quarta-feira, novembro 11

O fabuloso destino de Suha

Espectador à beira do adormecimento com o enrolar da novela sobre a corrupção caseira, não posso deixar de lamentar a pobreza do enredo. Também, que se pode esperar de um tema que chafurda em sucata? Nem dá para argumento de um filme sem subsídios. De resto, como tudo se reduz a casos tratados pelo telefone, bastaria fazer um folhetim radiofónico ou um filme só com banda sonora como a Branca de Neve. Infelizmente, ambos os formatos parecem fora de moda, um por ser muito atrás e outro demasiado à frente para os gostos contemporâneos.


Então, até porque hoje é aniversário da defunção do seu saudoso (haha) marido, dei por mim a lembrar-me de uma senhora com uma história bem mais engraçada. Segunda e última esposa daquele homem que lançou a moda dos lenços aos quadrados e também foi o chefe da resistência palestiniana que boicotou o acordo de Camp David, Suha Arafat já vivia em Paris quando o esposo lá passou os últimos dias. No papel de cônjugue pode controlar o acesso às cenas dos últimos momentos, após as quais ficaram no ar teorias conspirativas segundo as quais o líder teria morrido por envenamento ou SIDA (ambas as alternativas gozam de bastante popularidade). A sua conta bancária engordou consideravelmente com as transferências provenientes das ajudas internacionais à causa palestiniana, digo, à Autoridade Palestiniana. Investiu em hotelaria em Tunes e, após a passagem do marido por este planeta, não contente com o que já amealhara, exigiu à AP uma pensão vitalícia. A AP concordou em fazer-lhe um pagamento fixo de 20 milhões de dólares e uma pensão mensal de 500 000, coisa que ela parece ter recusado, por saber que a fortuna da PA se mede com mais uns zeros (ah, a pobreza que gera o terrorismo).



Suha volta então à Tunísia e, experiente como é a escolher a cama onde se deita, procura a provavelmente mais corrupta família do país para voltar a casar. E fá-lo com Bel Hassan Trabelsi, cunhado do presidente, aliando-se à sua irmã Leila Trabelsi para os grandes investimentos imobiliários. As coisas não lhe correram tão bem como esperava: Bel Hassan era casado e a lei tunisina não permite a poligamia.

A partir de então, também a amizade com a ex-futura-cunhada se estraga e começam as acusações, sem dúvida merecidas, porque, ao pé de Leila, Suha é menina de coro. Teve graça, por exemplo, o episódio em que Leila manda fechar um liceu privado para abrir um outro de que ela e Suha teriam a propriedade, mas logo que Suha entra com a sua quota (2,5 milhões de euro), Leila rói o cordel. As desavenças entre as duas têm como subproduto o levantar do véu sobre uma mão cheia de aldrabices que envolvem quantias com muitos zeros.

Acaba expulsa do país, tendo o ex-futuro-novo-marido ficado na posse dos seus bens. Um dos últimos escândalos com a pegada de Suha relaciona-se com mais um grande empreendimento imobiliário de que resultou o favorecimento de um genro do presidente tunisino e motivou inquietação no próprio partido do poder.

Actualmente Suha vive em Malta, numa casita que, diz-se, lhe foi oferecida pelo coronel Kadhafi, tendo-lhe sido retirada a nacionalidade tunisina (que lhe tinha sido atribuída por decreto) na sequência das trapalhadas com a família presidencial.

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