domingo, abril 16

Evangelho de Judas (II)

Adam Gopnik no New Yoker:

(...) Apesar de tudo o Evangelho de Judas é uma revelação. Primeiro, porque é útil recordar, num tempo de fundamentalismo renovado, que as religiões não têm, de facto, fundamento: que os textos sem erros e os sagrados inatacáveis de qualquer fé são obra dos homens e do tempo. Qualquer ortodoxia é o instantâneo de um momento. Que o facto de a Igreja há muito ter respostas ao gnosticismo, em todas as suas variantes, não significa que o gnosticismo sempre esteve condenado a ser heresia.

(...) o novo Evangelho enfeitiça - especialmente os livre-pensadores - porque nos recorda a força literária dos Evangelhos canónicos, precisamente por terem realizado a fusão do celeste com o lugar comum. (...) como editores, os pais da Igreja primitiva fizeram um trabalho notável ao seleccionar as histórias fortes e ao rejeitar as mais estranhas. O canon ortodoxo dá-nos um Cristo convincente como personagem de uma maneira que o (Cristo) Gnóstico não o é: irado e impaciente e eticamente comprometido (...) brilhantemente concreto nas suas parábolas e humano na sua dor. Quer se acredite (...)que este homem viveu, ensinou e morreu, ou, com S. Paulo, que ele viveu e morreu e ressuscitou, é difícil não o preferir ao Jesus do novo Evangelho, com os seus risos teatrais e (...) mensagens cifradas. Tornar Judas mais humano diminui a humanidade em Jesus, que surge menos como um homem com um horrível fardo divino do que como mais um sabe-tudo com auréola. Como verdade ou metáfora, ficamos com o velho conto.

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