terça-feira, dezembro 13

Protestos selectivos

Está no ar uma agitação enorme a propósito da tortura que os EEUU terão praticado sobre prisioneiros suspeitos de terrorismo e sobre os voos de aviões da CIA pela Europa. É uma vaga de excitação que sucede aos protestos recorrentes sobre as condições a que são submetidos os prisioneiros de Guantanamo. Em abstracto, o objecto destas preocupações é justo, mas a atitude enviesada da maioria das vozes que os proferem faz suspeitar de que a preocupação não tem nada a ver com direitos humanos, mas tem unicamente como fim atacar os EEUU e a actual admnistração.

Alguém se lembra, por exemplo, do nome de Akbar Ganji? É um jornalista iraniano preso há seis anos, torturado, e incomunicável, por delito de opinião. Fez greve da fome e encontra-se em débil estado de saúde. O advogado que pretendeu defendê-lo foi preso. Alguns amigos tê-lo-ão aconselhado a fazer declarações anti-bush para se tornar conhecido através dos media. Ganji tem recusado sistematicamente e o resultado está à vista. (Recorde-se que Shirin Ebadi, a advogada iraniana agraciada com o Nobel, cedeu a essa tentação, tendo no discurso de aceitação referido a situação de Guantanamo e calado a dos milhares de prisioneiros de consciência do seu país...)

Recentemente, a Foreign Press Association atribuiu a Ganji o prémio "Diálogo de Culturas 2005". Na cerimónia, a apresentação do prémio foi feita por Bianca Jagger, embaixatriz UNICEF, que afirmou que também não poderíamos esquecer Guantanamo e Abu Ghraib. Na visão distorcida dos novos iluminados, membros de bandos terroristas estão no mesmo plano dos que apenas pensam diferente e defendem as suas ideias escrevendo. Para já não falar, claro, da qualidade das ideologias de uns e outros.

4 comentários:

abrunho disse...

Para esta iluminada os prisioneiros de Guantanamo são seres humanos, tal como o sr. Akbar Ganji. Assim, preocupa-me que uma pessoa possa sem acusação, sem defesa, num limbo da lei estar preso até não se sabe quando. Tal como me preocupa que outra pessoa também seja maltratada e limitada na sua liberdade por expressar o que pensa.

Um não implica esquecer o outro. Ambos são inaceitáveis. Comparar uns com os outros com o intuíto de desculpabilizar é repulsivo. A referência deve ser o respeito pelos direitos humanos, não o que se considera ser o pior dos estados opressores.

É incrível o que se diz e defende por ideologia...

zero disse...

agora que tivemos este esclarecimento por parte da 'advogada' de bianca jagger, deveriamos dormir todos mais descansados ... enfim ... menos aqueles que (avisadamente) não podem dar-se ao luxo de depender nem da bianca nem da advogada.

akbar ganji será libertado nos próximos meses ... espera-se ... para ser 'exilado internamente'.

Orlando disse...

Lino, que LATA!

Se tiver de escolher entre viver nos estados unidos e no irao, não há dúvida possível. Acontece que eu quero continuara a viver num país que seja MUITO MELHOR do que o Irão. Não cedo a chantagens do tipo: Se queres que te proteja, baixa a bola!

Quero continuar a poder falar de cabeça levantada. Não quero perder o meu emprego por delitos de opinião, com já aconteceu neste pais.

Tmabém me acusas a mim de anti americanismo primário?

lino disse...

on: não há nada no post dirigido a alguém em particular nem te classifico como "antiamericano primário".