O jornalismo em Portugal está a entrar numa roda livre de interpretações arbitrárias e de falta de respeito pelo que as palavras significam. Aparece hoje a notícia de que tv e internet são "novos pecados", a propósito de palavras ditas ontem em Roma pelo cardeal Stafford. Não sei em que fonte se basearam. Ora, não é bem isso o que se lê aqui, mas sim que
...o cardeal pediu aos fiéis que reflectissem em quanto tempo passaram a ler jornais e revistas ou a ver televisão ou a usar a internet, em comparação com o tempo investido na meditação e a ler as sagradas escrituras.
Banal, portanto. De qualquer maneira, tenha o cardeal dito uma coisa ou outra, do que não há dúvida é que ele perdeu uma boa ocasião de estar calado em vez de dizer tonterias (peço desculpa pelo uso do castelhano, mas não temos em português um substantivo tão adequado à situação como este).
Mas o cardeal disse outras coisas na mesma ocasião. Infelizmente, ao misturar tudo, o trivial a roçar a idiotia e questões que nenhuma reflexão profunda resolveu até hoje, o discurso de Stafford, como o de muitas autoridades católicas que não primam por uma grande cultura e capacidade de reflexão, perde força e presta-se ao ridículo. Stafford referiu, a propósito de afirmações de jovens americanos que pensam que certos crimes - como a violência sobre crianças - são imperdoáveis, que muitos acham que é difícil perdoar e procurar o perdão. E contrapôs que o sofrimento de Cristo oferece o perdão para todos os pecados, para aqueles que o procuram.
Depois de ontem jornais, rádios e tvs terem batido até à exaustão no acórdao do Supremo, é imperdoável que não tenham feito referência a estas frases, e se limitem a transcrever afirmações que ficam bem como bombo de uma festa. A pobreza intelectual do cardeal Stafford está bem para a de alguns jornalistas que o transcrevem.
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