasse de uma citação e que o contexto fosse o de uma palestra em ambiente universitário. E quanto aos grupos islâmicos radicais, se há coisa de que eles não precisam é de pretextos para a violência antiocidental. A conspiração para nos converter de certeza não dorme, e até que se registe um atentado mais mortífero que os anteriores, ou pelo menos a tentativa dele, é uma questão de tempo e sorte (ou azar). Bento sabia também com certeza que não seriam de esperar vozes de apoio, nem mesmo dentro da Igreja. A sua atitude tem um cunho mais político do que religioso: vem mostrar que o ocidente está paralisado e refém do medo (o que, de resto, também não é novidade) mas que ainda assim há quem tenha consciência da tremenda ameaça e escolha não ficar calado. A visão do perigo e a identificação do inimigo tornou-se especialmente difícil, mas é condição necessária para que se possa pensar a defesa.

Em face da grotesca reacção de responsáveis políticos muçulmanos (a quem nunca são requeridos pedidos de desculpa) fica óbvio que o "diálogo" entre as religiões só se fará com as regras impostas pelo Islão. É altura de reconhecer que as iniciativas de diálogo e aproximação conduzidas pelo papa anterior tiveram um resultado nulo neste campo. Os complexos de culpa e a falta de firmeza que enredam a política europeia abrem o caminho à submissão total.

Actualizado em 18/9: comentário a propósito no telegraph, hoje.

No First Things: It can be argued that the Regensburg lecture will turn out to be the most important statement by a world leader in the post–September 11 period.

No Times: The Pope’s actual quotation is not just a medieval point of view. It is a common modern view; even if it seldom reaches print; it can certainly be found on the internet. “Show me just what Muhammad brought that was new, and then you shall find things only evil and inhuman, such as his command to spread by the sword the faith he preached.”

Is it true that the Koran contains such a command, and has it influenced modern terrorists? The answers, unfortunately, are “yes” and “yes”.


No New York Sun: No, this pope is not naïve. It is our liberal, theologically illiterate politicians who are naïve. We are already at war — a holy war, which we may lose.

A nova era no Vaticano, cartoon publicado na Al Jazeera.

Anne Applebaum no Slate: nothing the pope has ever said comes even close to matching the vitriol, extremism, and hatred that pours out of the mouths of radical imams and fanatical clerics every day of the week all across Europe and the Muslim world, almost none of which ever provokes any Western response at all. And maybe it's time that it should: When Saudi Arabia publishes textbooks commanding good Wahhabi Muslims to "hate" Christians, Jews, and non-Wahhabi Muslims, for example, why shouldn't the Vatican, the Southern Baptists, Britain's chief rabbi, and the Council on American-Islamic Relations all condemn them—simultaneously. Equally, I see no reason why Swedish social democrats, British conservatives, and Dutch liberals couldn't occasionally forget their admittedly deep differences and agree unanimously that the practices of female circumcision and forced child marriage are totally unacceptable, whether in Somalia or Stockholm. Surely on this issue they all agree.

sexta-feira, setembro 15

Oriana Fallaci

Faleceu esta noite em Florença. O último artigo, "O inimigo que tratamos como amigo", aqui. Mais informação na edição extra do Corriere.

quarta-feira, setembro 13

A verdadeira conspiração

Na Holanda, o ministro da justiça pronuncia-se favoravelmente à introdução da sharia.

Aos poucos, a política de integração avança. Integração da Europa no Islão, bem entendido.

segunda-feira, setembro 11

11 de setembro

1 de novembro de 1755, 1 de dezembro de 1640, 6 de agosto, o outro 11 de setembro, 25 de abril podem ser recordados com nomes: terramoto, restauração, bomba atómica, golpe de Pinochet, revolução dos cravos ou golpe militar, segundo o gosto. Por vezes recordamo-nos de nomes e não de datas, pelo menos datas exactas: Katrina, invasão do Iraque... Quando o acontecimento é inominável, por não haver precedente que tenha justificado uma designação, resta a data como etiqueta.

Quase todas

Um spot da TSF a anunciar a programação especial para hoje diz mais ou menos isto: "depois do 11 de Setembro quase todas as religiões ficaram sob suspeita..."

