domingo, outubro 30

4 pecados capitais

Luca Ricolfi, sociólogo, professor de Análise de Dados na Universidade de Turim, homem assumidamente de esquerda, entrevistado ontem no El Mundo sobre o seu recente livro Porque somos antipáticos? identifica quatro pecados capitais na esquerda contemporânea:

1) Abuso de esquemas secundários. Transforma-se uma evidência empírica por uma interpretação que lhe altera o sentido. O objectivo é falsear a realidade quando ela contraria as nossas expectativas. (Ex: para explicar as terríveis condições de trabalho dos operários nos países comunistas, a esquerda marxista começou por dizer: pois, mas lá as relações de produção são diferentes, os operários orgulham-se do seu trabalho, controlam os meios de produção, etc etc. Quem usa esquemas primários vê a realidade como é e diz apenas: as condições em que trabalham os operários nos paises comunistas são nocivas e produzem cancro.) A esquerda, quase por norma, diz que uma coisa não é importante em si mesma, mas no contexto. É o caso da guerra no Iraque. Mandar tropas para o Iraque não era algo que estivesse certo ou errado, mas dependia da bênção da ONU. Quando parecia que Kerry ia ganhar as eleições, chegou a dizer-se que a nossa presença no Iraque teria então outro significado.

2) Medo das palavras. Doença com 25 a 30 anos, importada dos EEUU. Não há cegos, há invisuais. A vigilância da linguagem no plano privado contrasta com uma linguagem crua de políticos e figuras públicas que começaram a dizer o que lhes dá na gana: Pertini, Wojtila, Berlusconi. As instituições podem transgredir, mas o cidadão que transgride é mal visto.

3) Linguagem codificada. "Economia social de mercado" ou "reformas estruturais" não dizem nada às pessoas normais. Estas doenças da linguagem afectam igualmente a direita. A Liga Norte e a Forza Italia estão imunes por serem partidos novos, sem tradição ideológica (comunista, democrata cristã ou fascista).

4) Complexo de superioridade moral, uma doença da alma. Os políticos de esquerda dizem representar a parte mais sã do país, os que pensam mais no bem comum e nos ideais do que nas conveniências próprias. No entanto o sentido cívico (pôr o bem comum em primeiro lugar) pode medir-se e desde 96 que há estudos sobre isso em Itália. A conclusão é que não há diferença de sentido cívico entre votntes de esquerda e de direita; se em alguns estudos há diferenças ligeiras, elas são a favor das pessoas de direita.

Afirma também que os políticos de direita não são tão hipócritas como os de esquerda e que os eleitores se apercebem disso. Que a esquerda com Prodi vai ganhar as eleições sem o merecer, embora o centro-direita o mereça ainda menos. "Ainda não sei se hei-de tapar o nariz [ao votar] ou se não votar. Creio que mal Berlusconi seja afastado muita gente recuperará o cérebro."

2 comentários:

Anónimo disse...

TRÊS PENSÕES CAPITAIS

"Pensões: Soares uma, Cavaco três"


«Em termos de pensões, bem se pode dizer que Cavaco Silva bate Mário Soares por três a um, de acordo com os dados fornecidos pelas duas candidaturas presidenciais.

A polémica já estalou, em torno da pensão que Cavaco Silva recebe do erário público por ter sido durante dez anos primeiro-ministro (entre 1985 e 1995).

Soares trouxe o caso à baila, não para criticar o facto de Cavaco auferir a pensão, mas antes para desmontar o argumento do próprio Cavaco, que diz não pertencer à classe política.

O Estatuto Remuneratório dos Titulares de Cargos Políticos foi alterado recentemente (e, por exemplo, o regime para os autarcas continua a gerar polémica) na Assembleia da República. E, em nome do fim das 'regalias injustificadas', decidiu-se acabar, entre outras regalias, com as pensões vitalícias que eram atribuídas aos ex-primeiros-ministros - a pensão apenas se mantém para os ex-presidentes da República.

Mas a lei não é retroactiva e ambos os candidatos podem continuar livremente a receber as suas pensões.

Segundo dados fornecidos pela candidatura de Mário Soares, este abdicou de uma das pensões, por ter sido advogado, limitando-se a receber aquela a que tem direito por ter sido chefe de Estado. E que corresponde a 80 por cento do vencimento do Presidente da República (ou seja, a cerca de 5600 euros).

Quanto a Cavaco Silva, e segundo o que já foi noticiado, recebe três pensões, num total de 9356 euros mensais. Uma por ter sido funcionário do Banco de Portugal, uma outra paga através da Caixa Geral de Aposentações por ter sido professor catedrático de Economia na Universidade Nova de Lisboa. E uma terceira, ainda, pelo facto de ter chefiado o Governo durante uma década. Esta subvenção, segundo Cavaco, é no valor de 2876 euros líquidos por mês.

(Diário de Notícias de 31-10-2005)

NyOrlandhotep, the Chaotic Chaos disse...

Muito interessante.
Claro que o ponto 4 ainda serve melhor como luva à direita neocon americana.