domingo, dezembro 11

Até quando teremos liberdade de expressão?

O cineasta Theo van Gogh assassinado em 2004; Oriana Fallaci julgada em Itália por ofensas ao Islão; museus europeus que retiram de exibição obras eventualmente ofensivas (para o Islão, claro); nova legislação na Noruega e no Reino Unido para punir ofensas à religião... Tudo isto são sinais de que o mundo onde todos os pontos de vista têm direito à expressão está seriamente ameaçado. Ainda assim, há também sinais de resistência: artistas e editores do Jyllands Posten, na Dinamarca, não cederam às ameaças de morte e levaram por diante a publicação de cartoons relativos a Maomé e o Islão; Hervé Loichemol encena no Teatro de Carouge (Suiça) uma peça de Voltaire sobre Maomé, mas necessita de protecção policial. Os perigos que estes profissionais afrontam são bem reais. Eles demonstram uma coragem digna de admiração, tanto mais quanto ela está a tornar-se rara nas elites intelectuais e políticas, frequentemente envergonhadas e carregando complexos de culpa do próprio passado, mas prontas a ceder perante uma onda de retrocesso civilizacional.

Apesar da clareza com que a natureza da ameaça é discernível, para a ideologia dominante os perigos vêm sempre de outro lado. O discurso anticapitalista, reduzido a fórmulas simplificadas e tornado parte integrante da cultura de massas, anestesiou-nos colectivamente e impede a visão serena da realidade. (Só assim se explica, por exemplo, a atenção dada entre nós, recentemente, à questão dos crucifixos.)

7 comentários:

Orlando disse...

Subscrevo totalmente o primeiro paragrafo.

Quem está a dar atenção aos crucifixos é quem acha que eles devem lá ficar.

raiva disse...

E eu o segundo!...

zero disse...

ambos

Orlando disse...

Isto agora vai por votos, é?
Que tal argumentar um bocadinho?
Já não se usa?

raiva disse...

É que, para além das posições serem de ordem ideológica, o Lino escreve bem.

Quem é o perigo hoje para nós e o nosso mundo? Temos divergências insanáveis sobre isso.

António Araújo disse...

Há muitos perigos. Por exemplo:

Bin Laden, George Bush, A coreia do Norte, os EUA, o irão, Israel, ah, claro, e os extremismos ridiculos das religiões primitivas, arcaicas e absurdas do médio Oriente: O Islão, o critianismo, o Judaismo.

Muitos perigos. Em graus diferentes. Mas é preciso enfrentá-los a todos.

António Araújo disse...

E quanto à liberdade de expressão, que tal as propostas do Blair para tornar crime de opnião qualquer forma de discurso que "fomente ou justifique o terrorismo"?

Ou isso já não conta, porque faz parte do esforço de guerra? O "fomente" já tem leis que o impeçam (só que não são usadas porque o Blair tem que lidar com o curioso facto de ser em simultaneo um pavão do politicamente correcto), quanto ao "justifique", se for bem esticado até dá para me prender a mim.

Até que não era má ideia, hã? Ficávamos logo todos muito mais seguros, tenho a certeza. Até eu, porque se isto continua assim mais vale ir preso agora antes que inventem algo pior.

Curiosamente é o mesmo tipo que propõe as tais leis para punir "ofensas à religião" (ofensas essas que incluem, suponho, a sátira, ou o crime supremo de falar acerca da religião de forma lucida e racional) pondo-se assim do lado dos extremistas islâmicos e mostrando a sua predilecção pela mordaça como forma de solucionar todos os problemas.

Mas este já é um lampião do Ocidente...

Entre os nossos inimigos e os nossos "protectores" as semelhanças são estranhamente grandes...