Chamar cobarde ao inimigo é sempre algo de valor duvidoso. Pode-se chamar muita coisa a um inimigo que se faz explodir para nos ferir - louco, por exemplo. Mas cobarde?...
Na guerra o respeito pelo adversario é essencial para não ficarmos cegos...
Não é mais cobarde disparar misseis à distancia? Os ataques vagamente cirurgicos sobre um inimigo tecnologicamente inferior é que podem roçar a cobardia, quer sejam justificados quer não.
Devemos insultar cada lado com os termos correctos...não deve ser dificil encontrar alguns para este caso. Terrorista não diz ja tudo? Ou é moralmente neutro?
Para além de o inimigo não se reduzir aos operacionais suicidas, este adversário não me merece qualquer respeito. Apesar do horror que toda a violência envolve, há diferença entre um ataque a alvos militares em situação de guerra declarada e acções de um inimigo escondido que têm por objectivo estropiar o maior número possível de civis. Os adjectivos que utilizamos denunciam, naturalmente, de que lado estamos.
Continuo a não concordar. Estou do lado da cultura Ocidental, mas precisamente porque a cultura Ocidental que eu respeito é uma coisa consciente de si propria, que não vive de enganos e de demagogias e palavras de ordem.
O terrorismo tem que ser combatido. Porque é o inimigo, tão só. Mas não é preciso de todo atacá-lo naquilo em que ele não é vulneravel.
Não hà cobardia nenhuma neste inimigo. Do ponto de vista militar o terrorismo é apenas mais uma forma de combate. Se uma força não tem capacidade convencional então tem que se remeter às activadades "covert" de desmoralização do inimigo. Os americanos sabem disto muito bem e a CIA já o fez em muitas partes do mundo, e já o apoiou em muitas outras. E o que fazia a heroica resistencia Francesa? Ia para a rua em formação para lutar mano-a-mano com os panzers? Estamos a brincar? Sempre que possivel o Bin Laden até atinge alvos militares. Aliás, pelos proprios criterios dos EUA ( que bombardeiam estacoes de radio e infraestruturas civis ) tanto o WTC como o pentagono seriam certamente alvos legitimos. E os civis? Seriam danos colaterais...
Cobardia? Porque é que o Bin LAden insite no terrorismo? Porque sabe que se ha alguém cobarde são as classes médias, tementes a tudo, de tão protegidas. E conta - erradamente, espera-se - que se elas sangrarem que chegue acabarão por ceder. É estrategicamente razoavel. Mesmo que errado, dificilmente sera estupido.
Eu não denuncio o meu lado pela escolha de insultos. Eu não preciso de insultar os meus inimigos se já estou em guerra com eles. PAra quê uma palavra quando posso dar um soco? As palavras, mesmo as duras, reservam-se para os que estão do nosso lado mas com quem discordamos.
Como é que eu vejo o atentado de Londres? O que me vem à cabeça? "Acertaram-nos!". É tudo. Estamos em guerra. Uma vez acertamos nós um tiro, outras vezes acertam eles. Recolhemos os feridos, procuramos os responsáveis, revidamos o golpe. E tentamos ganhar.
Essas conversas demagogicas são naturais. Sempre se usaram para manter as massas com o moral alto. Mas eu gostaria de uma sociedade que sabe lutar sem ter que se esconder atrás desses escudos ideologicos, que lhes dizem que os seu lado é sempre o Bom e o outro tem tudo o que é Mau. Isso é sinal de fraqueza.
Caro omwo: tu ficarás com a tua posição e eu com a minha, mas do meu ponto de vista: 1) é cobarde enviar fanáticos suicidas provocar a morte de modo traiçoeiro, porque eles actuam sob o disfarce de serem um de nós, 2) há cobardia no próprio ponto de vista do suicida, que utiliza a morte do semelhante para obter o estatuto de mártir e talvez não sei quantas virgens no paraíso.
Pelas motivações, pelos meios que usam e pelos fins que têm em vista, não acho adequado fazer comparações entre a actuação destes criminosos e a de outros grupos ou exércitos como os que referes. Eles encarnam tudo o que eu considero mais repugnante na natureza humana e considero perigoso reconhecer-lhes virtudes. Até agora espalharam a morte aos milhares, e se não forem travados chegarão aos milhões.
Quanto às palavras, é claro que elas valem e podem muito pouco... mas as que pronunciarmos a favor do inimigo voltar-se-ão contra nós.
