segunda-feira, outubro 31
Um rascunho escrito tem um poder explosivo
Ocupação selvagem de apartamentos em Granada, a pretexto de uma versão preliminar da Ley del Suelo da ministra de vivienda, Maria Antonia Trujillo.
domingo, outubro 30
4 pecados capitais
Luca Ricolfi, sociólogo, professor de Análise de Dados na Universidade de Turim, homem assumidamente de esquerda, entrevistado ontem no El Mundo sobre o seu recente livro Porque somos antipáticos? identifica quatro pecados capitais na esquerda contemporânea:
1) Abuso de esquemas secundários. Transforma-se uma evidência empírica por uma interpretação que lhe altera o sentido. O objectivo é falsear a realidade quando ela contraria as nossas expectativas. (Ex: para explicar as terríveis condições de trabalho dos operários nos países comunistas, a esquerda marxista começou por dizer: pois, mas lá as relações de produção são diferentes, os operários orgulham-se do seu trabalho, controlam os meios de produção, etc etc. Quem usa esquemas primários vê a realidade como é e diz apenas: as condições em que trabalham os operários nos paises comunistas são nocivas e produzem cancro.) A esquerda, quase por norma, diz que uma coisa não é importante em si mesma, mas no contexto. É o caso da guerra no Iraque. Mandar tropas para o Iraque não era algo que estivesse certo ou errado, mas dependia da bênção da ONU. Quando parecia que Kerry ia ganhar as eleições, chegou a dizer-se que a nossa presença no Iraque teria então outro significado.
2) Medo das palavras. Doença com 25 a 30 anos, importada dos EEUU. Não há cegos, há invisuais. A vigilância da linguagem no plano privado contrasta com uma linguagem crua de políticos e figuras públicas que começaram a dizer o que lhes dá na gana: Pertini, Wojtila, Berlusconi. As instituições podem transgredir, mas o cidadão que transgride é mal visto.
3) Linguagem codificada. "Economia social de mercado" ou "reformas estruturais" não dizem nada às pessoas normais. Estas doenças da linguagem afectam igualmente a direita. A Liga Norte e a Forza Italia estão imunes por serem partidos novos, sem tradição ideológica (comunista, democrata cristã ou fascista).
4) Complexo de superioridade moral, uma doença da alma. Os políticos de esquerda dizem representar a parte mais sã do país, os que pensam mais no bem comum e nos ideais do que nas conveniências próprias. No entanto o sentido cívico (pôr o bem comum em primeiro lugar) pode medir-se e desde 96 que há estudos sobre isso em Itália. A conclusão é que não há diferença de sentido cívico entre votntes de esquerda e de direita; se em alguns estudos há diferenças ligeiras, elas são a favor das pessoas de direita.
Afirma também que os políticos de direita não são tão hipócritas como os de esquerda e que os eleitores se apercebem disso. Que a esquerda com Prodi vai ganhar as eleições sem o merecer, embora o centro-direita o mereça ainda menos. "Ainda não sei se hei-de tapar o nariz [ao votar] ou se não votar. Creio que mal Berlusconi seja afastado muita gente recuperará o cérebro."
1) Abuso de esquemas secundários. Transforma-se uma evidência empírica por uma interpretação que lhe altera o sentido. O objectivo é falsear a realidade quando ela contraria as nossas expectativas. (Ex: para explicar as terríveis condições de trabalho dos operários nos países comunistas, a esquerda marxista começou por dizer: pois, mas lá as relações de produção são diferentes, os operários orgulham-se do seu trabalho, controlam os meios de produção, etc etc. Quem usa esquemas primários vê a realidade como é e diz apenas: as condições em que trabalham os operários nos paises comunistas são nocivas e produzem cancro.) A esquerda, quase por norma, diz que uma coisa não é importante em si mesma, mas no contexto. É o caso da guerra no Iraque. Mandar tropas para o Iraque não era algo que estivesse certo ou errado, mas dependia da bênção da ONU. Quando parecia que Kerry ia ganhar as eleições, chegou a dizer-se que a nossa presença no Iraque teria então outro significado.
