domingo, agosto 7

Do onanismo terminológico

O PÚBLICO refere-se hoje ao caos do ensino do Português. A tenebrosa TLEBS não acabou: embora reduzida, regressa sob as vestes do novo dicionário terminológico. Mais do que as incompetências que muito têm vindo a prejudicar o ensino da Matemática através do desenho de programas e metodologias, as que vêm afectando o ensino da língua exibem com grande descaramento a loucura de que o planeamento do ensino básico foi, e continua, possesso. A estrutura da língua e a classificação em gramática são certamente matérias estimulantes e dignas, mas... será normal transformar um assunto em discussão entre especialistas, com aspectos inacabados e não consensuais, em matéria para o ensino básico??? Com a agravante de a coisa ser extensa, complicada, e em parte inútil. No longo rosário dos nomes propostos há agora modificadores, determinantes, sujeitos expletivos, complementos oblíquos. Mas a plasticidade da língua resistirá sempre à utopia da classificação universal. A solução proposta para o sujeito em chove muito continuará a ser discutível, tal como a ambiguidade se manterá nas formas vende-se casas e vendem-se casas. Já agora, não compro a classificação de ladrar como verbo unipessoal: isso impedir-me-ia de escrever ladras mas não mordes, e pode apetecer-me. Para lá dos exemplos contidos no documento, os professores e autores de manuais enfrentarão um oceano de dúvidas. Estas terminologias são claramente coisa para adultos e mesmo assim não devem ser impostas sem consentimento mútuo (sim, estou a repetir-me).

Como tudo isto poderia ser pouco, introduz-se ao mesmo tempo o acordo ortográfico. O novo acordo ortográfico com o grande Brasil em fundo dá imenso jeito para escrever sms. Poupam-se uns cês de vez em quando. Mas não foi suficientemente longe. Porquê escrever para em vez de pra? Poupava-se um a (que só os afetados pronunciam) e desaparecia a ambiguidade com a homónima pertencente ao verbo parar. Telefone pode passar a tfone e vizinho a vzinho, porque na região de Lisboa, onde estão os que fazem os acordos, ninguém pronuncia as vogais.  É tempo de simplificar a grafia do acento e escrever ahquele, ou ah, que é de teclagem mais simples, tipo pah. Abandone-se essa mariquice do acento grave, que só a três palavras convém.

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