Detesto o ideário político de Saramago e gosto muito de muitas das suas novelas. Mas para Saramago deus é uma tentação perigosa: o "evangelho" é das suas obras menos interessantes (apesar de um prólogo deslumbrante, cheio de religiosidade) e suspeito que o "caim" irá pelo mesmo caminho. Porque, para além da forma, tudo é quase previsível: trata-se de maltratar (merecidamente ou não, isso é irrelevante) o deus das escrituras. Isto para já não mencionar que a qualidade das novelas publicadas se encontra em rampa francamente descendente pelo menos desde a "Cegueira".
O tempo que Saramago dedica a deus mostra bem que, ao contrário do que o escritor vocifera, deus existe. Ocupa pelo menos um espaço importante na sua cabeça. Talvez por ocupar espaço nas cabeças de muitos de nós, o que o irrita militantemente. Como àqueles simplórios do "É provável que Deus não exista..." escrito em autocarros, apetece dizer-lhe, o Zé, é provável que muita coisa em que você acreditou e acredita também não exista, por isso não se chateie, viva a sua vida, escreva lá sobre poetas, bruxas, clones e funcionários do registo civil.
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4 comentários:
Podes vocíferar contra José Saramago. Não o faças é contra Deus. Isto porque enquanto Saramago ignora o teu vociferar, Deus castiga-te pelos mesmos motivos.
Clarifiquemos; podemos criticar muito o Saramago pelo seu ideario politico, e por acreditar em coisas que não existem tais como o materialismo dialectico, o que não devemos é critica-lo por escrever sobre certo Deus. O Deus da tradição é a ideia humana que segundo o autor é responsavel por muita crueldade e desgraça. É esse Deus que esta na ssuas páginas, não o outro.
Saramago escreve melhor sobre poetas, clones e mangas de alpaca do que sobre deus. É apenas isso que eu digo e é apenas a minha opinião, claro.
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