Um telejornal de ontem deu-nos uma ideia de como vai o programa de formação contínua para professores de Matemática do 1º ciclo. O espectador desprevenido e afastado do assunto pode ter ficado a pensar que vai muito bem, que agora é que é. Eu fiquei um pouco desconfiado e alarmado, embora não surpreendido.
Uma das senhoras formadoras apareceu a dizer que era preciso mudar a avaliação, porque (cito de ouvido) ao resolver um problema de matemática o resultado não interessa, e pode chegar-se a concluir que o caminho seguido na resolução até é muito válido. Isto contém alguma verdade, mas conhecendo como conheço o mundo dos modernos pedagogos sei que se está principalmente a tentar relativizar o que é certo e o que é errado.
Outra senhora, formanda ou formadora, não me recordo, disse que (novamente cito de cor) o que era necessário era acabar com aquela matemática chata, toda à base de regras.
Fiquei a pensar que o programa está um pouco perdido e desorientado, pois a ideia que eu tenho é de que, dada a ausência de formação matemática de muitos professores do 1º ciclo, o que é necessário em primeiro lugar é ensinar-lhes matemática (a tal a que eles chamam chata, inclusivamente) a fim de que eles a possam contar às crianças numa linguagem adequada. Não creio que se trate de um problema de subtilezas pedagógicas: alguém pode contar a uma criança as mil e uma noites se não tiver lido bem o livro?
Fui à internet espiar sites das faculdades e institutos onde o programa funciona. Fiquei a saber que o programa tem 7 princípios-7, 5 objectivos-5 e uma comissão de acompanhamento com 6 competências-6. Nos enunciados repetem-se, entre princípios e competências, a valorização do trabalho colaborativo entre diferentes actores, a valorização de dinâmicas curriculares centradas na matemática, o desenvolver uma atitude positiva dos professores relativamente à matemática, promovendo a autoconfiança, etc... podem ser intenções óptimas, mas fico com a impressão de que com tanta filosofia prévia nunca mais se chega à matemática propriamente dita. E o pior é que por parte de alguns intervenientes a intenção pode ser mesmo essa.
Tudo bem, sejamos optimistas. Deixemos a matemática chata para os finlandeses, os chineses, os selvagens de Singapura, ou esses infelizes nascidos no leste europeu que quando chegam aqui só podem fazer trabalho de segunda. O resultado... verá-se.
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2 comentários:
verá-se?
ver-se-á!
Agradecendo o seu cuidado corrector, direi-lhe apenas que na próxima ocasião não esquecerei-me de assinalar em itálico uma eventual utilização humorística da linguagem.
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