sexta-feira, junho 9

A qualidade das medidas

Anuncia-se mais um programa dispendioso e complicado para melhorar os resultados dos alunos em Matemática. Por exemplo, lê-se que


Cada agrupamento de escolas define a sua própria estratégia com autonomia, podendo por exemplo aumentar a carga horária da disciplina, criar equipas de dois professores por turma ou constituir equipas multidisciplinares de docentes para realizar actividades de apoio à Matemática nas áreas não curriculares como o Estudo Acompanhado.

Adquirir material didáctico ou software específico e melhorar ou criar de raiz espaços laboratoriais são outras estratégias que podem ser seguidas pelos estabelecimentos de ensino, com base no apoio financeiro da tutela.

Para se candidatarem às verbas, as escolas têm de apresentar um plano onde constem os resultados alcançados pelos alunos no ano de escolaridade anterior, a identificação das causas que influenciaram negativamente as notas e ainda as estratégias de melhoria das aprendizagens, além de uma estimativa dos custos do projecto.

Caso seja aceite o plano, que será avaliado por uma comissão nomeada para o efeito, a escola celebra com o Ministério um contrato-programa onde ficam definidas as metas a atingir e os apoios e recursos concedidos pela tutela.

Em cada escola haverá depois um docente nomeado pelo Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), que ficará responsável pelo acompanhamento do projecto.


Ora, dado o número de disciplinas que já compõem o currículo, mais actividades extra-curriculares, mais estudos com acompanhantes, mais horas extraordinárias aqui e ali, daqui a pouco as escolas terão de estar abertas até às 22h (mais ou menos). Pior do que isso, vão-se obrigar as crianças a estar sentadas um número excessivo de horas e ainda alguém virá com toda a lata exigir que não engordem.

Por outro lado, a complicação à volta das candidaturas das escolas ao programa não vai, obviamente, permitir aos professores envolvidos que se concentrem no objectivo principal que é ensinar Matemática bem. Aquisição de software específico? É um embuste pretender que a qualidade das aprendizagens (como eu gosto desta novilíngua) em Matemática, a nível básico, tem uma dependência significativa do uso de tecnologia.

Torna-se cada vez mais evidente que é preciso, antes de mais, melhorar a qualidade das medidas ministeriais.

Vamos ter estudo acompanhado obrigatório. Que tal a ideia de tornar o sucesso não obrigatório? Seria mais simples e barato e com certeza muito mais eficaz.

NOTA. As competências matemáticas (expressão deliciosa) descritas por lunáticos e outros extra-terrestres podem consultar-se aqui. Também ontem se realizou em Lisboa um seminário sobre as ditas, tendo como objectivo reflectir sobre as implicações da formulação da ideia de competências matemáticas, nomeadamente para o reconhecimento e avaliação de competências, para a valorização dos saberes e formação dos adultos e para o desenvolvimento curricular em matemática. Não se esclarece quem irá reflectir sobre as implicações da ideia de formulação da ideia de competências matemáticas, mas tenho a certeza de que não vão faltar candidatos.

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