Caro Lino, tenho que apresentar algumas objecções:
>1) é cobarde enviar fanáticos >suicidas provocar a morte de modo >traiçoeiro, porque eles actuam sob o >disfarce de serem um de nós,
Dizes que é cobarde porque eles actuam sob disfarce. Mas essa é também a natureza dos serviços secretos, e essa é a natureza das forças especiais. E o nosso lado usa-as, como sempre foram usadas, para causar a morte entre o inimigo sem entrar em confronto aberto. Consideras que o trabalho desses agentes é cobarde? É do mais arriscado. O secretismo é essencial precisamente porque se movem no meio do territorio inimigo. No caso dos terroristas, como querias que alguem atacasse o coração dos EUA ou da Europa face aos nossos recursos militares esmagadoramente superiores, senão por via da dexepção? Leste a Arte da Guerra? Sun Tzu disse: Toda a guerra é decepção.
>2) há cobardia no próprio ponto de >vista do suicida, que utiliza a >morte do semelhante para obter o >estatuto de mártir e talvez não sei >quantas virgens no paraíso.
Os cruzados, quando não iam em busca do lucro fácil, esperavam um lugar no céu. O Islão dos nossos dias vive na nossa Idade Média...de qualquer forma isso não é cobardia. É estupidez.
>Quanto às palavras, é claro que >elas valem e podem muito pouco... >mas as que pronunciarmos a favor do >inimigo voltar-se-ão contra nós.
Só se fôr crucificado pelo nosso lado. Não me admiraria. Já andamos a dar tiros nos nossos, ao que parece. Antes da guerra cair nas mãos de burocratas e politicos, esses sim cobardes, não era nada invulgar reconhecer as qualidades do inimigo. O Wellington respeitava o Napoleão. A maralha que se sentava em Londres a coçar o rabo é que o desprezava. Isso é um habito civil. Da Ilíada até à WWII é fácil ver exemplos de combatentes que respeitavam os adversários com quem lutavam. É mais dificil ver isso nos politicos, e nas massas que ficam em casa a clamar pela agressão militar sem nela participar.
Eu sei de que lado estou. Isso não me impede de ver as coisas claramente, e de dizer sem problemas que o ataque de 11 de Setembro foi uma manobra estratégica brilhante que ficará na História militar, e que o Bin Laden é um génio estratégico que nos envergonha pela nossa falta de resposta. E que os seus operacionais fanáticos são estupidos, mas corajosos. E que a liderança dos EUA é uma vergonha que só dá tiros no pé. Precisamos de um Wellington ou de um diplomata ao nivel do Talleyrand. E o Bush não é nenhum dos dois certamente. Creio bem que a História o considerará muito fracamente. Pessoalmente considero-o um traidor à civilização Ocidental, e considero-o a ele e à sua canalha não só indiferentes à questão do terrorismo como causadores da sua escalada. A guerra deles é outra. Achas que andaram no Iraque a combater o terrorismo? Tiraram de lá um regime que ao menos não era composto de extremistas religiosos. Veremos o que se lhe vai seguir! Estão a unir todo o Islão contra nós, com tal inépcia que quase parece de propósito. Será?
Agora Lino, diz-me lá: se as massas votam, e se elas portanto decidem implicitamente que a força seja usada, porque é que elas (tirando as crianças, que não votam) não são alvos militares legitimos? Porque é que os nossos soldados são alvos legitimos e nós não?
É por isto que eu admiro os Israelitas. Porque em Israel até as mulheres são soldados. Não hà "inocentes". Aqui também não, só que gostamos de fazer de conta...
Aqueles que de facto sujam as mãos de sangue (e expôem-se ao risco) ficam com elas mais limpas. Isso é válido para os soldados americanos, para os israelitas, e para os terroristas. Os polticos e os civis é que deviam ter mais respeito quando fazem a guerra de bancada.
Caro omwo: não há acordo possível. Tu enalteces um inimigo que é especialmente cruel, traiçoeiro e oportunista, tanto nos métodos como nas justificações dos seus actos. Coloca-lo ao mesmo nível moral que nós. Por muito que se possa objectar à actuação dos líderes ocidentais, do meu ponto de vista a comparação é inaceitável. É uma das manifestações de um cavalo de Troia que abre o caminho à desorientação e à derrota. Por mim, termino aqui esta série já longa de comentários. Penso que tanto a tua posição como a minha estão expostas e percebe-se que não são conciliáveis.
Está certo Lino, se assim desejas paramos, mas as minhas perguntas não eram retóricas.
Acrescento que não os coloquei "ao mesmo nivel moral", e não era de moralidade que se falava mas de coragem. O meu ultimo comentario toca nesse ponto mas so superficialmente, e nao vou elaborar ja que nao pretendes continuar esta conversa.
Também dou esta sequência por terminada, se assim preferes.
7 comentários:
Chamar cobarde ao inimigo é sempre algo de valor duvidoso. Pode-se chamar muita coisa a um inimigo que se faz explodir para nos ferir - louco, por exemplo. Mas cobarde?...
Na guerra o respeito pelo adversario é essencial para não ficarmos cegos...
Não é mais cobarde disparar misseis à distancia? Os ataques vagamente cirurgicos sobre um inimigo tecnologicamente inferior é que podem roçar a cobardia, quer sejam justificados quer não.
Devemos insultar cada lado com os termos correctos...não deve ser dificil encontrar alguns para este caso. Terrorista não diz ja tudo? Ou é moralmente neutro?
Para além de o inimigo não se reduzir aos operacionais suicidas, este adversário não me merece qualquer respeito. Apesar do horror que toda a violência envolve, há diferença entre um ataque a alvos militares em situação de guerra declarada e acções de um inimigo escondido que têm por objectivo estropiar o maior número possível de civis. Os adjectivos que utilizamos denunciam, naturalmente, de que lado estamos.
Ola Lino, não tinha visto esta resposta.
Continuo a não concordar. Estou do lado da cultura Ocidental, mas precisamente porque a cultura Ocidental que eu respeito é uma coisa consciente de si propria, que não vive de enganos e de demagogias e palavras de ordem.
O terrorismo tem que ser combatido. Porque é o inimigo, tão só. Mas não é preciso de todo atacá-lo naquilo em que ele não é vulneravel.
Não hà cobardia nenhuma neste inimigo. Do ponto de vista militar o terrorismo é apenas mais uma forma de combate. Se uma força não tem capacidade convencional então tem que se remeter às activadades "covert" de desmoralização do inimigo. Os americanos sabem disto muito bem e a CIA já o fez em muitas partes do mundo, e já o apoiou em muitas outras. E o que fazia a heroica resistencia Francesa? Ia para a rua em formação para lutar mano-a-mano com os panzers? Estamos a brincar? Sempre que possivel o Bin Laden até atinge alvos militares. Aliás, pelos proprios criterios dos EUA ( que bombardeiam estacoes de radio e infraestruturas civis ) tanto o WTC como o pentagono seriam certamente alvos legitimos. E os civis? Seriam danos colaterais...
Cobardia? Porque é que o Bin LAden insite no terrorismo? Porque sabe que se ha alguém cobarde são as classes médias, tementes a tudo, de tão protegidas. E conta - erradamente, espera-se - que se elas sangrarem que chegue acabarão por ceder. É estrategicamente razoavel. Mesmo que errado, dificilmente sera estupido.
Eu não denuncio o meu lado pela escolha de insultos. Eu não preciso de insultar os meus inimigos se já estou em guerra com eles. PAra quê uma palavra quando posso dar um soco? As palavras, mesmo as duras, reservam-se para os que estão do nosso lado mas com quem discordamos.
Como é que eu vejo o atentado de Londres? O que me vem à cabeça? "Acertaram-nos!". É tudo. Estamos em guerra. Uma vez acertamos nós um tiro, outras vezes acertam eles. Recolhemos os feridos, procuramos os responsáveis, revidamos o golpe. E tentamos ganhar.
Essas conversas demagogicas são naturais. Sempre se usaram para manter as massas com o moral alto. Mas eu gostaria de uma sociedade que sabe lutar sem ter que se esconder atrás desses escudos ideologicos, que lhes dizem que os seu lado é sempre o Bom e o outro tem tudo o que é Mau. Isso é sinal de fraqueza.
Caro omwo: tu ficarás com a tua posição e eu com a minha, mas do meu ponto de vista:
1) é cobarde enviar fanáticos suicidas provocar a morte de modo traiçoeiro, porque eles actuam sob o disfarce de serem um de nós,
2) há cobardia no próprio ponto de vista do suicida, que utiliza a morte do semelhante para obter o estatuto de mártir e talvez não sei quantas virgens no paraíso.
Pelas motivações, pelos meios que usam e pelos fins que têm em vista, não acho adequado fazer comparações entre a actuação destes criminosos e a de outros grupos ou exércitos como os que referes.
Eles encarnam tudo o que eu considero mais repugnante na natureza humana e considero perigoso reconhecer-lhes virtudes. Até agora espalharam a morte aos milhares, e se não forem travados chegarão aos milhões.
Quanto às palavras, é claro que elas valem e podem muito pouco... mas as que pronunciarmos a favor do inimigo voltar-se-ão contra nós.
