Está na ordem do dia falar de futebol ou queixarmo-nos do excesso com que dele se fala. Vasco Pulido Valente volta ao assunto hoje no PÚBLICO, confessando uma mistura de indiferença e fascínio pelo ambiente criado à volta do Mundial.
A conversa de futebol não é, claro está, interessante em si. Não envolve argumentos, mas sim desejos, declarações de fé e "prognósticos". A controvérsia fica, por regra, bem ao nível do balneário. O estado do músculo x do jogador Y ou uma contagem de cartões são as notícias mais excitantes.
Mas é uma ilusão pensar que a conversa que a rádio e a tv nos dão, habitualmente, é melhor do que isto. Deixemos de lado as inúmeras rádios-todas-iguais-às-outras que encharcam o FM com conversas matinais bem piores que o futebolês: a linguagem e os temas são os da pura e simples idiotês. O pior é que as conversas (matinais e não matinais) na Antena 2 não são nada melhores, ao contrário do que se poderia esperar. Os programas da manhã, os da Judite Lima e o ritornello, mais um ou dois de que não recordo o nome, destacam-se pela conversa que oscila entre o tonto e o que interessa só a um grupo restrito de amigos. Os funcionários e as funcionárias proferem banalidades sobre banalidades num dialecto ao pé do qual os diálogos dos morangos com açúcar fazem lembrar a Agustina. Além disso, elas entrevistam-se umas às outras e trazem à conversa muitos amigos, sempre maravilhosos e com um gosto musical óptimo. Por exemplo: parece que uma das funcionárias, Daniela Qualquer Coisa, entrevistou Catherine Deneuve; hoje de manhã as outras funcionárias entrevistaram-na ao telefone perguntando sobre a excitante experiência. A Daniela explicou que tinha ficado maravilhada com a militância de Deneuve contra a tortura, a pena de morte e a defesa do ambiente. Que Deneuve era uma senhora e isto e aquilo. Tudo polvilhado de elogios mútuos q.b.. Francamente! Pior do que isto só o Madail ou o major. Na rádio pretensamente "cultural" exibe-se diariamente uma cultura superficial que é mistura do reader's digest com o foyer do S. Carlos. Felizmente, a música que transmitem não é fabricada na casa. Não há pachorra para o culturês (ainda por cima pc).
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