terça-feira, junho 27

A Caixa

Com imenso desvelo, somos presenteados com uma caixa de correio electrónico gratuito! Finalmente alguém faz alguma coisa por nós. Estávamos fartos das mensalidades exorbitantes do hotmail, do yahoo, do clix e do sapo: um verdadeiro assalto. Nem sei como é que o pobre orçamento familiar aguentava o luxo de ter 4 ou 5 endereços de email, pagos a peso de ouro. Só de facto num país onde se vive claramente acima das posses. Agora espera-se ansiosamente o passo seguinte: o governo vai anunciar, mais dia menos dia, um "mensageiro" gratuito para todos os portugueses (coisa inimaginável até hoje, mas a partir de agora o céu é o limite, como disse o outro a respeito de outra coisa)! Será com certeza um mensageiro seguríssimo, acessível - tal como o e-mail - em telemóvel e também na nova geração de frigoríficos inteligentes, que permitirá ao cidadão manter agradáveis chats com os funcionários e funcionárias da edp, epal, finanças, psp, ctt e até provavelmente da loja do cidadão e de ministérios. Tudo isto sem necessitar de ter computador, bastando upgradar o telemóvel ou o equipamento de cozinha.

Mas nem tudo é perfeito: à nova Caixa ou ao futuro Chat vai faltar o picante a que estávamos habituados no hotmail ou no yahoo. Um correio só para despachar assuntos burocráticos e pagar facturas fica triste demais. Ora, se os cidadãos e as cidadãs levarem para lá todos os amigos e amigas, todos os e todas as ex e futuro(a)s amantes, todos aqueles e aquelas com quem trocam anedotas e fotos de gajas ou gajos, não vai haver largueza de banda que aguente. A solução terá de passar por manter uma ou duas das nossas antigas caixinhas, mesmo pagando aquelas quantias incomportáveis. O tecnochoque deve estar a preparar milhões de correspondentes e interlocutores virtuais para animar o novo correio. Preparemo-nos: do e-boletim da autarquia até ao anúncio das fabulosas riquezas que ganharemos em certificados de aforro, passando pela abertura de mais um xizão para reciclagem, vamos ter muito que ler.

1 comentário:

lino disse...

Caro vivo: acha-me mesmo politicamente correcto?

Penso desses cartazes o mesmo que penso dos boletins das juntas de freguesia ou das câmaras: despesa inútil para o cidadão normal, útil para os que procuram auto-promover-se através dessa publicidade encapotada.