A crise dos cartoons veio, curiosamente, exigir clarificação de posições políticas no que toca ao tema muito sensível da liberdade de expressão e desmascarar hipocrisias que costumavam passar despercebidas sob o manto do progressismo, sobretudo no campo da esquerda órfã do Muro.
A linha divisória não é entre esquerda e direita, conceitos vagos e inapropriados, mas, no caso concreto, entre os que defendem a liberdade de expressão mas compreendem - quando não justificam - a susceptibilidade dos sentimentos religiosos e as reacções dos fanáticos que fazem ameaças de morte, e os que reconhecem o direito ao protesto e às suas consequências em estado de direito mas põem em primeiro lugar a defesa da liberdade de expressão. Tudo depende, como se vê, do lugar que as frases ocupam em relação à palavrinha adversativa.
Na prática, a piedosa tolerância para com os sentimentos religiosos exibida pelos sectores da esquerda empedernida e todos os que, noutras esferas políticas, por aqueles têm sido contagiados, só se manifesta, como se vê, quando a religião ofendida é a mesma que obriga a vestir burkas, apedrejar mulheres e que, numa palavra, prega a condenação à morte dos apóstatas e infiéis. Se se tratasse de uma posição de princípio, motivos não teriam faltado para que os mesmos se fizessem ouvir entre nós em muitas ocasiões. Pelo que podemos concluir que, dependendo do que lhes convém, ora gritam A mas B, ora sussurram B mas A.
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