Para lá dos festivos dominós que assinalarão a queda do Muro, sondagens que denunciam moderação no entusiasmo com a mudança, e avisos sobre o estado da arte no capitalismo vêm lembrar-nos que a complexidade do mundo real está muito para além das representações simplistas com que julgamos compreendê-lo nos momentos de euforia.
Algum desencanto com a democracia e a economia de mercado tem as justificações que conhecemos, e todas as frases que sobre isso se escrevam vão desembocar à palavra "crise". Mas não deixa de apetecer parodiar os que sempre pensaram que o sistema de Leste ruiu porque aquela inominável coisa não era socialismo. E esta inominável coisa que etiquetam de neo-liberalismo selvagem, é mesmo capitalismo com mercado a funcionar livremente?
É irónico que Gorbachov reclame a urgência da nossa perestroika. Sem dúvida que está a pensar em Obama (curiosamente, são eles os dois presidentes em exercício que foram Nobelizados). Por muito que devamos a Gorbachov, o seu apelo é pouco apropriado para levar a sério: na medida em que Gorbachov perdera a vontade de dar cobertura ao sistema a que presidia, a comparação pode ser entendida como um recado a Obama para que desista dos Estados Unidos. Não é fácil indicar uma causa única para a queda do Muro, mas parece evidente que sem a falta de vontade de o defender a história que conhecemos teria tido um outro desfecho.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário