domingo, agosto 8
Um tempo perdido
No PÚBLICO de ontem, José Vieira Mendes lamenta que já não haja cinemas de reprise em Lisboa e tem saudades do Europa e do Paris. Eu também. Entusiasma-se com a recuperação do Europa pela CML e vê aí um futuro radioso para a cultura em Campo de Ourique. Eu tenho dúvidas. O São Jorge também foi "recuperado" mas praticamente não tem programação, como a consulta da página-internet, ou da da própria EGEAC, mostra logo. Claro que há uns "festivais" de vez em quando, alguns menos interessantes do que outros. Mas a realidade é que as pessoas agora, em geral, não querem ver filmes como o faziam nos anos 60 ou 70.
Nesse tempo era normal que as salas organizassem os seus ciclos de reposição, que no verão eram obrigatórios, e permitiam ver ou rever filmes de qualidade. O Europa era uma excelente sala de cinema, dispondo de condições técnicas que infelizmente já não existem em Lisboa: projecção de 70mm, uma qualidade de imagem hoje inexistente nas salas comerciais. Nunca poderemos rever aqui o West Side Story ou a Cleopatra como foram produzidos no seu tempo.
O problema é que agora temos os filmes que queremos enlatados em casa, a poucos metros da cozinha e do frigorífico. Os cinéfilos saudosos não se podem queixar: têm uma Cinematoca com programação estimável e não muito concorrida, num lugar central de Lisboa, servida por metro. Claro que encerra em Agosto: férias são férias e ver cinema é trabalho. Mas que justificação haverá para plantar tocas em todos os bairros? Não estou a ver a malta de Campo de Ourique a curtir entusiasmada na rua Almeida e Sousa.
(Foto: Biblioteca de Arte - Fundação Calouste Gulbenkian)
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