quarta-feira, agosto 5

Resgates

O presidente Clinton regressou de Pyongyang com as duas reféns americanas. Vitória da diplomacia americana? O tempo o dirá, mas não maior que a de Kim Jong-il, esse homenzinho maroto que quis Bill e teve-o lá. Para o consumo externo e interno que der e vier. Há até quem diga que Bill transmitiu verbalmente a Kim um pedido de desculpas de Obama, embora pouco se saiba de que temas se falou durante o jantar de estado oferecido a Clinton.

Há obviamente aqui um resgate, se não com um cheque, pelo menos em géneros. Chantagem de estado é uma das especialidades de governos como o da Coreia do Norte. O que faz lembrar, em contraponto, a actuação bem mais materialista de Kadhafi.

Em 1988 um acto terrorista fez explodir sobre Lockerbie um avião da Pan Am, causando a morte dos 270 ocupantes. Depois de longas negociações, a Líbia acabou por reconhecer a responsabilidade no acto criminosso, tendo acordado em 2003 pagar entre 5 e 10 milhões de dólares a cada uma das famílias das vítimas. Não sei o que efectivamente foi pago, mas um facto de que ainda a semana passada se voltou a falar mostra que Kadhafi trabalhou bem para recuperar parte do rombo. À custa das enfermeiras búlgaras feitas reféns e libertadas em 2007, a Líbia pode ter recebido 72 milhões de dólares. Pelo menos o actual primeiro ministro búlgaro acusa o seu antecessor de ter pago esse resgate. É sem dúvida um típico episódio de luta política interna, mas o que se disse sobre o assunto e o que sabe das personagens não deixa muitas dúvidas de que uns milhões pingaram para a Líbia. O caso teve ainda como efeito colateral o relançamento de Kadhafi numa tournée europeia de "charme", se é que esta palavra se pode aplicar à grotesca criatura. A quem não convém lembrar tudo isto, também se sabe. Nicolas Sarkozy, que ao tempo ainda amava Cécile e não Carla, detinha oficialmente os louros da libertação, supostamente após uma difícil diplomacia, e com foto da primeira dama ao lado dos resgatados do inferno líbio.

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