Manuel Alegre estava há dois dias estupefacto e indignado com o episódio em que um inspector interrogou alunos de uma escola de Fafe, aparentemente com o objectivo de que eles denunciassem acções de professores. Para Alegre, trata-se de um "atentado ao espírito da escola pública". Ora, se Alegre estivesse mais atento à realidade, já se teria apercebido de que não há ali qualquer contradição com o dito espírito. A escola pública dedica-se a ensinar pouco e a ideologizar muito; as disciplinas são impregnadas de um conteúdo programático que as extravasa e que vai no sentido de (de)formar mentalidades, seguindo as cartilhas da moda circunstancial.
A Geografia, por exemplo, a par da educação para a cidadania, dedica-se abundantemente a instruir as crianças sobre os malefícios do "aquecimento global" (agora "alterações climáticas") que é um filme com bons e maus. Não deve ser difícil imaginar histórias de crianças a gritar com os pais quando estes lavam os dentes com a água a correr ou quando não separam o lixo de forma correcta.
A História ensina, além de pouca coisa que situe no espaço e no tempo, que tudo é relativo e que todas as civilizações valem o que valem, ou seja, mais ou menos o mesmo. E se isso for certo para as civilizações, não há-de sê-lo a nível mais simples para o valor das hierarquias?
Noutras disciplinas aprende-se pouco e brinca-se muito. E é preciso não esquecer que o próprio Ministério da Educação, durante os últimos dois anos, espezinhou e insultou os professores com apreciável sucesso perante a opinião pública.
Lançando algumas bases para a rejeição do mundo em que as crianças vivem, a Escola Pública dá o seu modesto contributo para a criação de uma bolsa de radicais e delatores. Que espanto pode então provocar a cena do inspector de Fafe?
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