2) Medo das palavras. Doença com 25 a 30 anos, importada dos EEUU. Não há cegos, há invisuais. A vigilância da linguagem no plano privado contrasta com uma linguagem crua de políticos e figuras públicas que começaram a dizer o que lhes dá na gana: Pertini, Wojtila, Berlusconi. As instituições podem transgredir, mas o cidadão que transgride é mal visto.
3) Linguagem codificada. "Economia social de mercado" ou "reformas estruturais" não dizem nada às pessoas normais. Estas doenças da linguagem afectam igualmente a direita. A Liga Norte e a Forza Italia estão imunes por serem partidos novos, sem tradição ideológica (comunista, democrata cristã ou fascista).
4) Complexo de superioridade moral, uma doença da alma. Os políticos de esquerda dizem representar a parte mais sã do país, os que pensam mais no bem comum e nos ideais do que nas conveniências próprias. No entanto o sentido cívico (pôr o bem comum em primeiro lugar) pode medir-se e desde 96 que há estudos sobre isso em Itália. A conclusão é que não há diferença de sentido cívico entre votntes de esquerda e de direita; se em alguns estudos há diferenças ligeiras, elas são a favor das pessoas de direita.
Afirma também que os políticos de direita não são tão hipócritas como os de esquerda e que os eleitores se apercebem disso. Que a esquerda com Prodi vai ganhar as eleições sem o merecer, embora o centro-direita o mereça ainda menos. "Ainda não sei se hei-de tapar o nariz [ao votar] ou se não votar. Creio que mal Berlusconi seja afastado muita gente recuperará o cérebro."
sábado, outubro 29
Hola! (crónica frívola para um dia de chuva)
1. As instalaçoes da Fundaçao Caixa Galicia nao estao preparadas para um acontecimento como a exposiçao de obras de Frida Kahlo. Os chapeus de chuva amontoam-se anarquicamente à entrada e podem já lá nao estar à saída (caso do meu). Felizmente a rua tem várias lojas onde se pode comprar outro. Frida Kahlo por 11 euros: nao posso dizer que é kahro. O enigma do sofrimento físico e moral está lá todo à vista, na Caixa Galicia.
2. Considero aquilo que faz determinadas pessoas aderir à cientologia (domínio inqualificável do pseudo-conhecimento) um dos grandes mistérios da natureza. O ex-casal Cruise/ Kidman é exemplo de devotos célebres. Parece que agora é a vez de Victoria e David Beckham.
sexta-feira, outubro 28
Realidades
Cheguei no domingo a uma pequena e agradável cidade espanhola para uma semana de trabalho. Aqui há vários filmes de língua espanhola em exibiçao: os americanos nao sao a maioria. Consultando as sinopses disponíveis, nenhuma me despertou grande interesse e resolvi ir ver o filme que nao tinha o resumo afixado - um filme argentino, produzido com o financiamento da tve: El aura. Nada de especial e um tanto pretensioso. Um sujeito envolve-se numa série de crimes praticamente sem motivaçao, como movido por piloto automático. O cinema, comercial ou nem por isso, está pela hora da morte. Já tudo foi contado e filmado. As boas surpresas sao raras.
Nos dias seguintes confirmei que, como de costume, a realidade se encarrega de nos evitar o tédio, pois está mais interessante que as ficçoes. Há debate político forte na imprensa e na rádio, por aqui. A COPE, uma rádio ligada à Igreja, ataca o PSOE 24 horas sobre 24 e motivos nao lhe faltam: o estatuto da Catalunha e um projecto de lei da ministra da vivienda, que inclui o objectivo de expropriar andares desocupados, têm servido de mote para os media de oposiçao. O PSOE responde com a mesma violência, atacando o PP e a COPE em especial. Na COPE há momentos de tele-evangelismo primário, o que nao quer dizer que as críticas nao tenham razao de ser. Nao temos nada do género em Portugal. (Exemplo: um relato de fútbol é cortado por jingles como "nos quieren quitar la constituicion!") Tambem foi muito criticada a intençao de Zapatero de participar na apresentacao, hoje, de uma fundaçao para a aliança das civilizaçoes, em companhia pouco recomendável: Tarik Ramadan, um islamista proibido de entrar nos EEUU e vigiado pela polícia francesa (mas, curiosamente, escolhido recentemente por Blair para o aconselhamento sobre como tratar com os jovens de origem islâmica na GB). Zapatero cancelou a sua participaçao. A fundaçao é impulsionada por Masud Zandi, milionário hispano-iraniano que enriqueceu vendendo cadeiras de rodas aos estropiados da guerra Irao-Iraque e conseguiu "surfar" incólume na crista de um recente escândalo financeiro (Gescartera).
