sexta-feira, maio 5

Auto-desprezo

Fala-se de auto-estima por tudo e por nada, tanto a propósito de indivíduos como de nações inteiras. Ora, no estado actual da visão que nós, ocidentais, e em particular europeus, temos do que somos e do caminho que ao longo de séculos nos trouxe ao presente, deveria falar-se muito mais de auto-desprezo. Como ainda nenhuma mitologia académica se ocupou de vulgarizar a palavra, o que ela quer dizer passa mais despercebido. No entanto, auto-desprezo, auto-repugnância, ou o que quisermos, é o que melhor caracteriza a as disposições e atitudes dos ocidentais, em virtude do sucesso de algumas das mais perversas ideologias e utopias que fabricámos.

O auto-desprezo exibe-se frequentemente, por acusações e incriminações, de modo directo e frontal. Noutras ocasiões, utiliza, de modo pretensamente mais subtil, o artifício do relativismo e do politicamente correcto. Assim, quando muitos afirmam que se tem de ser tolerante com as religiões, estão a pensar em todas menos nas de raiz judaica ou cristã; inversamente, se apontam os riscos do fundamentalismo religioso, é aos cristãos fundamentalistas que de facto se referem.

E se a qualidade dos líderes das democracias não é entusiasmante, a violência da crítica interna, impossível nos regimes ditatoriais, corrói as nossas defesas. O auto-desprezo avaria os instintos e confunde os sinais de perigo. Quando se fazem comparações que, na melhor das hipóteses, equiparam governantes ocidentais a tiranos populistas e fanáticos, fica claro que se tomou partido por estes.

Sem comentários: