Edward N. Luttwak (conselheiro do Center for Strategic and International Studies) expõe as suas razões para desaconselhar um ataque ao Irão.
Luttwak mostra-se convicto de que num futuro não muito distante vai ser possível uma relação amistosa EU-Irão. Com a excepção de uma minoria extremista, os iranianos não são anti-americanos. Largos sectores da imensa juventude do país (65% dos 70 milhões de habitantes estão abaixo dos 25 anos) têm interesse por aspectos da cultura americana. Além disso, os longos anos de opressão religiosa poderão estar a criar o embrião de uma forte rejeição do Islão político a curto prazo.
Por outro lado, bombardear o Irão é precisamente aquilo que os poder ultra-fundamentalista deseja: a guerra pode ser o único meio de recuperar prestígio por parte de uma população hostil aos governantes. Além disso, com uma altíssima e explosiva taxa de desemprego, a guerra poderia até ter o papel de regulador do excesso de população - dizimando, precisamente, as camadas mais jovens e por isso mais perigosas para o regime.
Finalmente, o programa nuclear apregoado pelo Irão começou há três décadas sem que a produção de armamento nuclear tenha sido conseguida. Embora não mereçam crédito as afirmações de que o programa tem fins pacíficos (o Irão tem enormes reservas de gás que poderiam ser usadas para produzir electricidade barata) o facto é que a aventura nuclear iraniana tem assentado em colaborações de eficácia duvidosa, ao mesmo tempo que o país não é suficientemente organizado do ponto de vista técnico para que as coisas corram com a facilidade que os responsáveis iranianos actualmente apregoam. (Até na extracção de petróleo, ou na obtenção de peças para aviões, o país é altamente dependente de contratos com o exterior, como mostram os recentes e graves acidentes aéreos.)
A proclamação de que o Irão já domina a tecnologia nuclear pode, pois, estar a meio caminho entre a farsa e a realidade. Há aqui algumas parecenças com o Iraque de Saddam: hoje critica-se, e bem, a incompetência dos serviços de informações a respeito das famosas "armas de destruição maciça", mas o facto é que o próprio Saddam convenceu o mundo e, ao que parece, alguns dos seus generais, de que elas existiriam.
Claro que, do ponto de vista americano, o Irão com armas nucleares é inaceitável. Se actualmente os dirigentes iranianos já praticam uma enorme agressividade (de que as recentes notícias do recrutamento e treino de milhares de suicidas é apenas um sinal entre muitos), pode maginar-se o que será quando dispuserem do escudo nuclear. Apesar de tudo, atacar o Irão nas condições actuais poderia ter efeitos que rapidamente se virariam contra o atacante.
Entretanto, ontem, no PÚBLICO, Rui Tavares fazia referência pontos de vista mais favoráveis ao ataque e ironizava: os partidários do ataque acham que não se pode permitir a posse de armas nucleares a quem "acredita no regresso do 12º imã e no fim do mundo", devendo esse privilégio estar "reservado a quem acredita no regresso de Cristo e no fim do mundo". Ora, em matéria de crenças, os homens são muito variados. E, muito mais ingénuos do que os dois que são subentendidos na frase, são os que têm a crença que um e outro constituem perigos comparáveis. E também só os ingénuos podem interpretar a comparação como distanciação neutra: ela é uma tomada de partido implícita por Ahmadinejad.
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