A ficçao está, por isso, despedida com justa causa. Com esta realidade, quem precisa dela?
Nos dias seguintes confirmei que, como de costume, a realidade se encarrega de nos evitar o tédio, pois está mais interessante que as ficçoes. Há debate político forte na imprensa e na rádio, por aqui. A COPE, uma rádio ligada à Igreja, ataca o PSOE 24 horas sobre 24 e motivos nao lhe faltam: o estatuto da Catalunha e um projecto de lei da ministra da vivienda, que inclui o objectivo de expropriar andares desocupados, têm servido de mote para os media de oposiçao. O PSOE responde com a mesma violência, atacando o PP e a COPE em especial. Na COPE há momentos de tele-evangelismo primário, o que nao quer dizer que as críticas nao tenham razao de ser. Nao temos nada do género em Portugal. (Exemplo: um relato de fútbol é cortado por jingles como "nos quieren quitar la constituicion!") Tambem foi muito criticada a intençao de Zapatero de participar na apresentacao, hoje, de uma fundaçao para a aliança das civilizaçoes, em companhia pouco recomendável: Tarik Ramadan, um islamista proibido de entrar nos EEUU e vigiado pela polícia francesa (mas, curiosamente, escolhido recentemente por Blair para o aconselhamento sobre como tratar com os jovens de origem islâmica na GB). Zapatero cancelou a sua participaçao. A fundaçao é impulsionada por Masud Zandi, milionário hispano-iraniano que enriqueceu vendendo cadeiras de rodas aos estropiados da guerra Irao-Iraque e conseguiu "surfar" incólume na crista de um recente escândalo financeiro (Gescartera).
A ficçao está, por isso, despedida com justa causa. Com esta realidade, quem precisa dela?
quinta-feira, outubro 27
Irao: situacao dos direitos humanos
Relatório de comissao das Nacoes Unidas, Outubro 2005: http://www.fidh.org/IMG/pdf/ir_un2005a.pdf
domingo, outubro 23
As contradiçoes iranianas no presente
No New York Review of Books, Timothy Garton Ash descreve as impressoes de uma recente visita ao Irao. A juventude da populaçao pode ser, segundo o autor, um elemento crucial na mudança do regime.
Também é interessante o artigo de Azar Nafisi (autora de "Ler 'Lolita' em Teerao"), mesmo se algumas das afirmaçoes nao parecem pacíficas.
Também é interessante o artigo de Azar Nafisi (autora de "Ler 'Lolita' em Teerao"), mesmo se algumas das afirmaçoes nao parecem pacíficas.
Começa amanhã
Começa amanhã a formação em matemática para professores do 1º ciclo. Li o programa (suponho que elaborado pela comissão de acompanhamento; está disponível em alguns sites de instituições envolvidas). No que diz respeito aos conteúdos de matemática que explicitamente são enumerados, parece-me razoavelmente equilibrado. Mas não se conseguiu evitar o mau hábito, que denuncia a forte influência entre nós dos especialistas em "ciências da educação", de embrulhar tudo em muita conversa que potencialmente permite derivas fora dos objectivos com que o programa foi inicialmente traçado. De qualquer modo, espero que corra o melhor possível, e que muitos formadores e formandos consigam concentrar-se no essencial.
sábado, outubro 22
quinta-feira, outubro 20
Precioso é o tempo
Cavaco tomou-nos apenas 8 minutos para (não) dizer o mesmo que outros demoraram muito mais a não dizer. Pela sobriedade e economia de tempo, o Falta de Tempo fica desde já reconhecido.
terça-feira, outubro 18
Enigmas e paradoxos II
Nas intervenções, hoje na tv, de dirigentes sindicais de professores (agora em uníssono), pareceu-me ler que até de Manuela já têm saudades.
