Em face dos testemunhos de intenso júbilo que o coro dos vizinhos e as reportagens de tv me trazem, como aconteceu há dois dias e nas horas seguintes, não posso deixar de me sentir apreensivo e invejoso. Digo isto a sério, não quero que os meus 6 leitores pensem que é snobice. Vários jovens adultos declaravam na tv que estavam a sentir a maior alegria das suas vidas. Isto dá que pensar: tanta felicidade a tão baixo custo! Creio que não é preciso fazer mais do que sofrer duas horas em frente da tv e ter fé no clube ou algo assim. E tão intensa felicidade pode ser atingível mesmo que o resultado não seja uma vitória no jogo em causa - basta que contribua, pela aritmética das regras, para passar a uma etapa seguinte em boa posição.
A minha apreensão e inveja decorrem de uma manifesta insensibilidade, contra a qual nada posso fazer, a toda esta alegria. Claro que não estou só: tenho a certeza de que somos uma imensa minoria de prejudicados. É-nos negada a partilha da felicidade suprema (a julgar pelas descrições que ouvi).
O fenómeno do futebol tem interessado psicólogos, sociólogos e antropólogos, mas as suas metáforas pleonásticas não me tranquilizam. O que é preciso estudar é a anomalia de comportamento que consiste nesta frieza perante os sucessos(?) desportivos, que veda uma imensa fonte de prazer a milhões (atrevo-me a arriscar) de seres humanos. Espero que a genética entre em cena para detectar a verdadeira causa desta disfunção e, claro, para propor uma cura de que eu possa ainda beneficiar.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Eu até sou um daqueles que às vezes grita quando vê um golo na televisão. Não vou ao estádio porque não me devolvem o dinheiro quando a equipa que eu apoio nesse dia joga mal.
Se estás realmente preocupado com a tua insensibilidade assiste um dia ao vivo a uma dessas demonstrações. Quando os holofotes da televisão se desligam...
Enviar um comentário