Humm... quase todas? A TSF podia ser um pouco mais explícita e dizer "todas menos o Islão."

sexta-feira, setembro 8

O amor nos tempos de internet (12)

-Oh Ritinha dá cá um beijo, nhhh, nhhh, até que enfim!
-Há quanto tempo? Quase meio ano, não? Estás óptima, deve ser da gravidez
-É incrível como a vida nos tira o tempo até para as amigas. Dantes viamo-nos todos os dias e agora quase só nos ouvimos pelo telefone
-O Carlos como vai, além de lhe dar para fazer de fantasma à noite?
-Não gozes, que eu tenho um medo que o diabo do homem caia e bata com a cabeça nalguma coisa
-Deixa lá, nessas crises eles devem ter um radar como os morcegos
-Mas olha que agora estou é mais preocupada com isto da minha mãe. Como te disse há uma semana, quando éramos para nos ter encontrado, ela estava com sinais de um AVC e entretanto confirmou-se.
-Que problema
-É para ela e é para mim. A médica de família disse-me ontem, tem que ficar com a sua mãe, ela não pode ficar sozinha
-…??
-e eu disse ó sotora, como é que eu posso, grávida, a trabalhar, com marido, num apartamento de três divisões, devia estar prevista uma solução para estes casos, e ela, mas normalmente nestes casos agudos conta-se com a família, e eu disse logo, olhe, não sei como vai ser mas comigo é que ela não fica, já basta o que ela fez à minha cabeça até que saí de casa
-ai meu Deus disseste isso?
-disse e hei-de dizer, tu conheces bem a história, primeiro estiveram sempre os amantes de sua excelência, agora não sou eu que me vou sacrificar
-Sim, mas alguma ajuda tens que dar à velhota, esquece essas coisas
-Olha, vamos para a mesa do canto para falarmos mais à vontade, e tens que me contar já a tua história antes que isto fique tudo cheio
-Cheira que é uma maravilha, se a comida que eu faço fosse tão boa como a deste self-service o estupor não andava atrás doutra, sabes eu levo isto a rir
-ahahahah
-Bom, então cá vou eu contar-te em segredo absoluto, ouviste? Não falo do caso a mais ninguém, absolutamente
-Rita, sabes que sim
-Lembras-te que te disse que tinha descoberto uma conversa do Eduardo no pc lá de casa
-Dantes ainda ia sabendo qualquer coisa do Eduardo pelo meu sobrinho, mas já há uns meses que não vejo o Dino
-Pois, então foi na segunda de manhã, há quinze dias, antes de ir para a empresa fui ao computador para completar um relatório que tinha o título co qualquer coisa e ensonada como estava não me lembrava em que pasta o tinha posto
-Estou a ver, tens tanto em que pensar
-de maneira que fiz search e além do meu apareceu outro documento com o nome co outra coisa
-Começa bem
-Sim, e aqui a tua amiga que é discretíssima mas muito curiosa vai ver, é uma conversa do Eduardo com um fulano de Coimbra
-Nunca me falaste de nenhuma personagem de Coimbra
-Não, mas falo agora, é um tipo que entrou nas amizades do estupor através da ex, uma pessoa muito bem colocada, trabalha numa firma de advogados muito ligada ao partido em que tu votaste
-Ó Rita, como é que tu sabes isso tudo?
-Claudinha, é tão fácil, com o que se vai ouvindo e com o resto, está tudo na net
-Qual é a firma?
-Ora, o Carmelo Reis e Associados, sabes, é quase uma ordem religiosa
-Ai nossa senhora, mas não te percas
-A perna de borrego está óptima
-Di-vi-na, mas diz mais
-Pois então imagina: lendo a conversa percebe-se que o advogado de Coimbra está a arrastar o Eduardo para preparar uma à mulher dele
-À mulher? Arrastar como?
-Sim, o tal tipo é casado, mas acho que aquilo deixou de funcionar, o L. às vezes falava disso, que andam há muito tempo num impasse e acho que agora quer ver-se livre do casamento com proveito
-e…?
-e eu acho que ele fez a cabeça do miúdo
-Então mas qual é o papel do Eduardo nisso?
- Parece que a Clara, é assim que ela se chama, já conversou com outro homem num chat da net mas é muito cuidadosa e o marido não tem provas claras, só um indício
-Já estou a ver o resto, quer que o rapaz colabore numa armadilha… E o Eduardo vai nisso? Não o conheço bem mas tinha uma óptima impressão dele. E porque é que o advogado não a deixa a mulher, simplesmente?
-Ó minha querida, se conseguir o divórcio em determinadas condições tem hipóteses de ficar com um casarão
-Ah é?
-Isto sou já eu a supor, mas não devo enganar-me muito, porque segundo o que ouço contar pelo L., ela tem muita massa
-Ah bom
-Têm um T4 e uma vivenda, e acho que não é com o ordenado dele que os compraram
-Bom, nada que não se tenha visto, mas mesmo assim como é que esse homem tem à-vontade com o rapaz para andar a meter-lhe na cabeça uma coisa dessas?
-Realmente, para se chegar àquele nível de confiança alguma coisa há-de haver que eu não sei o que é
-Mesmo assim não percebo… o que é que o rapaz lucra com isso? … e a outra suspeitará de alguma coisa?
-Não tenho ideia. Pelo que li, o miúdo pareceu-me de pé atrás, mas interessado ao mesmo tempo. Vê lá a família que eu estava quase a arranjar, digo isto porque estou com um pé dentro e outro fora
-A minha opinião não conta, mas acho isso esquisito… como é que iriam conseguir tramá-la?
-Não se percebe bem só com base no que eu vi, mas talvez se ela tiver uma troca de mimos comprometedores com outra pessoa ao telefone ou na net e essa pessoa gravar… topas? O colaborador fará o papel de quem está a chantagear o marido
-Pois… mas isso provará o quê? E não podem ser descobertos? O tipo sendo advogado arrisca muito, e o miúdo trama-se
-Minha querida, todos arriscamos qualquer coisa, e uns arriscam mais alto quando acham que vale a pena
-Meu Deus, que história
-O L. anda transtornado, já deve ter visto o que eu vi
-Então e mudando de assunto ele continua atrás da outra do norte?
-Acho que ele está um pouco perdido, e eu já me desinteressei do assunto porque vou saltar do barco. O mais certo é eu já não chegar a saber os episódios seguintes… Bom, isto está a encher e aqui há sempre gente conhecida, por isso vamos falar de outros filmes. Tens ido ao cinema?

