sábado, dezembro 24

O planeta Kim: uma tia no trono

Chora a Coreia do Norte a defunção do amado líder. Num frémito contido como o da locutora que o mundo viu a dar a notícia, em execução competente e rigorosa da discreta exibição da dor; ou em prantos desatados com que os cidadãos anónimos competirão entre si na demonstração de fidelidade à dinastia.

Entretanto, quem reinará? De acordo com os observadores desse estranho mundo, talvez o mais próximo do que o nosso imaginário poderia identificar como pertencendo a outro planeta, o menino Kim Jong-Un, designado pelo pai como sucessor, não tem idade nem experiência para ser aceite de imediato como herdeiro do trono. Pensamos que ronda os 27-28 anos, mas lá dentro a idade do miúdo nunca foi divulgada, por causa das coisas. Se fosse bonito ainda talvez passasse, mas, com aquela cara, ninguém no aparelho correrá a encher muros e paredes de fotos tristes. No entanto, o controlo do poder foi salvaguardado em vida por Kim Jong-Il, que o ano passado promoveu a sua irmã Kim Kyong-Hui a generala de quatro estrelas.

Gosto particularmente dela nesta foto, onde aparecia sentada ao lado do pai num banco de jardim. Agora já tem 65 anos. Mulher voluntariosa, apaixonou-se ou algo assim por Jang Song-Taek nos seus tempos de estudante. Jang era um sucesso entre o pessoal da faculdade porque cantava e dançava bem, mas nunca agradou ao papá Kim Il-Sung. Nada fez recuar Kim Kyong-Hui, que resistiu às pressões do pai e acabou por se casar com Jang em 1972. Apesar de uma desaparição de cena por volta de 2002, parece que por causa de problemas com o álcool,  Hui não perdeu a confiança do irmão, que nos últimos anos se deixou fotografar na sua companhia e do cunhado. Hoje, Jang é o número 2 do comité de defesa nacional.

O casal teve uma filha e depois um filho. A filha exilou-se em Paris, mas a mãe nunca a deixou em paz, querendo-a sempre de volta para exercer funções na corte. A rapariga acabou por se suicidar.

Em 3 de Junho de 2010, a informação norte-coreana revelou que o presidente do partido, Yi Che-kang, falecera num acidente de trânsito. Acidentes de trânsito, num país sem carros, constituem uma maneira eufemística de mencionar execuções capitais. Sabendo-se que Yi era a segunda figura do estado e portanto rival de Jang, não será muito especulativo atribuir à pérfida Hui a montagem do acidente.

De acordo com a Wikipedia, Hui lançou-se agora nos negócios da restauração, possuindo uma hamburgeria em Pyongyang. Sendo de presumir que os palácios da capital regurgitam de conspiradores, suspeito que ainda vai haver notícias de que alguém teve uma indisposição fatal por causa da carne picada. A tia Hui é conhecida por não descansar em serviço e com certeza percebe de molhos.

Sem comentários: