sábado, maio 7

Tanto por tão pouco

Em face dos testemunhos de intenso júbilo que o coro dos vizinhos e as reportagens de tv me trazem, como aconteceu há dois dias e nas horas seguintes, não posso deixar de me sentir apreensivo e invejoso. Digo isto a sério, não quero que os meus 6 leitores pensem que é snobice. Vários jovens adultos declaravam na tv que estavam a sentir a maior alegria das suas vidas. Isto dá que pensar: tanta felicidade a tão baixo custo! Creio que não é preciso fazer mais do que sofrer duas horas em frente da tv e ter fé no clube ou algo assim. E tão intensa felicidade pode ser atingível mesmo que o resultado não seja uma vitória no jogo em causa - basta que contribua, pela aritmética das regras, para passar a uma etapa seguinte em boa posição.
A minha apreensão e inveja decorrem de uma manifesta insensibilidade, contra a qual nada posso fazer, a toda esta alegria. Claro que não estou só: tenho a certeza de que somos uma imensa minoria de prejudicados. É-nos negada a partilha da felicidade suprema (a julgar pelas descrições que ouvi).
O fenómeno do futebol tem interessado psicólogos, sociólogos e antropólogos, mas as suas metáforas pleonásticas não me tranquilizam. O que é preciso estudar é a anomalia de comportamento que consiste nesta frieza perante os sucessos(?) desportivos, que veda uma imensa fonte de prazer a milhões (atrevo-me a arriscar) de seres humanos. Espero que a genética entre em cena para detectar a verdadeira causa desta disfunção e, claro, para propor uma cura de que eu possa ainda beneficiar.

2 comentários:

Orlando disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Orlando disse...

Eu até sou um daqueles que às vezes grita quando vê um golo na televisão. Não vou ao estádio porque não me devolvem o dinheiro quando a equipa que eu apoio nesse dia joga mal.
Se estás realmente preocupado com a tua insensibilidade assiste um dia ao vivo a uma dessas demonstrações. Quando os holofotes da televisão se desligam...