domingo, novembro 29

A memória, a história e as boas intenções aparentes

E os homosexuais? E os ciganos? E os escravos africanos? E os bruxos e bruxas? E os ateus? Os días e as horas de muitos anos não bastariam ao Estado espanhol para por-se de joelhos e pedir perdão a Deus e aos vivos por todas as injustiças cometidas por quem governou ao longo da sua antiquíssima história contra colectividades ou indivíduos diversos. E o certo é que ninguém ficaria satisfeito com o que, para mais, não passaría de uma pantomima desprovida de conteúdo e seriedade.

A propósito de uma iniciativa legislativa do PSOE no sentido de desagravar os descendentes de muçulmanos expulsos de Espanha no início do século 17, Mario Vargas Llosa recorda, no El País de hoje, porque não se deve misturar a memória com a história e porque seria bom que os políticos não usurpassem a função dos historiadores.

Foi menos [brutal] a expulsão dos judeus de Espanha en 1492? Estavam há tantos ou mais séculos na Península que [os mouros] e a sua saída forçada, decidida por razões políticas e religiosas pelos Reis Católicos, acumulou todos os agravantes possíveis.

Há momentos dignos de censura na história de todos os povos, mas não parece adequado apagá-los por decreto. O poder político olha a história do ponto de vista das suas conveniências circunstanciais. No caso concreto, o PSOE está apenas deslumbrado com a descoberta de que os imigrantes dão votos. Mas a luta política pode não ser boa conselheira para o efeito de explicar a história.

1 comentário:

Hugo Tavares disse...

Pode ser que assim se desvie a atençaõ da taxa de desemprego de 18%