Vem aí a edição de 2009 da Festa do Avante. A Ciência vai estar na Festa, indo neste ano Darwin o destaque para a evolução da vida na Terra, sob o lema «da vida no universo ao universo da vida». Haverá uma exposição que abarca os últimos 65 milhões de anos e que ilustra a evolução dos primatas até ao Homo Sapiens; haverá também espaço para a observação experimental.
Mas o conhecimento não é neutro e a exposição é política de ponta a ponta. Daí, diz a organização, a atenção dada à Idade Média e [a] um bocadinho do Renascimento, períodos nos quais a defesa de uma abordagem evolucionista podia valer a fogueira; a seguir tratamos da revolução francesa e do Lamarck, depois do Darwin, que nasce entre duas grandes revoluções, a francesa e a industrial, e que por isso tem todo o seu pensamento influenciado pela época em que nasce.
Continuando a ler a informação do site, não se encontram outras referências à atribulada relação das ideias evolucionistas com os acidentes históricos. Talvez a organização atravesse uma fase de negação com respeito à URSS. Não se vê outro motivo para esquecer fogueiras bem mais recentes, sobre as quais nem um século ainda passou. É falha imperdoável que, numa exposição tão dada ao que é político, onde Darwin e Lamarck são figuras de referência, esteja ausente a figura de T. D. Lysenko - o homem que quis forçar as leis da natureza a estar de acordo com a ideologia do regime estalinista, e graças a cuja acção muitos cientistas foram demitidos ou simplesmente desapareceram. Que melhor lição sobre as relações entre política e ciência do que essa curiosa e sinistra perversão, nada materialista, que arruinou durante anos a agricultura soviética? Estou convencido de que, apesar de não estar no site, vai estar na Quinta da Atalaia nos primeiros dias de Setembro.
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