domingo, maio 7

O ruído de Laramie



Em Outubro de 1998, na cidade de Laramie, Matthew Shepard, rapaz homossexual de 22 anos, foi assassinado com grande brutalidade por Aaron McKinney e Russell A. Henderson. Os assassinos acabaram por ser condenados a prisão perpétua. Ainda Matthew agonizava no hospital e já o caso atraía à cidade um exército de gente dos media, activistas políticos e artistas "comprometidos" com as grandes causas. A grande causa, aqui, era a janela de oportunidade que se abria à propaganda a favor de legislação contra os "crimes de ódio". O texto que serve de base à peça em cena no Maria Matos estrutura-se a partir de uma série de entrevistas com pessoas da cidade e das suas visões da tragédia.

O problema de "Laramie", como peça de teatro, é que de teatro tem muito pouco. Os autores do texto (M. Kaufman e o Tectonic Theater Project) não trabalharam verdadeiramente o material recolhido, a não ser para sobrepôr à complexa realidade a trivialidade sensaborona de duas ou três ideias feitas que eles próprios já tinham na cabeça. Assim, em "Laramie" não há drama, há comício. Contrariamente ao que apregoam frases publicitárias, "Laramie" nunca comove. Compreende-se porquê: estamos perante uma cópia preguiçosa da realidade, ainda por cima desfigurada e simplificada por um figurino ideológico vulgar.

A encenação de Diogo Infante como que vem apenas mostrar que é possível construir um relativo êxito com grande economia de talento. O espaço cénico, de uma fealdade violenta, acolhe cenas e poses em que tudo (pessoas, objectos) aparenta estar pouco à vontade e fora do lugar.

Salvam-se dois momentos em que há teatro: os monólogos do homem do táxi (Albano Jerónimo) e da esposa do polícia (Isabel Abreu), excelentemente interpretados. Quase tudo o resto é ruído.


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