Num anúncio que começou a passar há uns dias nos canais de tv, e que tem como alvo a prevenção e tratamento da obesidade infantil, é mostrado um miúdo chamado Luís, mas que apenas é reconhecido com a designação de "o gordo". O filmezinho tem certamente belíssimas intenções mas parece-me profundamente cruel: as pessoas que pretende atingir são crianças, culpabilizando-as por uma situação que não resultou, certamente, de uma escolha consciente e que pode até, em alguns casos, ter causas independentes da vontade própria. É quase como vir a público amesquinhar os coxos ou os estrábicos.
Surpreende-me que ainda não se tenham feito ouvir as vozes dos que clamam contra os possíveis efeitos negativos de determinadas práticas que me parecem muito menos aviltantes: por exemplo, avaliar os conhecimentos, na escola, classificar os alunos de uma forma honesta, ou proceder a sanções de tipo disciplinar, é hoje visto como como podendo afectar gravemente a "auto-estima" (dizia-se "amor próprio" antes da invasão de papers especializados que criaram o novo jargão técnico de pendor anglicista). Será distracção ou vem aí uma nova época de pesadelo? Os gordos já são suficientemente humilhados pela galhofa dos colegas de turma e pelos vizinhos de rua. Não era preciso que a tv viesse sublinhar o desprezo a que já são votados.
Compreende-se que os "responsáveis" queiram salvar as criancinhas: a obesidade pode trazer consigo sérios dissabores e até riscos de saúde ao longo da vida. Chegar ao fim de um ciclo escolar sem aproveitamento também pode acarretar grandes aborrecimentos no futuro. Por este andar, corre-se o risco de, através da televisão, vir insultar os meninos que reprovam. Bolas! Espero que acabem por reconhecer que é preferível afixar uma má nota na privacidade da vitrina da escola, do que vir chamar burras às crianças no intervalo do telejornal.
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