sexta-feira, setembro 8

O amor nos tempos de internet (12)

-Oh Ritinha dá cá um beijo, nhhh, nhhh, até que enfim!
-Há quanto tempo? Quase meio ano, não? Estás óptima, deve ser da gravidez
-É incrível como a vida nos tira o tempo até para as amigas. Dantes viamo-nos todos os dias e agora quase só nos ouvimos pelo telefone
-O Carlos como vai, além de lhe dar para fazer de fantasma à noite?
-Não gozes, que eu tenho um medo que o diabo do homem caia e bata com a cabeça nalguma coisa
-Deixa lá, nessas crises eles devem ter um radar como os morcegos
-Mas olha que agora estou é mais preocupada com isto da minha mãe. Como te disse há uma semana, quando éramos para nos ter encontrado, ela estava com sinais de um AVC e entretanto confirmou-se.
-Que problema
-É para ela e é para mim. A médica de família disse-me ontem, tem que ficar com a sua mãe, ela não pode ficar sozinha
-…??
-e eu disse ó sotora, como é que eu posso, grávida, a trabalhar, com marido, num apartamento de três divisões, devia estar prevista uma solução para estes casos, e ela, mas normalmente nestes casos agudos conta-se com a família, e eu disse logo, olhe, não sei como vai ser mas comigo é que ela não fica, já basta o que ela fez à minha cabeça até que saí de casa
-ai meu Deus disseste isso?
-disse e hei-de dizer, tu conheces bem a história, primeiro estiveram sempre os amantes de sua excelência, agora não sou eu que me vou sacrificar
-Sim, mas alguma ajuda tens que dar à velhota, esquece essas coisas
-Olha, vamos para a mesa do canto para falarmos mais à vontade, e tens que me contar já a tua história antes que isto fique tudo cheio
-Cheira que é uma maravilha, se a comida que eu faço fosse tão boa como a deste self-service o estupor não andava atrás doutra, sabes eu levo isto a rir
-ahahahah
-Bom, então cá vou eu contar-te em segredo absoluto, ouviste? Não falo do caso a mais ninguém, absolutamente
-Rita, sabes que sim
-Lembras-te que te disse que tinha descoberto uma conversa do Eduardo no pc lá de casa
-Dantes ainda ia sabendo qualquer coisa do Eduardo pelo meu sobrinho, mas já há uns meses que não vejo o Dino
-Pois, então foi na segunda de manhã, há quinze dias, antes de ir para a empresa fui ao computador para completar um relatório que tinha o título co qualquer coisa e ensonada como estava não me lembrava em que pasta o tinha posto
-Estou a ver, tens tanto em que pensar
-de maneira que fiz search e além do meu apareceu outro documento com o nome co outra coisa
-Começa bem
-Sim, e aqui a tua amiga que é discretíssima mas muito curiosa vai ver, é uma conversa do Eduardo com um fulano de Coimbra
-Nunca me falaste de nenhuma personagem de Coimbra
-Não, mas falo agora, é um tipo que entrou nas amizades do estupor através da ex, uma pessoa muito bem colocada, trabalha numa firma de advogados muito ligada ao partido em que tu votaste
-Ó Rita, como é que tu sabes isso tudo?
-Claudinha, é tão fácil, com o que se vai ouvindo e com o resto, está tudo na net
-Qual é a firma?
-Ora, o Carmelo Reis e Associados, sabes, é quase uma ordem religiosa
-Ai nossa senhora, mas não te percas
-A perna de borrego está óptima
-Di-vi-na, mas diz mais
-Pois então imagina: lendo a conversa percebe-se que o advogado de Coimbra está a arrastar o Eduardo para preparar uma à mulher dele
-À mulher? Arrastar como?
-Sim, o tal tipo é casado, mas acho que aquilo deixou de funcionar, o L. às vezes falava disso, que andam há muito tempo num impasse e acho que agora quer ver-se livre do casamento com proveito
-e…?
-e eu acho que ele fez a cabeça do miúdo
-Então mas qual é o papel do Eduardo nisso?
- Parece que a Clara, é assim que ela se chama, já conversou com outro homem num chat da net mas é muito cuidadosa e o marido não tem provas claras, só um indício
-Já estou a ver o resto, quer que o rapaz colabore numa armadilha… E o Eduardo vai nisso? Não o conheço bem mas tinha uma óptima impressão dele. E porque é que o advogado não a deixa a mulher, simplesmente?
-Ó minha querida, se conseguir o divórcio em determinadas condições tem hipóteses de ficar com um casarão
-Ah é?
-Isto sou já eu a supor, mas não devo enganar-me muito, porque segundo o que ouço contar pelo L., ela tem muita massa
-Ah bom
-Têm um T4 e uma vivenda, e acho que não é com o ordenado dele que os compraram
-Bom, nada que não se tenha visto, mas mesmo assim como é que esse homem tem à-vontade com o rapaz para andar a meter-lhe na cabeça uma coisa dessas?
-Realmente, para se chegar àquele nível de confiança alguma coisa há-de haver que eu não sei o que é
-Mesmo assim não percebo… o que é que o rapaz lucra com isso? … e a outra suspeitará de alguma coisa?
-Não tenho ideia. Pelo que li, o miúdo pareceu-me de pé atrás, mas interessado ao mesmo tempo. Vê lá a família que eu estava quase a arranjar, digo isto porque estou com um pé dentro e outro fora
-A minha opinião não conta, mas acho isso esquisito… como é que iriam conseguir tramá-la?
-Não se percebe bem só com base no que eu vi, mas talvez se ela tiver uma troca de mimos comprometedores com outra pessoa ao telefone ou na net e essa pessoa gravar… topas? O colaborador fará o papel de quem está a chantagear o marido
-Pois… mas isso provará o quê? E não podem ser descobertos? O tipo sendo advogado arrisca muito, e o miúdo trama-se
-Minha querida, todos arriscamos qualquer coisa, e uns arriscam mais alto quando acham que vale a pena
-Meu Deus, que história
-O L. anda transtornado, já deve ter visto o que eu vi
-Então e mudando de assunto ele continua atrás da outra do norte?
-Acho que ele está um pouco perdido, e eu já me desinteressei do assunto porque vou saltar do barco. O mais certo é eu já não chegar a saber os episódios seguintes… Bom, isto está a encher e aqui há sempre gente conhecida, por isso vamos falar de outros filmes. Tens ido ao cinema?

2 comentários:

Portuguese Recipes disse...

orar

No dia em que se comemora mais um aniversário sobre os tristes eventos do ignóbil "nine/eleven", apeteceu-me postar aqui aquela que considero ser a mais bonita prece, aquela que é conhecida como a oração de S. Francisco de Assis:
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"... Senhor: Faz de mim um instrumento da Tua paz... onde haja ódio, consente que eu semeie amor... perdão onde haja injúria... fé onde haja dúvida... verdade onde haja mentira... esperança onde haja desespero... luz onde haja treva... união onde haja discórdia... alegria onde haja tristeza!... Permite que eu não procure tanto ser consolado quanto consolar... compreendido quanto compreender... amado quanto amar... porque é dando que recebemos... é perdoando que somos perdoados... e é morrendo que nascemos para a eternidade..."

Escrevente disse...

Caro vivo: obrigado pela observação. Alterei a frase, embora estivesse convencido que o coloquial "cromo" se pudesse aplicar aos dois géneros...
A tese está entregue e aguarda a defesa quando alguém se dispuser a atacá-la...