quinta-feira, setembro 1

A síndrome da Rolling Stone

1. A Rolling Stone publicou ontem a lista dos “500 melhores” albuns. Constato surpreendido que, apesar de ter deixado de seguir com atenção o género de música em causa há mais de 30 anos, nas primeiras dezenas de classificados, e em muitos outros lugares da lista consultados ao acaso, encontram-se LPs editados nos anos 60 e 70, que conheci e escutei naquele tempo. Publicando-se cada vez mais música de todos os géneros, parece-me que é enviesado afirmar que não surgiu nada melhor, digamos, nos últimos 10 anos. Tenho, aliás, a impressão contrária. Não me dei ao trabalho de ver como foi elaborada a lista, mas deduzo que os votantes são velhotes com o gosto congelado nos produtos dos anos 70.

2. O espectáculo da campanha para as presidenciais, já teve dois pontos altos: o da tristeza da candidatura semi-abortada de Alegre e o do alegre e animado anúncio de Soares. Alegre pensa que é alternativa a Soares, mas não me lembro de ele ter explicado onde estão as diferenças. Só me lembro de relatos sobre afectos magoados e traídos.
Quem se lembra de alguma posição política de Alegre distinta das de Soares? Soares afirma ter aprendido imenso nos últimos dez anos. Não duvido. Além disso tem vindo, quem sabe se conscientemente, a posicionar-se, ao adoptar uma postura mais à esquerda do que as que lhe conhecíamos, para esfarelar qualquer veleidade de outra candidatura na área. Alguns dizem que ele nem teve a delicadeza de mencionar Alegre. Não é assim: ele disse explicitamente que tinha avançado por constatar o vazio. Que petulância, arrogar-se a capacidade de competir nestes palcos; já teve a vice-presidência da A.R., esse prestigioso pilar da soberania, que mais quer a irrisória criatura? pensou, talvez.

De política propriamente dita Alegre disse quase nada e Soares enunciou generalidades politicamente correctas (com humor pelo meio, reconheça-se) e politicamente perigosas.

Alegre, Soares. Sem prejuízo de lhes reconhecer méritos, tanto um como outro parecem ter o pensamento político congelado no tal mundo dos anos 70. (Para não mencionar Jerónimo, é claro.) Não é normal que naquela área não tenha surgido nada de novo, para melhor. Alegre, Soares, Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band: é a síndrome da Rolling Stone.

6 comentários:

António Araújo disse...

Caro Lino,
eu até comentava, mas estou perfeitamente viciado em "Venus in Furs" dos Velvet Underground circa 1969. Estou a gastar o CD de tanto usar o repeat, e como não sou um velhote empedernido, já não sei o que pensar....:)

Orlando disse...

Toda o lado direito gosta imenso do Alegre porque ele ia perder. Do Soares, gostam menos. Ele têm o hábito embirrento de ganhar:)
Não se deve dar uma ajuda a organizar o outro lado.

Cada macaco no seu galho:)

Do Cavaco só digo que não o aguento nem com pastilhas Rennie.

Orlando disse...

Lá por não escreveres no Prozac não te safas da polémica:)

Eu e o OMWO também podemos publicar aqui umas coisas?

Somos acusados todos os dias de estar do lado direito:)

raiva disse...

Alegre é igual a Soares, mas pior porque politicamente irrelevante. É o tal vazio de q falou Soares.

Acho que a candidatura de Soares é do piorzinho q nos podia acontecer, porque creio que pode ganhar, e aí sim, junto com este governo é o regresso ao Sargent Pepper.

lino disse...

omwo: há mais música para cá dos velvet. Já ouviste isto? (por acaso é um pouco "retro")
http://www.epinions.com/musc_mu-298188

on, omwo e quem quer que seja: se quiserem polemicar aqui façam o favor de enviar para
lino_reis@universia.pt
e eu posto à medida que o tempo não me faltar.

António Araújo disse...

Olá Lino, obrigado pela dica. Não conhecia, vou espreitar :)