Essa coisa chata, cheia de regras
Um telejornal de ontem deu-nos uma ideia de como vai o programa de formação contínua para professores de Matemática do 1º ciclo. O espectador desprevenido e afastado do assunto pode ter ficado a pensar que vai muito bem, que agora é que é. Eu fiquei um pouco desconfiado e alarmado, embora não surpreendido.
Uma das senhoras formadoras apareceu a dizer que era preciso mudar a avaliação, porque (cito de ouvido) ao resolver um problema de matemática o resultado não interessa, e pode chegar-se a concluir que o caminho seguido na resolução até é muito válido. Isto contém alguma verdade, mas conhecendo como conheço o mundo dos modernos pedagogos sei que se está principalmente a tentar relativizar o que é certo e o que é errado.
Outra senhora, formanda ou formadora, não me recordo, disse que (novamente cito de cor) o que era necessário era acabar com aquela matemática chata, toda à base de regras.
Fiquei a pensar que o programa está um pouco perdido e desorientado, pois a ideia que eu tenho é de que, dada a ausência de formação matemática de muitos professores do 1º ciclo, o que é necessário em primeiro lugar é ensinar-lhes matemática (a tal a que eles chamam chata, inclusivamente) a fim de que eles a possam contar às crianças numa linguagem adequada. Não creio que se trate de um problema de subtilezas pedagógicas: alguém pode contar a uma criança as mil e uma noites se não tiver lido bem o livro?
Fui à internet espiar sites das faculdades e institutos onde o programa funciona. Fiquei a saber que o programa tem 7 princípios-7, 5 objectivos-5 e uma comissão de acompanhamento com 6 competências-6. Nos enunciados repetem-se, entre princípios e competências, a valorização do trabalho colaborativo entre diferentes actores, a valorização de dinâmicas curriculares centradas na matemática, o desenvolver uma atitude positiva dos professores relativamente à matemática, promovendo a autoconfiança, etc... podem ser intenções óptimas, mas fico com a impressão de que com tanta filosofia prévia nunca mais se chega à matemática propriamente dita. E o pior é que por parte de alguns intervenientes a intenção pode ser mesmo essa.
Tudo bem, sejamos optimistas. Deixemos a matemática chata para os finlandeses, os chineses, os selvagens de Singapura, ou esses infelizes nascidos no leste europeu que quando chegam aqui só podem fazer trabalho de segunda. O resultado... verá-se.
Uma das senhoras formadoras apareceu a dizer que era preciso mudar a avaliação, porque (cito de ouvido) ao resolver um problema de matemática o resultado não interessa, e pode chegar-se a concluir que o caminho seguido na resolução até é muito válido. Isto contém alguma verdade, mas conhecendo como conheço o mundo dos modernos pedagogos sei que se está principalmente a tentar relativizar o que é certo e o que é errado.
Outra senhora, formanda ou formadora, não me recordo, disse que (novamente cito de cor) o que era necessário era acabar com aquela matemática chata, toda à base de regras.
Fiquei a pensar que o programa está um pouco perdido e desorientado, pois a ideia que eu tenho é de que, dada a ausência de formação matemática de muitos professores do 1º ciclo, o que é necessário em primeiro lugar é ensinar-lhes matemática (a tal a que eles chamam chata, inclusivamente) a fim de que eles a possam contar às crianças numa linguagem adequada. Não creio que se trate de um problema de subtilezas pedagógicas: alguém pode contar a uma criança as mil e uma noites se não tiver lido bem o livro?
