Ontem em Madrid, como há uma semana em Lisboa, houve desfiles comemorativos do chamado orgulho guei. O acontecimento madrileno está transformado numa instituição. Para além de grande adesão popular houve presença de ministra e secretário de estado do governo, dirigentes da Izquierda Unida, das Comisiones Obreras e da UGT.
Este ano, por decisão da internacional que gere o movimento, o lema específico foi o da visibilidade lésbica. Além da gratuidade do desígnio (porque não pedir a visibilidade de imensas minorias como a dos sado-masoquistas ou a dos podólatras?) é curioso ver que a "plataforma reivindicativa" apanhou o comboio da laicização tendo sempre como alvo a Igreja Católica. Nem uma palavra sobre o Islão, em crescimento em Espanha, nem sobre as amizades perigosas dos actuais dirigentes políticos. As mulheres podem continuar invisíveis se for por respeito ao véu. É fácil pedir a visibilidade das lésbicas quando se ignoram problemas bem mais sérios e quando o silêncio sobre o que se passa noutros países é total.
Além de tudo isto, sempre tive a impressão de que as lésbicas são visíveis. Uma vez vi duas a comer sardinhas assadas numa esplanada de Belém e os talheres não se suspendiam nem flutuavam no ar, como nos filmes com efeitos especiais.
Calma, calma, nesta última frase não estava a falar a sério, mas também os reivindicadores profissionais que este ano fingiam interessar-se pelas lésbicas não falam a sério nunca. Interessados apenas em garantir apoio dos estados às cúpulas das suas organizações, querem lá saber do efeito devastador que as medidas que propõem poderia ter sobre pessoas cuja defesa pretendem assumir. Pouco lhes interessa que a visibilidade que cada um quer dar de si mesmo pertence à esfera do estritamente pessoal.
As paradas guei podem até ser acontecimentos divertidos, mas estão afectadas por dois aspectos perniciosos: por um lado são cavalgadas por oportunistas políticos, e por outro causam danos aos que não se revêem nos seus auto-denominados defensores e que acabam por ser prejudicados por certa imagem negativa de um colectivo que não existe.
Falam de orgulho mas trata-se de preconceitos em série: de que existe uma "identidade" que cabe na sigla LGBT, de que os indivíduos devem exibir os seus gostos particulares, ainda por cima em matéria de sexo, como quem exibe um autocolante.
A igualdade só se atinge quando não for necessário falar da diferença, quanto mais com espalhafato.
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