quinta-feira, dezembro 27

Doutrina e problemas reais

A falta de bom gosto e o discurso burocratizado, irrisório em conteúdo, não se confinam à política: a Igreja também sofre destes males. Um discurso frouxo e sem espessura, como o de José Policarpo no dia de Natal, está mesmo a pedir uma crítica como a de Rui Tavares no PÚBLICO de hoje. Rui Tavares afirma que a estratégia de privilegiar a doutrina abstracta em detrimento da atenção ao mundo real é errada do próprio ponto de vista da Igreja.

Talvez sim, talvez não. Mas se olharmos para essa outra grande religião (digamos assim, para nos entendermos) em expansão, o Islamismo, o que vemos é respeito cego pela doutrina e pouca preocupação com as causas do sofrimento da humanidade e ainda menos dos indivíduos.

A asserção de Rui Tavares não tem aplicabilidade universal. E quando contrapõe ao elogio da "vida eterna" o facto de ela estimular bombistas suicidas, está a manipular sem pudor: a vida eterna de que fala Policarpo não é a mesma de que fala o Corão. Deus não é Alá, e entre os que nem sempre se preocupam em desfazer possíveis confusões estão, isso sim, responsáveis da Igreja.

De qualquer modo, as palavras do cardeal têm certamente importância e influência reduzidas. No âmbito da contradição entre doutrina e problemas do mundo real, as novas igrejas em ascensão são muito mais eficazes e perigosas. Estou a pensar nos crentes, primários ou universitários, no aquecimento global e nos devotos da abrangente culpa ocidental.

1 comentário:

Anónimo disse...

Na polícia:

O seu vizinho costuma escarrar-lhe na escada quando tem o azar de o encontrar?

E então? Acha que eu não tenho mais nada que fazer? Olhe: a semana passada violaram uma moça em Frecho de Espada à Cinta. Chicotearam outra no Bangladesh. Acha que a polícia não tem mais nada que fazer?


No hospital:

Então o senhor veio cá porque tem uma dor de dentes? Acha que vai morrer disso?
Então e ali a Dona Josefa, que tem cancro? Está a gozar com ela? Tenha mas é vergonha na cara!