Fui à internet espiar sites das faculdades e institutos onde o programa funciona. Fiquei a saber que o programa tem 7 princípios-7, 5 objectivos-5 e uma comissão de acompanhamento com 6 competências-6. Nos enunciados repetem-se, entre princípios e competências, a valorização do trabalho colaborativo entre diferentes actores, a valorização de dinâmicas curriculares centradas na matemática, o desenvolver uma atitude positiva dos professores relativamente à matemática, promovendo a autoconfiança, etc... podem ser intenções óptimas, mas fico com a impressão de que com tanta filosofia prévia nunca mais se chega à matemática propriamente dita. E o pior é que por parte de alguns intervenientes a intenção pode ser mesmo essa.
Tudo bem, sejamos optimistas. Deixemos a matemática chata para os finlandeses, os chineses, os selvagens de Singapura, ou esses infelizes nascidos no leste europeu que quando chegam aqui só podem fazer trabalho de segunda. O resultado... verá-se.
Perguntem ao presidente
A BBC abriu um questionário online dirigido a Hugo Chávez, a que ele supostamente deverá responder. As perguntas são publicadas na página da BBC mas, a julgar pelo que se lê aqui, a BBC só publica, pelo menos por enquanto, as perguntas "fáceis", talvez para não maçar muito o presidente. Apetece colocar a pergunta: acha que a BBC é mais isenta do que os órgãos de informação do seu país? Chavez devia achar estimulante, tal como quando teve oportunidade de responder pela tv, há dias, a Sampaio.
domingo, outubro 16
Solidões (ou Pequenos anúncios III)
No teatro sempre se aprende alguma coisa. Há tempo que andava intrigado com a proliferação de anúncios "relax" onde se oferecem meninas ou senhoras licenciadas nisto ou naquilo. Ontem, uma fala de um dos personagens de Sangue no pescoço do gato abriu-me os olhos: muitas vezes a procura de uma prostituta tem como objectivo satisfazer a necessidade elementar de falar, e parece que nem todas se dispõem ou têm habilitações para isso. Aí está portanto um nicho de mercado que começa a ser preenchido.
sábado, outubro 15
Na livraria
Fui comprar um livro para oferecer a um familiar.
Na caixa, a menina começa por perguntar-me: É para oferecer? É sim, confirmo.
Com a senhora que me precedia e o senhor que me seguiu a cena foi igual: mesma pergunta, mesma resposta. Numa inferência pouco rigorosa mas alarmante, concluo que a maior parte dos livros que são comprados são para oferta. Pobres livros, quantos deles serão comprados por real vontade de os ler? Quantos não chegam a ser folheados?
Na caixa, a menina começa por perguntar-me: É para oferecer? É sim, confirmo.
Com a senhora que me precedia e o senhor que me seguiu a cena foi igual: mesma pergunta, mesma resposta. Numa inferência pouco rigorosa mas alarmante, concluo que a maior parte dos livros que são comprados são para oferta. Pobres livros, quantos deles serão comprados por real vontade de os ler? Quantos não chegam a ser folheados?
Lucas Cranach o Jovem
Em nome de Alá
Mulher adúltera condenada à morte por apedrejamento no Irão. Há a possibilidade de ser simplesmente enforcada ou de a pena ser comutada para chicotadas (costumam ser umas centenas).
sexta-feira, outubro 14
China e América Latina
As motivações da China na América Latina analisadas por Alvaro Vargas Llosa aqui. A Cuba e à Venezuela, diz o autor, os chineses preferem o Chile.
quinta-feira, outubro 13
Prémio Nobel da Literatura
Da literatura ou do politicamente correcto?
As peças que escreveu são de boa qualidade. Como os romances de Saramago. Mas ele há coincidências.
As peças que escreveu são de boa qualidade. Como os romances de Saramago. Mas ele há coincidências.
Mulheres em casa às 6 da tarde
É directiva recente do ministro da cultura do Irão. Depois das 6, a presença das mulheres nos locais de trabalho não é tolerada pelos actuais governantes.
terça-feira, outubro 11
domingo, outubro 9
Resumo eleitoral
1. Conquistas e reconquistas: foi ocasião para recordar uma discurso aprendido na 4ª classe. X conquistou esta ou reconquistou aquela ou perdeu aqueloutra. Lembrei-me dos Afonsos e Sanchos, esses grandes conquistadores.
2. Quem verdadeiramente perdeu? Os eleitores castigaram, obviamente, a justiça portuguesa, elegendo Fátima e os outros.
3. Algumas intervenções da noite televisiva foram muito divertidas e dignas de passar na SIC-radical. Estou a lembrar-me de Avelino. Num outro estilo, mas muito fofinha, estava a esfuziante Odete.
4. A grande notícia é que chove em Lisboa há várias horas. Já posso deixar a torneira a correr ao lavar os dentes.
Adenda: Tenho que reconhecer que nem tudo foi desperdício nas despesas de campanha. Em viagem pelos arredores de Lisboa no fim de semana, pude ficar a saber facilmente onde me encontrava, apesar da defeituosa sinalização de estradas e localidades: bastava ir atento às caras que apareciam nos cartazes afixados pelas diversas forças e fraquezas políticas.
2. Quem verdadeiramente perdeu? Os eleitores castigaram, obviamente, a justiça portuguesa, elegendo Fátima e os outros.
3. Algumas intervenções da noite televisiva foram muito divertidas e dignas de passar na SIC-radical. Estou a lembrar-me de Avelino. Num outro estilo, mas muito fofinha, estava a esfuziante Odete.
4. A grande notícia é que chove em Lisboa há várias horas. Já posso deixar a torneira a correr ao lavar os dentes.
Adenda: Tenho que reconhecer que nem tudo foi desperdício nas despesas de campanha. Em viagem pelos arredores de Lisboa no fim de semana, pude ficar a saber facilmente onde me encontrava, apesar da defeituosa sinalização de estradas e localidades: bastava ir atento às caras que apareciam nos cartazes afixados pelas diversas forças e fraquezas políticas.
Teodiceia
Podemos descansar. Afinal parece que a citação sobre a comunicação de Deus com Bush não estava correcta. Se assim não fosse, dado o pronto desmentido de um porta voz do presidente e o facto meridianamente claro para a opinião culta ocidental de que Bush é mentiroso, poderíamos estar perante um verdadeira revolução no conhecimento: uma prova indirecta, mas muito sólida, da existência de Deus.
terça-feira, outubro 4
Enigmas e paradoxos
Daqui a poucos dias vamos votar. Com a classe profissional que melhor conheço - os professores de vários graus de ensino - como matéria de devaneio escrevinhante em roda livre, ocorre-me uma série de afirmações e perguntas. É claro que não tenho fundamentação para as primeiras e há uma grande arbitrariedade na escolha das segundas. Também por isso, onde se fala de professores poder-se-ia falar de outra classe. Vamos lá então:
Nas eleições de Fevereiro, pràí uns 80% de professores votaram em Sócrates.
Passados poucos meses, pràí uns 80% de professores, ou mais, começaram a ficar furiosos com Sócrates e a política do governo. Essa fúria não tem vindo a atenuar-se, pelo contrário. Trata-se de um caso de ingenuidade ou de falta de reflexão?
Por vezes diz-se, e acreditamos, que o povo sabe bem em quem votar, significando que tem perfeita consciência de quem é que defende melhor os seus interesses. Ora, um governo debilitado e escarnecido como era o de Santana Lopes não teria condições para tomar (nem as tímidas) iniciativas de Sócrates e que tanto têm aborrecido tantos. Os professores detestavam Santana mas não previram que ainda viriam a irritar-se mais com Sócrates.
Visto à distância, tudo isto poderia significar que o povéu vota, involuntariamente, na melhor solução para os problemas, mesmo que contra os seus próprios interesses a curto prazo. As medidas duras e necessárias passam melhor quando aplicadas por quem nos é pelo menos vagamente mais simpático. Um bébé que vai levar uma injecção chora menos se estiver ao colo da ama. "A História ensinou-nos que muitas vezes a mentira a serve melhor que a verdade" (Arthur Koestler). Estaríamos perante um mecanismo de salvação inconsciente? Ora, nem por sombras. Eu aposto no erro de avaliação.
