Tem havido abundante e justificada indignação com a frase de um obscuro pároco a propósito da morte da menina maltratada por pai e avó. A declaração vem apenas confirmar que estupidez, insensibilidade e falta de bom senso foram por Deus distribuídas em doses ilimitadas. Os media martelaram-nos com o acontecimento todo um dia e os comentários estender-se-ão por mais algum tempo (este é mais um).
Ainda bem que surgiram críticas de todos os lados, até mesmo de vozes bem colocadas na Igreja portuguesa. Esta rejeição unânime mostra, afinal, que o episódio não tem a importância que lhe parece ter sido atribuída, circunstância provavelmente comum a muitos outros nos tempos que correm: uma rádio põe a boca no trombone com o volume no máximo e lá temos acontecimento.
Mais interessante do que esta "notícia" triste e doentia será a consideração das razões da sua insignificância. A mais importante, no meu entender, é que, se há forças que ameaçam a nossa liberdade e o modo de vida tal como os entendemos adquiridos, a Igreja Católica não é uma delas. Se podemos falar de um fundamentalismo cristão na sociedade "ocidental", ele não passa de uma excrecência quase marginal e sem credibilidade. A própria Igreja Católica tem hoje sobre os "crentes" uma autoridade pouco mais que simbólica. Abolido o Inferno e tendo-se verificado que o paraíso é na Terra (descoberta a pílula e os antibióticos, e viciados no consumo dos brinquedos electrónicos, é-nos difícil conceber um grau superior de bem estar e felicidade) a doutrina é, mesmo para os que se dizem católicos, apenas uma referência sem pressões incluídas. Há, é claro, um Vaticano, pode haver um papa com um desempenho de relevo na cena política internacional, mas não esqueçamos que, ao mesmo tempo, as mais altas instâncias políticas da Europa não reconhecem o papel civilizador do cristianismo na evolução que conduziu ao presente que somos.
Por estas mesmas razões não compreendo o clamor de receios registado com a recente eleição do papa. Estamos distraídos com fantasmas do passado e desvalorizamos ameaças bem mais reais.
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2 comentários:
Convinha exemplificar.
Um dos problemas de eleger um papa com este perfil é precisamente contribuir para a distracção...
No Prozacland não andamos assim tão distraídos. Ver
http://daprosa.blogspot.com/2005/05/o-meu-amigo-mehmet.html
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