Sayed Rahmatullah Hashemi, com as funções de destacado ex-porta voz taliban no curriculum, resolveu mudar a área dos seus "estudos", quis ingressar em Yale e foi admitido. A habitual "compreensão" de motivações e especificidades culturais serviu aqui para branquear um passado terrorista: uma declaração da universidade refere-se a Hashemi como um "fugitivo do naufrágio afegão".
A deputada afegã Malalai Joia criticou a universidade, classificando o acto de admitir Hashemi como revoltante e insultuoso.
Curiosamente, parece que a compreensão só é accionada precisamente em relação aos que usam a violência e são ou foram adeptos assumidos da barbárie.
É que, em 2002, um projecto de Paula Nirschel (da organização Iniciativa para a Educação das Mulheres Afegãs) para permitir às jovens do Afeganistão pós-taliban prosseguir estudos superiores, esbarrou com a recusa de Yale em disponiblizar vagas.
A respeito da sentença de morte que pode vir a ser decretada contra Abdul Rahman, por se ter convertido ao cristianismo, deve haver também muita compreensão nas nossas fileiras. Abdul Raoulf, considerado moderado por ter estado na oposição aos Taliban, já disse: "Rejeitar o Islão é insultar Deus e não podemos permitir que Deus seja humilhado. este homem tem que morrer".
Tanto quanto sei, não há opinião do nosso ministro dos Negócios Estrangeiros, ou de
outro seu homólogo europeu, sobre o assunto. Provavelmente estão de acordo, ou compreendem. Ou então o caso tem muito menos importância para eles do que uns desenhos. É apenas a vida de um homem obscuro em jogo, e a religião espezinhada é apenas o Cristianismo, com o qual temos vergonha de ter alguma coisa a ver.
Última hora: o tribunal não aceitou a queixa contra Abdul Rahman.
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2 comentários:
Notícia de penúltima hora: o meu jornal (alemão) do dia 25 trazia uma notícia sobre a ajuda internacional para Rahman. Resumindo: Alemanha, EUA, Áustria (na qualidade de representante da UE), Canadá.
Fala também de protestos de alguns políticos alemães, que consideram um erro resolver o problema invocando inimputabilidade por problemas mentais, e do comentário do comandante do regimento alemão estacionado no Afeganistão, que pede comedimento nas críticas, em vez de piorar a situação para o governo afegão.
O problema deste homem está resolvido, e abriu-se uma brecha no direito da Sharia - como aliás já tinha acontecido com Amina Laval, também por pressão internacional.
E note que desta vez não houve embaixadas atacadas nem bandeiras queimadas. Eu acredito que o diálogo é possível, se os motivos forem razoáveis - como o eram, neste caso.
Ainda bem que o problema de Rahman está resolvido. Infelizmente não me parece que tenha havido uma verdadeira brecha na sharia, visto que o tribunal apenas invocou motivos processuais para não aceitar a queixa. Houve, efectivamente, alguma pressão de um pequeno número de países ocidentais, particularmente dos EEUU, e penso que foi mais a pressão que eles estão em posição de exercer sobre o governo afegão, do que qualquer diálogo, que levou a este desfecho. No entanto, há entre nós notórios "compreendedores" do Islão dos quais não conhecemos qualquer tomada de posição sobre o assunto.
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