Preocupação daqui decorrente: que grau de rigor se poderá atribuir à representação que fazemos das perspectivas de solução para o país, ou dos complexos problemas e ameaças à escala mundial mas que também nos tocam? Se nos equivocamos com a facilidade que agora se viu, que valor atribuir ao modo como encaramos, por exemplo, o problema do terrorismo, o futuro do estado social ou da União Europeia? Num referendo à questão de saber se Bush é burro, pràí 80% responderão sim. Terão razão? E, pior ainda: e se têm razão por motivos muito diferentes dos que os movem a responder que sim? Uma percentagem notável, embora menor, também há-de continuar a encontrar em Cavaco uma faceta desprezível que identificam com "cultura estreita". O homem nem sabia quantos cantos têm os Lusíadas. Quantos destes críticos se terão enfurecido com a substituição da literatura pelos regulamentos do big brother nos programas de Português? Temos opinião sobre a intervenção da NATO na questão balcânica, onde a fractura entre bons e maus não tem os contornos simplistas que parece ter em conflitos mais recentes? Sobre o modo como os aparentemente distantes China ou Irão poderão afectar as nossas próprias escolhas?
??? Que dor de cabeça.
Nas eleições de Fevereiro, pràí uns 80% de professores votaram em Sócrates.
Passados poucos meses, pràí uns 80% de professores, ou mais, começaram a ficar furiosos com Sócrates e a política do governo. Essa fúria não tem vindo a atenuar-se, pelo contrário. Trata-se de um caso de ingenuidade ou de falta de reflexão?
Por vezes diz-se, e acreditamos, que o povo sabe bem em quem votar, significando que tem perfeita consciência de quem é que defende melhor os seus interesses. Ora, um governo debilitado e escarnecido como era o de Santana Lopes não teria condições para tomar (nem as tímidas) iniciativas de Sócrates e que tanto têm aborrecido tantos. Os professores detestavam Santana mas não previram que ainda viriam a irritar-se mais com Sócrates.
Visto à distância, tudo isto poderia significar que o povéu vota, involuntariamente, na melhor solução para os problemas, mesmo que contra os seus próprios interesses a curto prazo. As medidas duras e necessárias passam melhor quando aplicadas por quem nos é pelo menos vagamente mais simpático. Um bébé que vai levar uma injecção chora menos se estiver ao colo da ama. "A História ensinou-nos que muitas vezes a mentira a serve melhor que a verdade" (Arthur Koestler). Estaríamos perante um mecanismo de salvação inconsciente? Ora, nem por sombras. Eu aposto no erro de avaliação.
Preocupação daqui decorrente: que grau de rigor se poderá atribuir à representação que fazemos das perspectivas de solução para o país, ou dos complexos problemas e ameaças à escala mundial mas que também nos tocam? Se nos equivocamos com a facilidade que agora se viu, que valor atribuir ao modo como encaramos, por exemplo, o problema do terrorismo, o futuro do estado social ou da União Europeia? Num referendo à questão de saber se Bush é burro, pràí 80% responderão sim. Terão razão? E, pior ainda: e se têm razão por motivos muito diferentes dos que os movem a responder que sim? Uma percentagem notável, embora menor, também há-de continuar a encontrar em Cavaco uma faceta desprezível que identificam com "cultura estreita". O homem nem sabia quantos cantos têm os Lusíadas. Quantos destes críticos se terão enfurecido com a substituição da literatura pelos regulamentos do big brother nos programas de Português? Temos opinião sobre a intervenção da NATO na questão balcânica, onde a fractura entre bons e maus não tem os contornos simplistas que parece ter em conflitos mais recentes? Sobre o modo como os aparentemente distantes China ou Irão poderão afectar as nossas próprias escolhas?
??? Que dor de cabeça.
Livrarias
Quando se sai de Portugal, mesmo as livrarias das pequenas cidades nos fazem inveja. Variedade, bom gosto editorial e preço fazem a grande diferença. Na Feltrinelli de Modena vi hoje tr^es dos meus favoritos: Tutti i nomi, 9,00eur; Il Paradiso è Altrove, 11,50eur; Scende la notte tropicale, 10eur. Ediçoes bonitas e bem impressas que apetecia trazer para casa outra vez.
Subscrever:
Mensagens (Atom)