segunda-feira, agosto 29

Saif

Com o seu discurso inflamado e caótico de 20 de Fevereiro na TV líbia, Saif, o segundo filho de Gaddafi, desiludiu muitos dos que lhe tinham sido próximos. Personagem de relevo na família que se julgava dona da Líbia e que como tal agia, o jovem trintão Saif era apontado como sucessor do pai no comando do poder. Nele se depositavam piedosas esperanças de liberalização do regime e instauração de uma democracia. Mas em 20 de Fevereiro Saif declarou-se ao lado de Muammar e prometeu apenas luta e sangue.

Al-Hawni, um intelectual seu amigo e confidente durante onze anos, chegou a escrever o discurso que Saif à última hora rejeitou. Os laços familiares e de clã foram mais fortes do que o apego aos valores da democracia, aprendidos na Europa mas certamente colados com cuspo. Aprendizagem mesmo assim suficiente para concluir um PhD na LSE em 2008, com a tese "The role of the civil society in the democratization of global governance institutions".

Al-Hawni descreve Saif como "generoso" mas "privado de bom senso político". Ilustra a apreciação com as declarações de Saif quando viajou com Al-Megrahi para a Líbia em 2009, anunciando aos quatro ventos que tudo estivera combinado com altos responsáveis britânicos e que a libertação do terrorista tinha por trás um negócio de petróleo. Enfim, uma boa pessoa que ninguém gostaria de ter como confidente.

Quem não fica bem na foto é a LSE. O caso levou à demissão do Professor David Held, que só por meias palavras dá a entender que orientou a dissertação de Saif. Uma série de incomodidades, sabendo-se que Gaddafi doou 2,5 milhões de dólares à LSE em 2009 através da Qaddafi International Charity and Development Foundation, de que Saif é presidente.

Foi através dos imensos fundos que controla que Saif contratou mercenários no norte de África para combaterem ao lado das forças leais ao regime em extinção. A investigação do caso por um procurador do TPI está bastante avançada. Dizia Saif, nos tempos de boa vida na Europa, que ambicionava para o seu país todas as liberdades possíveis, como as que por exemplo se gozam na Holanda. Quem sabe se o destino lhe reserva uma viagem a Haia, mas não em liberdade.

A história toda vem contada por Philippe Sands na Vanity Fair.

2 comentários:

Jorge Salema disse...

Excelente artigo. Bravo. Só esperamos que a LSE seja investigada de forma a se saber se o PhD foi "comprado". As ligações sugerem de facto promiscuidade para dizer o mínimo.

O que disse do filho de Kadafi poderia dizer do próprio ditador.Era mil vezes preferível vê-lo a responder em Haia que na líbia onde não tem hipótese de julgamento justo. Mas ninguém lá o quer. Os Governos europeus que apostaram na "normalização",- a meu ver bem - os que tinham interesses inconfessáveis também não querem. Mesmo o Ângelo Correia parece inquieto na cadeira de comentador da SIC N. Reparou?

Anónimo disse...

Al-Megrahi é um incompetente! Não sabe tomar conta de si próprio!