Uma questão pelo menos tão interessante como a possível realidade do "aquecimento global" (ou mais modestamente "alterações climáticas"), ou o crédito que merecerá ou não o alarme montado em seu torno, é: porque será que as pessoas que alinham politicamente à "esquerda" tendem mais provavelmente a aderir à atitude alarmista do que as pessoas que se colocam à "direita", entre as quais haverá talvez maior número das que dão crédito aos mais prudentes e cépticos?
Está fora de causa que a adesão a uma ou outra linha se faça com base racional. A crença na teoria apocalíptica está, aparentemente, legitimada pela ciência; mas não é de agora que a ciência está dividida sobre o assunto, e depois do que se sabe há uns dias as dúvidas podem também ficar igualmente legitimadas. Certo é que o grande público não vai examinar os dados e a complexa literatura disponível, dada a tecnicidade da questão. Portanto, adere por uma questão de fé, ou não adere por outra razão qualquer.
As pessoas que aderem fazem-no por uma atitude política com cambiantes religiosos subjacentes. O "aquecimento global antropogénico" é um conceito de sucesso: não só proporciona uma oportunidade para execrar o capitalismo e culpar a civilização pelas desgraças do clima (muito à custa do CO2, veremos até quando) como ainda permite exibir sentimentos altruistas (sinceros da parte de muitos), tipo os mais pobres é que vão sofrer mais se não actuarmos rapidamente. (Os mais pobres, de resto, ficam lixados de qualquer maneira.)
Os que apoiam a facção céptica fazem-no por motivos mais prosaicos, também políticos mas menos religiosos: desconfiam de que valha a pena o gigantesco dispêndio que se anuncia para fazer face a uma ameaça duvidosa e vêem na manobra uma extorsão aos estados e destes aos cidadãos, através da oportunidade para criar novos impostos e novas medidas de controlo das vidas particulares. Pragmaticamente, também os pobrezinhos estão em pano de fundo: o corte no crescimento económico seria ele próprio uma catástrofe não desprezável.
É também interessante notar que com o advento da Climastrologia estamos perante um novo paradigma do uso da ciência ou seja o que for que se faz passar por ela. Saltou-se do ofício intelectual de compreender o funcionamento do mundo real e, naturalmente, prevê-lo, para a tentativa de impôr um modelo que tem muito de especulativo com motivações políticas numa escala nunca antes vista.
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