As vítimas da pedagogia

Alan Johnson, secretário de estado britânico para a educação, acaba de reconhecer que as metodologias impostas pelos governos para o ensino da aritmética e da escrita, desde finais dos anos 90, terão prejudicado a aquisição de conhecimentos de mais de cinco milhões de alunos. A tabuada vai ser ensinada mais cedo do que nos anos recentes, bem como a maneira de efectuar no papel operações elementares. Descobre-se agora também que os rapazes não têm mais dificuldade do que as raparigas em aprender a ler! Parece que afinal basta ensiná-los de modo sistemático, sem recurso às técnicas delirantes inventadas pelos marcianos da pedagogia.

À atenção da Sra Maria de Lurdes Rodrigues, que umas vezes parece perceber para onde vai e outras vezes não. Está quase a fazer um ano a operação de emergência para salvar o ensino da matemática, coordenada por uma larga maioria de marcianos, com um ou outro terrestre no papel ingrato de minoria quase sem voz. Espera-se que um dia se venham a avaliar os resultados. Receio que sejam fracos, além de, para já, dar mais força aos marcianos.

quarta-feira, setembro 6

O horror em 2006

Nas cadeias do Irão há seis mulheres à espera de execução por apedrejamento. O caso que recentemente motivou mais protestos, pela sua urgência, é o de Ashraf Kolhari, de 37 anos, condenada em 2001 a 15 anos de prisão por alegada colaboração na morte do marido e à morte por apedrejamento por relações sexuais com outro homem (ele também condenado: 100 chicotadas e morte por apedrejamento). Com a sentença de prisão longe de estar cumprida, a execução de Ashraf esteve prevista para Agosto, mas encontra-se suspensa graças aos protestos, em que a Amnistia Internacional esteve envolvida. Não há, de modo nenhum, garantias de que a sentença não venha a ser executada.

(A Sra Ana Gomes terá muito com que se ocupar de modo útil, caso se interesse por casos como este.)