Tem que ser: um post sobre o Código da Vinci. Em primeiro lugar, não li o livro, nem tenciono lê-lo nem ver o filme (se tiver que dar algum mau passo, antes a missão impossível nº3). Desde que comecei a observar o sucesso da novela vivo intrigado com o que nela atrai massas de leitores pouco habituais. O mistério descrito em estilo de "policial"? A avidez por teorias improváveis (no sentido literal de que não podem ser provadas), como as que alimentam as mais disparatadas fábulas de conspiração? Tudo isto e com certeza mais. O facto de as teorias, neste caso, terem o Cristo histórico e a Igreja Católica como objecto, deve ser um factor decisivo na explicação do interesse suscitado. Isso não deixa de me causar perplexidade, dada a laicização das nossas sociedades: tendo o interesse pela religião descido a níveis tão baixos, não se pode explicar o fenómeno por coscuvilhice pura e simples.
Por outro lado, parece que o filme não está a ter um êxito comparável. Eu acho que em matéria de código Da Vinci de mais uma especulação não vem mal nenhum ao mundo, e portanto aqui vai. Tendo de condensar em duas horas a série de devaneios contidos no livro, ainda por cima com as técnicas narrativas mais-do-que-já-vistas do cinema americano, com música aterradora muito alta e ruídos fragorosos em dolby digital, o filme provavelmente exibe, de modo excessivo, a banalidade da estorieta subjacente. Muitos sairão de lá desiludidos ao constatarem que o que tomaram por apoio consistente à sua visão de um Cristo dessacralizado e de uma Igreja tenebrosa, mais não parece, afinal, do que uma crendice que se cobre a si própria de ridículo.
O mistério tragável estava no livro. Talvez muita gente tenha descoberto que, afinal, do que gosta é de ler.
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2 comentários:
O filme está a fazer bom dinheiro, se é isso que te preocupa. Os criticos dizem mal, mas dizem sempre,não é?
Eu também acho que não presta, mas vou ver. O livro é delicioso.
Este teu post é publicidade gratuita ao filme. Está a encher os bolsos do Dan Brown. Devias ser mais prudente!
Caro vivo: claro que assumo o preconceito de que o livro e o filme não valem a pena o tempo que se perde com eles, mas não acho que seja intolerante: o sucesso de um e de outro não me incomoda nada. Intrigar não é o mesmo que incomodar.
Caro on: também não me afecta o êxito comercial de ninguém. Quanto a publicidade, estás a ver ao contrário: o código é que tem capacidade de publicitar o meu blog... :)
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