quarta-feira, dezembro 14

Eduquices

O artigo de Henrique Monteiro, publicado no último Expresso, sobre as concepções, a respeito do ensino da Matemática, de um dos nossos mais activos "especialistas em educação", é mais um de uma série longa em que se clama, sem que ninguém ouça, que o rei vai nu. O Público também incluiu, na passada segunda feira, uma opinião de Guilherme Valente no mesmo sentido. Eu envolvi-me nesta campanha, tendo escrito artigos críticos da situação a que se tinha chegado, em 1996 e em 1999. Visava questões muito concretas relacionadas com o ensino da Matemática. Os efeitos práticos destas intervenções parecem-me agora desprezáveis ou nulos, embora considere útil que a denúncia continue. A erosão do "eduquês" e das suas "teorias" tem sido lentíssima; de vez em quando aparece alguém que aparenta ter a vontade e o poder de inflectir caminho (primeiro Justino, e depois, em instantes fugazes, Maria de Lurdes) mas logo se descobre que o monstro é muito mais resistente, ou as vontades são mais fracas, do que se pensa.

O problema com a ideologia que os pedagogos pós-modernos infiltrados no ministério da educação e em pontos-chave do sistema escolar têm vindo a consolidar com fortes raizes, é que se trata de uma cantilena de embalar a que se adere sem necessidade de muito esforço nem espírito crítico. Desvia a necessidade do esforço intelectual para a rotina burocrática. Tenta suavizar o trabalho intelectual dos alunos, mas também dos professores (embora a estes crie uma infinidade de afazeres entediantes).

Um dos sintomas da narcotização produzida é o uso do jargão que estes pedagogos adoptaram como se fosse linguagem de gente. Enquanto as pessoas, para falar do ensino, se exprimirem usando o palavrão ensino/aprendizagem sem desatarem a rir, não há esperança de que as coisas verdadeiramente mudem.

3 comentários:

raiva disse...

Todos não seremos demasiados, mas havemos de obter alguns resultados.

Os artigos de Henrique Monteiro e de Guilherme Valente estão a ser comentados. O autor do artigo visado por HM já respondeu, o presidente da FCUL também. Oxalá apareçam mais contribuições.

Agora seria apropriado um artigo também do Lino num desses jornais...

lino disse...

O substracto do Lino jé escreveu artigos nesses jornais (Expresso em 96, Público em 99) com efeito e repercussão igual a zero.

raiva disse...

Eu sei, mas creio que agora é diferente. Há mais condições para as vozes não eduquesas serem escutadas com atenção.

Para além disso, creio que estamos num momento importante (Bolonha, etc), em que a influência que se possa ter pode vira a ser ampliada no futuro.

Eu tentarei dar o meu contibuto infinitesimal.