Caro Lino,
tenho que apresentar algumas objecções:
>1) é cobarde enviar fanáticos >suicidas provocar a morte de modo >traiçoeiro, porque eles actuam sob o >disfarce de serem um de nós,
Dizes que é cobarde porque eles actuam sob disfarce. Mas essa é também a natureza dos serviços secretos, e essa é a natureza das forças especiais. E o nosso lado usa-as, como sempre foram usadas, para causar a morte entre o inimigo sem entrar em confronto aberto. Consideras que o trabalho desses agentes é cobarde? É do mais arriscado. O secretismo é essencial precisamente porque se movem no meio do territorio inimigo. No caso dos terroristas, como querias que alguem atacasse o coração dos EUA ou da Europa face aos nossos recursos militares esmagadoramente superiores, senão por via da dexepção? Leste a Arte da Guerra?
Sun Tzu disse: Toda a guerra é decepção.
>2) há cobardia no próprio ponto de >vista do suicida, que utiliza a >morte do semelhante para obter o >estatuto de mártir e talvez não sei >quantas virgens no paraíso.
Os cruzados, quando não iam em busca do lucro fácil, esperavam um lugar no céu. O Islão dos nossos dias vive na nossa Idade Média...de qualquer forma isso não é cobardia. É estupidez.
>Quanto às palavras, é claro que >elas valem e podem muito pouco... >mas as que pronunciarmos a favor do >inimigo voltar-se-ão contra nós.
Só se fôr crucificado pelo nosso lado. Não me admiraria. Já andamos a dar tiros nos nossos, ao que parece.
Antes da guerra cair nas mãos de burocratas e politicos, esses sim cobardes, não era nada invulgar reconhecer as qualidades do inimigo. O Wellington respeitava o Napoleão. A maralha que se sentava em Londres a coçar o rabo é que o desprezava. Isso é um habito civil.
Da Ilíada até à WWII é fácil ver exemplos de combatentes que respeitavam os adversários com quem lutavam. É mais dificil ver isso nos politicos, e nas massas que ficam em casa a clamar pela agressão militar sem nela participar.
Eu sei de que lado estou. Isso não me impede de ver as coisas claramente, e de dizer sem problemas que o ataque de 11 de Setembro foi uma manobra estratégica brilhante que ficará na História militar, e que o Bin Laden é um génio estratégico que nos envergonha pela nossa falta de resposta. E que os seus operacionais fanáticos são estupidos, mas corajosos. E que a liderança dos EUA é uma vergonha que só dá tiros no pé. Precisamos de um Wellington ou de um diplomata ao nivel do Talleyrand. E o Bush não é nenhum dos dois certamente. Creio bem que a História o considerará muito fracamente. Pessoalmente considero-o um traidor à civilização Ocidental, e considero-o a ele e à sua canalha não só indiferentes à questão do terrorismo como causadores da sua escalada. A guerra deles é outra. Achas que andaram no Iraque a combater o terrorismo? Tiraram de lá um regime que ao menos não era composto de extremistas religiosos. Veremos o que se lhe vai seguir! Estão a unir todo o Islão contra nós, com tal inépcia que quase parece de propósito. Será?
Agora Lino, diz-me lá: se as massas votam, e se elas portanto decidem implicitamente que a força seja usada, porque é que elas (tirando as crianças, que não votam) não são alvos militares legitimos? Porque é que os nossos soldados são alvos legitimos e nós não?
É por isto que eu admiro os Israelitas. Porque em Israel até as mulheres são soldados. Não hà "inocentes". Aqui também não, só que gostamos de fazer de conta...
Aqueles que de facto sujam as mãos de sangue (e expôem-se ao risco) ficam com elas mais limpas. Isso é válido para os soldados americanos, para os israelitas, e para os terroristas. Os polticos e os civis é que deviam ter mais respeito quando fazem a guerra de bancada.
Caro omwo: não há acordo possível. Tu enalteces um inimigo que é especialmente cruel, traiçoeiro e oportunista, tanto nos métodos como nas justificações dos seus actos. Coloca-lo ao mesmo nível moral que nós. Por muito que se possa objectar à actuação dos líderes ocidentais, do meu ponto de vista a comparação é inaceitável. É uma das manifestações de um cavalo de Troia que abre o caminho à desorientação e à derrota. Por mim, termino aqui esta série já longa de comentários. Penso que tanto a tua posição como a minha estão expostas e percebe-se que não são conciliáveis.
Está certo Lino, se assim desejas paramos, mas as minhas perguntas não eram retóricas.
Acrescento que não os coloquei "ao mesmo nivel moral", e não era de moralidade que se falava mas de coragem. O meu ultimo comentario toca nesse ponto mas so superficialmente, e nao vou elaborar ja que nao pretendes continuar esta conversa.
Também dou esta sequência por terminada, se assim preferes.
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